Cineavante

Luzes, câmara, revolução

António Santos

Pelo sexto ano consecutivo, a sétima arte teve lugar cativo na Festa do Avante! com uma programação de apurada sensibilidade artística que voltou a afirmar o Cineavante como um marco indelével no circuito do cinema português. Com uma forte aposta nos trabalhos nacionais que marcaram o ano, como Alentejo, Alentejo, de Sérgio Tréfaut, Pára-me de Repente o Pensamento, de Jorge Pelicano, Os Maias, de João Botelho, ou Os Gatos não têm Vertigens, de António-Pedro Vasconcelos, o Cineavante não esqueceu o centenário de Manuel Guimarães nem a monumental herança de Manoel de Oliveira. Entre os 18 filmes que couberam na sala mais escura da Festa, houve espaço para lutar pela habitação, com Othon, de Guillaume Pazat e Martim Ramos; para sorrir com sonhos adolescentes com VideoClube, de Ana Almeida, e para homenagear os povos que derrubaram o nazi-fascismo, com Vem e Vê, de Elem Klimov. A festa do cinema dentro da Festa da classe trabalhadora é, simultaneamente, tão bonita e tão urgente que nos ajuda a perceber porque disse uma vez Lénine que «para nós, o cinema é, entre todas, a arte mais importante».

«A imensa diversidade da Festa continua dentro do Cineavante: da ficção ao documentário, passando pela animação, nesta sala de cinema confluem diferentes gerações, estilos e géneros para criar um ambiente que reúne duas condições essenciais à actividade artística, a liberdade e a criatividade», explicou ao Avante! Nuno Franco, um dos responsáveis pela organização da mostra.

Programação calorosa

Opinião semelhante partilha Sérgio Tréfaut, que marcou presença na apresentação de Alentejo, Alentejo, uma viagem musical pela voz de um povo que trabalha e canta e que venceu o prémio de melhor filme português no IndieLisboa 2014.

«É uma programação muito generosa, muito calorosa», disse o realizador, confessando-se emocionado com a reacção do público: «as pessoas estavam muito emocionadas. Saíam da sala em lágrimas. O Alentejo, Alentejo é um filme muito ligado à luta pela dignidade, à luta pela justiça, então estava na cara do espaço», concluiu.

Para Nuno Franco, o contacto directo entre público e realizadores, entre os quais também se destacam António-Pedro Pedro Vasconcellos, Ana Almeida, Fernando Galrito e Jorge Pelicano, é, por outro lado, um indício do crescimento da mostra de cinema na Festa.

Cada vez maior

«Sentimos o reconhecimento do Cineavante nessa primeira abordagem aos realizadores que queremos convidar. Os realizadores conhecem-nos e têm muito interesse em participar. Temos vivido um processo de crescimento e afirmação que se nota logo quando abrimos às 11 da manhã e temos a sala cheia», continuou Nuno Franco. «Os visitantes também sabem que há cinema na Festa e cada ano chegam em maior número.»

Com efeito, não foram raras as exibições a lotar a sala. Malgrado uma ampliação do espaço, em 2013, o cinema da Festa foi pequeno para o público que quis conhecer o filme soviético Vem e Vê, de Elem Klimov, uma duríssima e magistral lição de História, que, assinalando o 70.º aniversário da derrota da tropas hitlerianas, nos leva à União Soviética ocupada pelas hordas fascistas para acompanhar o crescimento e envelhecimento de Flyora, um adolescente privado da adolescência pela barbárie nazi.

Noutro registo, entre os filmes mais procurados pelos visitantes, merecem destaque Os Gatos não têm Vertigens, de António-Pedro Vasconcelos, a história de um adolescente que foge de casa para se encontrar a si mesmo num improvável terraço de Lisboa e O Menino e o Mundo, de Alê Abreu, uma bela animação sobre a viagem de um menino por uma estranha terra povoada por monstros e máquinas.

Mostra de como pode ser o cinema e a arte

«A qualidade e a diversidade artísticas do Cineavante mostram o potencial dos nossos criadores e a justeza das propostas do Partido para investir no cinema nacional», defendeu Nuno Franco, pois «quando as pessoas têm a possibilidade de ver arte com qualidade, aderem», rematou.

E se o pulsar da Festa diz muito, na fraternidade e na alegria, sobre o projecto do PCP para Portugal, o Cinevante também revela como poderiam ser mais salas de cinema portuguesas, se as artes estivessem realmente ao serviço do povo.

 



Mais artigos de: Festa do Avante!

Aqui, onde é fértil o chão da luta

O sol fez caretas, o vento soprou nuvens e o mais que encontrou pelo caminho, e como sempre sucede no que se refere ao tempo as opiniões dividiram-se, lamentando uns os agasalhos esquecidos, exultando outros com o festival de bandeiras ondulantes – é bom para as...

