O vulcão
Enquanto a Via Crucis do Pretório ao Calvário foi sofrida em «15 Estações» (a última é a da «Ressurreição», já fora da «Via Sacra»), o calvário que o PS impôs ao País tem para aí umas 150 «estações» onde, monotonamente, os cidadãos vão sofrendo uma interminável pregação à desgarrada dos dois «candidatos a candidato a primeiro-ministro», fórmula pitoresca que António José Seguro engendrou para adiar o inevitável confronto com António Costa em congresso, o local estatutariamente determinado para dirimir lideranças.
Entretanto, o País continua a delir-se às mãos do Governo que, mesmo entrando em «modo de gestão» pelo dizer do chanceler «não irei fazer mais reformas» (como se tivesse feito alguma, além da catastrófica «reforma laboral»), o Executivo Pedro e Paulo vai martelando pregos no esquife de miséria onde querem atauxiar o País. E atacam cortando, diariamente, nos três serviços sociais nevrálgicos: a Saúde, a Educação e a Segurança Social.
Cortes às porções, resultantes da sangria lenta, programada e silenciosa dos recursos financeiros. Adjectivos a mais para tão fraca gente, que tão alarvemente se mostra imune ao sofrimento humano e social que espalham pelo País.
Mas a tragédia pulsa subterraneamente, em tensão piroclástica. O escândalo BES/GES, um monumento à procrastinação construído a várias mãos (Governo, PR, Presidentes do BdP e da CMVM), ainda nem chegou ao adro e continua «a empurrar com a barriga» (de todos os responsáveis) o esclarecimento da situação.
O desastre está em andamento e esta semana houve mais um afloramento sombrio: a demissão em bloco da gestão liderada por Vítor Bento, que há cerca de dois meses fora apresentada ao País como o milagre salvífico do Novo Banco, o «banco bom» do BES dividido em dois. Os boatos fervilham, ouve-se que a gestão Bento queria tempo para equilibrar o banco desfalcado e que o BdP se propõe vender tudo rapidamente, o Presidente da República prenunciou a crise ao sacudir a água do capote – em que é especialista – garantindo que tudo o que disse sobre o BES foi com base nas informações recebidas, ao que o Chanceler Coelho ripostou finamente que o sr. PR «teve toda a oportunidade de pedir as informações que entendesse», o BdP volta a nomear a mata-cavalos nova gestão, agora liderada por Eduardo Stock Cunha, a CT do Novo Banco inquieta-se e sugere que se nacionalize e se aproveite o seu know-how para o Banco dc Fomento recentemente criado, o PCP adverte para uma grande trapaça a pagar pelos portugueses e reclama a presença da ministra Luís Albuquerque na AR, a par dos protestos veementes da restante oposição.
O País repousa sobre um gigantesco vulcão, alimentado na captura do Estado pela alta finança. Os responsáveis políticos supra referidos parecem ignorar, pacatamente, a violência da explosão piroclástica que aí vem.