A pancada
A promessa do Governo de «devolver» 19 por cento da sobretaxa do IRS/ano «se» (um condicional múltiplo – «se a colecta fiscal for o esperado», «se não houver surpresas» e etc. – é uma burla a mote, expondo como vai ser a lírica desta gente.
Na «devolução», é inacreditável como se tem o desplante de fazer uma promessa condicionada e publicitar concomitantemente «cálculos» que põem os cidadãos a bisbilhotar na Net ganhos quiméricos sobre os quais fazem planos (60 ou 70 euros a mais ou a menos fazem diferença à maioria dos portugueses, ao contrário de no quotidiano farto e chorudo da multidão que se repoltreia na pirâmide governamental).
É preciso gélida indiferença pelo País e pelas pessoas para se fazer uma promessa eleitoral cujo cumprimento se condiciona, mas para a qual se arranja um programa informático cuja consulta determina, preto no branco, quanto é que cada um vai «ganhar».
É o que se chama a demogogia em estado bruto.
Mas outras promessas incontinentes se desbridam do fojo governamental, como Pires de Lima a solenizar (que é o seu estado natural) «um novo aumento do salário mínimo» no início do próximo ano, Paulo Portas a «bombar» «aforros» como um pote de ouro na ponta do arco-íris (que julga ser ele próprio), ou a ministra das Finanças a admitir que a tal «devolução» dos 19 por cento «até pode ser maior» se «as projecções» (novo sinónimo de «previsões») se confirmarem.
É mentir sem escrúpulos nem freio, e ainda agora o circuito eleitoral começa a levantar pó.
A mentira desbragada tem um compagnon de route já evidente, na propaganda da coligação de direita: é ignorar completamente o gigantesco desastre que a sua governação impôs ao povo e ao País, substituí-lo por uma delirante «saída da crise» e o decorrente «bombar da nação», cujo desenvolvimento está aí para as curvas, albardando o PS com o ónus de «ter lançado o País na bancarrota» e «forçado o País a sacrifícios»... impostos por esta coligação, mas de que pretende fugir por entre os pingos da chuva.
Claro que o PS de António Costa floreia uns protestos, recordando que o Catroga do PSD se gabava de terem sido eles «a negociar o resgate» e esquecendo o essencial da questão: é que foram os governos PS/Sócrates a aprofundar o desastre vertiginoso com a política dos PEC e os cortes generalizados em pensões, salários e serviços sociais na Saúde e no Ensino, tendo assinado os termos do resgate da troika e o «pacto de estabilidade» que colocou o País nas mãos de quem manda no Eurogrupo e na UE.
É isso que o PS/Costa não quer assumir, porque o que realmente assume é a continuação desta política desastrosa e sem saída... mas praticada «de modo inteligente».
Estas duas faces da mesma moeda continuam a pensar que o povo é estúpido.
Esperem-lhe pela pancada.