Voto sobre o «aniversário da queda do muro de Berlim»
O Parlamento aprovou dia 21 um voto apresentado por PS, PSD e CDS de «Congratulação pelo 25.º Aniversário da Queda do Muro de Berlim». O texto obteve o voto favorável dos seus subscritores, o voto contra do PCP e a abstenção do PEV e BE.
No texto evoca-se figuras como João Paulo II, Gorbachev, Walesa, Reagan, Kohl, Brandt, Thacher e Mitterand, elevando-os à categoria de «personalidades notáveis», e a quem é reconhecido pelos autores do voto «um extraordinário contributo» para aquilo que designam de «derrota de uma determinada visão do mundo».
A anteceder a votação, definindo posições, CDS-PP, PSD e PS pautaram o discurso pela mesma perspectiva parcial e maniqueísta que perpassa o voto. O BE achou também por bem saudar «os 25 anos da queda do muro de Berlim», bem como «todos aqueles que lutaram tantos anos» por isso, argumentando que «o socialismo ou tem democracia ou não é socialismo».
Carla Cruz, em nome da bancada comunista, interpretou o voto como «mais uma tentativa para reescrever a história e branquear a realidade actual», lembrando que o mundo está hoje não só «mais injusto» como «mais perigoso».
É essa intervenção que reflecte a posição do PCP que transcrevemos de seguida na íntegra:
O voto apresentado por PS, PSD e CDS- PP é mais uma tentativa para reescrever a história e branquear a realidade actual.
Há 25 anos propagandearam que vinha aí o reino da paz e da prosperidade universal.
Nestes 25 anos a vida e a realidade desmente de forma cabal e categórica a propaganda então feita do progresso e da abundância, do respeito pelos direitos humanos e a paz.
Nestes 25 anos construiu-se uma Europa e, particularmente a UE, mais desigual, mais injusta, marcada por uma violenta ofensiva exploradora contra os trabalhadores. Ofensiva que ameaça os povos europeus e os trabalhadores com uma regressão social de dimensão civilizacional.
Hoje na Europa, nomeadamente na UE, nega-se aos povos e aos trabalhadores a protecção social, voltaram a sentar-se à mesa a fome e a miséria.
Hoje na Europa e, especialmente, na UE, há milhões de trabalhadores a quem é negado o direito ao trabalho.
Nestes 25 anos, contrariamente, ao que propalam os proponentes deste voto, não houve mais prosperidade e maior justiça na redistribuição da riqueza. O mundo está mais injusto e perigoso!
Hoje 0,7% da população mundial detém 44% da riqueza mundial.
O mundo e a Europa não estão mais seguros. Basta olharmos para os avanços e as investidas que os Estados Unidos e os seus aliados – NATO - têm feito, as agressões e guerras, a ocupação e destruição de países, os milhões de mortos, a promoção de organizações fascistas e xenófobas, o sofrimento imposto a povos inteiros para contrariar a tese acima enunciada.
A evolução da situação na Europa, e, muito especialmente, na União Europeia, nos últimos 25 anos não confirma nenhuma das premissas, nem vaticínios feitos, antes pelo contrário, representa sérios retrocessos históricos e civilizacionais. Retrocessos que serão travados com a luta dos trabalhadores e dos povos. Luta que os libertará das cadeias da exploração e opressão, que garantirá de facto a liberdade, a democracia, o progresso social e o socialismo.