… à barriga da mãe
O destacamento avançado da troika aterrou em Atenas para verificar «in loco» que tudo segue como por si determinado para começar a «negociar» o terceiro memorando. Entretanto «os mercados» parecem ter «desligado» da Grécia. Com o aproximar do dia 20 de Agosto eles voltarão a «ligar» para ajudar a novas ondas de pressão e chantagem e o BCE lá estará outra vez a repetir o seu papel de carrasco financeiro ao serviço do capital financeiro, da Alemanha e do directório de potências.
Entretanto, e como temos vindo a afirmar, o caso grego demonstrou a profundidade da crise na e da União Europeia e a sua rota de colisão com os interesses e aspirações dos povos. As recentes declarações de Hollande, e a sua intenção de estabelecer um núcleo de 6+1 países dentro do euro (e portanto dentro da União Europeia) dizem bem dos «danos» do caso grego e do pântano em que está mergulhado o processo de integração. Limpe-se o discurso de Hollande de «europês» e a conclusão é clarinha como a água: o homem que ia mudar a Europa (lembram-se?), o «amigo» do povo grego (como chegou a ser apelidado no hipócrita papel de «polícia bom») acaba de propor uma radical política de concentração de poder num directório de seis potências (à qual «permite» que se associe a Espanha) no seio do qual estas dirimem as sua contradições e através do qual impõem a todos os outros estados da UE os seus interesses e ditames.
Mas esta proposta não significa novidade, criatividade e muito menos afirmação de poder. Pelo contrário, demonstra a profunda fragilidade que se esconde por detrás da sua arrogância e do seu desprezo pela democracia e pela soberania. É natural que assim seja, a escalada de concentração de poder é perigosa para os povos, mas aprofunda também as contradições do processo, demonstrando que este não é reformável. O que Hollande acabou de fazer foi reconhecer que a forma de «salvar» o euro é aprofundar ainda mais as políticas de domínio económico e político. E para tal vale tudo, inclusive rever regras e tratados (os tais intocáveis). No fundo o que Hollande está a tentar fazer é inverter o cortejo fúnebre da integração capitalista na Europa, fazendo regressar a UE à barriga da mãe – ou seja o grande capital e as seis potências capitalistas que a pariram.