Confiança para a batalha das legislativas

Uma saudação fraternal a todos vós, uma saudação em particular à JCP e à juventude que aqui estiveram na construção, que aqui estão participando à vossa maneira o que em si mesmo significa que a Festa do Avante! tem futuro!   Abertas as portas desta 39.ª edição permitam-me que releve essa...

Alternativa justa<br>urgente e possível

A afirmação da justeza, necessidade e possibilidade de concretizar a política alternativa patriótica e de esquerda que o PCP propõe ao povo português esteve, este ano, em realce no Espaço Central. A exactamente um mês das...

Diferentes na forma e no conteúdo

Explicar os eixos centrais da política patriótica e de esquerda que o PCP propõe e os caminhos a trilhar para a sua concretização foram os objectivos do debate que se realizou domingo à tarde no Fórum, intitulado Política...

História e muito futuro

Para além da grande exposição política, no Espaço Central foram evocados acontecimentos e realizações que marcaram de forma indelével a história do Partido, do País e do mundo, com repercussões na actualidade e no...

Para o ano, a Festa chega ao Cabo

Esta foi a última Festa do Avante! realizada apenas na Quinta da Atalaia. Para o ano, na 40.ª edição, ela realizar-se-à também na Quinta do Cabo, culminando-se assim um percurso iniciado no ano passado, quando Jerónimo de Sousa anunciou a...

Trabalho é questão central

O tema do debate de sábado à noite, no Fórum, «Valorizar o trabalho e os trabalhadores», constitui uma questão central da situação do País, da política dos últimos anos e da alternativa de que o País precisa, e...

Pôr cobro ao saque

Um filão gigantesco para os grandes grupos económicos e um elemento chave no processo de reconstituição do capitalismo monopolista – assim têm sido as privatizações, com prejuízos incalculáveis para o País. Pôr...

Segurança Social, Saúde e Ensino

Duas ideias-chave: primeira, nenhum sistema de Segurança Social como o nosso – público, solidário e universal – é sustentável com a política de direita, porque esta assenta em baixos salários, precariedade, desemprego (tudo...

Soberania nas mãos do povo

Com os debates «Portugal soberano numa Europa dos povos», no Fórum, e «TTIP – Uma ameaça contra os trabalhadores e os povos», a independência nacional e a liberdade de cada povo escolher o seu rumo de desenvolvimento, colocadas em causa pela...

Contra o imperialismo e a guerra

Contra a estratégia do imperialismo – lutar pela paz foi o mote de um animado debate, realizado no sábado à tarde no espaço «À conversa com...», em que participaram o membro da Comissão Política Carlos Gonçalves e Ilda...

Cultura ao serviço do povo

A Cultura, componente indissociável da democracia avançada que o PCP defende, esteve em debate no sábado, no espaço «À Conversa com...», em que participaram Jorge Feliciano, José António Gomes e Manuel Pires da Rocha. É...

Outro modo de ver a arte

A grande diferença entre a Bienal da Festa do Avante! e as bienais de artes que se realizam por todo o mundo é a da Festa do Avante! se excluir da órbita do capitalismo cultural, em que as bienais, feiras de arte e variantes se inscrevem, que é dominado pelos...

Um País a construir o futuro

Com a Festa a um mês das eleições legislativas, os espaços das organizações regionais não deixaram de sublinhar as consequências destrutivas da política de direita e a necessidade de concretizar uma política...

Outros espaços

Como de costume, a animação e a brincadeira reinavam no Espaço Criança, com a miudagem muito entretida em correrias, nos balancés, escorregas e demais apetrechos do parque infantil, e com alguns pais a participar nas aventuras. Outros mostravam-se mais...

Uma Cidade maior e mais bonita

Construída de raiz nos últimos três meses com o esforço militante de centenas de jovens comunistas e amigos da JCP, a Cidade da Juventude apresentou-se este ano maior, tanto em espaço como em altura. Privilegiou-se os espaços amplos e foi apresentada...

É preciso fazer ouvir a nossa voz

Sem ingenuidades, pode dizer-se que a grande novidade seria, se por acaso tal ocorresse – hipótese tão remota que quase se poderia dizer do domínio da ficção – a grande novidade, repete-se, seria se a Festa do Avante! fosse tratada na generalidade...

A verdadeira opção<br>é o voto na CDU

É com uma imensa alegria que vos saudamos a todos os que, com a sua presença, fazem desta Festa do Avante! a grande Festa de Abril, aos construtores, participantes e convidados, representantes das delegações internacionais, aos nossos amigos do Partido Ecologista...

Podem contar com a nossa luta

Cá estamos de novo na Festa do Avante! Esta Festa, que apesar da situação difícil que os trabalhadores e o povo continuam a viver, apesar dos efeitos desastrosos de anos e anos de política de direita, apesar da agressividade do imperialismo contra a...

