Caminhos

João Frazão (Membro da Comissão Política)

Agora que as eleições legislativas estão marcadas, ficam cada vez mais claros, pelos discursos dos principais protagonistas da política de direita, os caminhos que estão em causa nesse importante momento da vida nacional.

A estabilidade de PS, PSD e CDS é a instabilidade de milhões

Cavaco, Passos e Costa apregoam o caminho da estabilidade. Diz Passos que a estabilidade reclama maioria absoluta, para que este Governo possa prosseguir a correcção dos graves erros do governo anterior, com a aplicação à risca das indicações vindas da Europa, designadamente cumprindo o Tratado Orçamental. Responde Costa que precisa da maioria absoluta para, no quadro da famosa alternância, garantir que, aplicando o Tratado Orçamental, ainda que de forma inteligente, cumprindo de forma fiel as indicações que venham da União Europeia, o País toma outro rumo.

Logo Cavaco entra à liça para lembrar que, por essa Europa fora, o que mais há é estabilidade, enumerando os governos que dispõem da dita maioria. Todos ao mesmo, apelos não faltam e até já os ouvimos dizer que a maioria absoluta é boa, nem que seja do partido do outro.

Com esta cantilena, em que é visível o empenhamento dos comentadores do costume que se desdobram em explicações sobre os méritos e vantagens deste desígnio, pretendem atingir, cada qual à sua maneira e com diferentes abordagens, um só objectivo: prosseguir o caminho, depois de 4 de Outubro, da política de desastre nacional de empobrecimento e de agravamento da exploração, ao serviço do grande capital.

A estratégia de PSD e CDS é tudo fazer para criar a ilusão de que no seu caminho pode ainda estar a vitória, ainda que apenas lhes falte saber a dimensão da derrota que, tendo sido construída pela luta popular, se torna inevitável e tanto mais próxima quanto mais próximas estão as eleições. Derrota de que as sondagens, ao contrário das parangonas dos jornais, seja qual for o ângulo por que se apreciem, vão dando também sinais, vaticinando um dos piores resultados de sempre para os coligados de ocasião.

Já o PS, escondido atrás do caminho da mudança, procura explorar, ao mesmo tempo, esse desejo legítimo de largas camadas dos atingidos ao longo dos últimos anos pela política de direita e o receio de verem perpetuados no poder os seus mais recentes executores. Para tanto, abusa do apelo ao chamado voto útil, escondendo que esse voto, muito útil, sem dúvida, para os objectivos do PS de ascensão ao poder, é completamente inútil para quem vota, uma vez que será usado para perpetuar a política que com ele se quer afastar.

É certo ainda que Cavaco faz já cálculos à rejeição generalizada a tais opções e, à cautela, vai preparando o caminho para eventuais necessidades que envolvam os três partidos do arco da velha política.

 

Acção sem paralelo

 

Uns e outros procuram menorizar o nosso Partido, remetendo-nos para o estatuto da inutilidade. Temerosos do crescente prestígio e influência do PCP e da CDU, incomodados com as mobilizações que, semana após semana, vamos conseguindo, de que a Marcha Nacional «A Força do Povo» foi um magnífico sinal, procuram desvalorizar o significado das centenas de iniciativas que levamos a cabo de Norte a Sul, contactando as populações, auscultando os seus problemas e aspirações, sublinhando o património de intervenção na Assembleia da República e fora dela, com milhares de perguntas, centenas de projectos-lei, intervenções, visitas e reuniões, numa acção sem paralelo nas instituições nacionais.

No final, voltamos sempre ao mesmo. O capital, de quem os sucessivos governos têm sido fieis administradores de interesses, procurará os caminhos que lhe parecerem mais garantidos à defesa dos seus interesses. Falam de estabilidade política, utilizando esse conceito como biombo para esconder a instabilidade na vida de milhões de portugueses que todos os períodos de maiorias – de um só partido, PSD ou PS, ou de vários partidos, PS/PSD, PS/CDS, PSD/CDS – significaram. Falam de maiorias absolutas para procurar iludir que o que pretendem é o poder absoluto, para não serem questionados no rumo a que decidiram amarrar-se.

Por estes dias, a ofensiva política e ideológica sobre os trabalhadores e o povo agudizar-se-á. Todas as armas serão legítimas (entendem eles) para percorrerem os caminhos que traçaram há muito. Caminhos que afrontam os valores de Abril, a Constituição da República Portuguesa e a independência e a soberania nacionais e que põem em causa o nosso futuro colectivo.

Também por isso, nesses caminhos não se encontram os comunistas, as propostas alternativas e as soluções para o País que a política patriótica e de esquerda comportam.

Em sentido contrário, os caminhos dos comunistas e dos seus aliados da CDU, cruzam-se, isso sim, com a ruptura de que o País precisa, para cuja concretização o PCP reafirma a sua inteira disponibilidade, assumindo para tanto todas as responsabilidades que o povo português nos queira atribuir.

 



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