Uma mentira eleitoral

Vasco Cardoso

O domínio do aparelho Estado, o apoio da comunicação social, o suporte dos grupos económicos a quem servem, leva a que, por vezes, os protagonistas da política de direita possam fazer cálculos e tomar opções em que o tiro também sai pela culatra.

O recente anúncio de uma suposta devolução aos «contribuintes» de uma ínfima parte da chamada Sobretaxa (IRS) – que constituiu nestes últimos anos um dos muitos roubos que foi imposto aos trabalhadores e reformados – transformou-se numa miserável manobra de propaganda eleitoral por parte do Governo que, de tão descarada, mais do que enganar uns poucos, tornou evidente perante muitos que é na base da mentira que o PSD/CDS e todos quantos estão comprometidos com a política de direita, intervêm.

Concebida como operação mediática, com direito a declarações de governantes, a um Presidente da República a proclamar «boas notícias», a aberturas de noticiários, a simulações e cálculos, ela teve o intuito de pôr os portugueses a fazer contas, a darem lastro a esse outro embuste da «retoma económica» que tanto anunciam mas que ninguém vê, tendo por objectivo caçar uns votos.

Ora acontece que rapidamente se percebeu que a dita «devolução» estava condicionada à arrecadação de outras receitas fiscais cobradas na sua maioria aos mesmos; que as projecções anunciadas quanto ao desempenho fiscal deste ano que permitira «devolver» os tais 100 milhões da dita sobretaxa estavam afinal empoladas; e, sobretudo, que a mesma decisão carece, como não poderia deixar de ser, da aprovação na Assembleia da República incluindo-a eventualmente no próximo Orçamento do Estado. Ou seja, um embuste!

No seu programa eleitoral, o PCP assume a eliminação no imediato da sobretaxa porque é injusta, porque é um roubo e porque, para satisfazer as necessidades do País, há outras possibilidades onde ir buscar dinheiro, designadamente aos lucros dos grupos económicos, à especulação financeira, à dinamização da actividade produtiva, à renegociação da dívida. É uma postura séria e coerente, mas também de ruptura com a política de exploração, empobrecimento e mentira. É uma postura que fala verdade e que recusa tomar o povo português por parvo. Mas uma coisa é certa, preparemo-nos para o que aí ainda vem...




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