A nossa chama é cada vez mais forte

Viva a festa que a todos pertence, e onde se respira a liberdade, a solidariedade, a camaradagem e a amizade. Daqui saudamos todos aqueles que ergueram a Festa. Saudamos as centenas de jovens, entre eles dezenas de amigos da JCP, que passaram pela Quinta da Atalaia e ajudaram a construir a...

Os povos têm a palavra

Os povos são os protagonistas de uma história feita de rupturas e cujo motor é a luta de classes antagónicas. O bê-á-bá ocorreu-me ao percorrer o Espaço Internacional, cuja consigna apelava à solidariedade anti-imperialista por...

A guerra não é inevitável

O perigo de uma nova guerra mundial nos nossos dias não deve ser subestimado. Mas a guerra não é inevitável: a par dos perigos para a paz e a liberdade dos povos, há forças que, se unidas e mobilizadas, podem forçar o imperialismo a recuar....

«Continuaremos a lutar»

«Não nos renderemos, não desistiremos, continuaremos a lutar. Podem destruir as nossas casas e universidades, podem arrancar as árvores, mas não destruirão o espírito de luta». A garantia foi deixada por Maher Eltaher, da Frente Popular de...

Libertação nacional <br>festejou os 40 anos

O PCP comemorou na Festa do Avante! o 40.º aniversário da libertação nacional de Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e S. Tomé e Príncipe. No Espaço Internacional, no sábado à tarde, decorreu um momento...

Lições de um triunfo

Os 40 anos da vitória do Vietname sobre a agressão do imperialismo norte-americano foram evocados domingo, 6, pelas 15h00, no Café-Concerto de Lisboa. No acto de comemoração coube a Albano Nunes, do Secretariado do Comité Central, sublinhar a importância da iniciativa,...

Expressão do internacionalismo

Os Momentos de Solidariedade que ocorrem na Festa do Avante! traduzem a solidariedade internacionalista, característica e prática do PCP na sua actividade quotidiana. Não é possível dissocia-los do Partido que somos e só considerando esse facto se...

Cuba vencerá

Gerardo Hernández esteve na Festa do Avante! e a sua presença teve forte impacto. Como aliás não podia deixar de ser, tratando-se de um dos Cinco patriotas cubanos presos nos EUA e devolvido à liberdade pela força da luta e da solidariedade. Muitos...

Palavras sem barreiras

No sábado, «A Carvalhesa», portadora de uma energia inexplicável, libertadora dos sentimentos mais puros, chamou para o Palco 25 de Abril muitos milhares de pessoas. Foram momentos inesquecíveis, que se repetiram por diversas vezes. A primeira...

A grande música que foi ao cinema

«Aqui é quando entram os maus!», comentava um jovem para a sua parceira, ambos ouvintes atentos de um trecho da banda sonora de Guerra das Estrelas, composta por John Williams, que estava a ser (magnificamente) interpretado pela Orquestra Sinfonietta de Lisboa na abertura...

Volta ao mundo em três dias

À entrada do Auditório 1.º de Maio, junto ao lago, lia-se: «PCP, liberdade, democracia, socialismo. Um projecto de futuro». O programa do espaço ultrapassou todas as expectativas, cumprindo uma diversificação musical sem paralelo.  Sexta...

Dentro da Festa, falar de livros<br>para entender a vida

Uma Feira do Livro remoçada, eis a novidade que, também neste sector, a nossa Festa quis cumprir. A um espaço mais «arrumado», juntou-se este ano uma zona inteiramente dedicado aos leitores mais jovens, onde puderam desenhar, ouvir estórias e folhear...

Um certo modo de fazer teatro

À primeira vista, a relação entre a reforma agrária e a produção cultural não é evidente. À primeira vista, nem mesmo o facto de a heróica ocupação de terras no Alentejo e Ribatejo se ter iniciado em 1975 (há 40 anos portanto),...

Da luz o conhecimento<br>a participação e o futuro

Os milhares de visitantes do Espaço Ciência encontraram um amplo programa concebido para mostrar e dar a conhecer a luz como efeito e como causa desde as ciências naturais às ciências físicas. Neste ano proclamado como o Ano Internacional da Luz pela...

Três dias de Festa<br>três dias de desporto

O sport é a revelação do corpo humanona sua imitação da alma na ambição de conquistar.O corpo conquista o que a alma deseja: issoé o amor; a alma conquista o que o corpodeseja, isso é o outro amor. Mas no sport o corpoconquista o...

Os Fotógrafos da Festa

Ana Pereira Ângela Bordalo Carlos Morganho Fernando Teixeira Inês Seixas Jaime Carita João Casanova Jorge Cabral Jorge Caria José Baguinho José Branco José...