O saque
Para se perceber o saque a que o País está a ser sujeito, é preciso ter bem presente que neste saque, havendo saqueadores individuais, e havendo facilitadores individuais, encontramos no essencial um processo colectivo, de classe, executado ao serviço de uma classe pelos lacaios dessa classe.
Não é um homem que desvia, ou um outro que ilegitimamente se apropria de algo que não é seu. Isso ofenderia o sacrossanto direito à propriedade privada burguesa. Estamos perante a criação de propriedade privada, um processo de expropriação das amplas massas pela classe dominante, num roubo por esse domínio legalizado, o que implica fazer as leis que o legitimem e montar as entidades que o regulam.
A pressa com que este Governo está a tentar concretizar as privatizações nos transportes – e a elevada resistência que enfrenta – teve a vantagem de expor alguns destes mecanismos, e não é por acaso que a verdadeira promessa do PS é fazer melhor estas privatizações.
Quando o governo nomeia para a ANAC (Autoridade Nacional da Aviação Civil) um homem vindo da administração da principal empresa privada a «regular» – a ANA – fica mais evidente que estas entidades não regulam nada, são cúmplices da apropriação privada.
Quando a ANAC disser que Humberto Pedrosa não é o que já toda a gente sabe que é – um testa de ferro de David Neelman – e que as directivas europeias estão a ser cumpridas, ficará também mais evidente que estas directivas apenas reagem à violação dos interesses das multinacionais.
Quando o Governo aceita pagar 419 milhões ao subconcessionário do Metro do Porto, ou 1045 milhões ao de Lisboa, quando aceita «vender» a CP Carga por dois milhões depois de a capitalizar com mais de 100 milhões, o que fica mais evidente é a transferência de recursos públicos para o grande capital.
Quando o Governo vende o maior exportador nacional – a TAP, com mais de dois mil milhões de vendas anuais – por menos do que o valor das ajudas públicas dadas à Autoeuropa em nome do estímulo às exportações, o que fica mais evidente é que apoiar o capital é o objectivo destas políticas e não as falsas e belas justificações usadas.
E, como processo colectivo e de classe que é, o saque vai continuar, indiferente às rotações no poder entre PS, PSD e CDS e às promessas eleitorais que façam.
Até que...