História mal contada
Questão que nas audições na AR não obteve resposta nem da ministra das Finanças nem do governador do Banco de Portugal é a que se refere ao descalabro completo do BES na bolsa entre quinta-feira (31 de Julho) e sexta-feira (1 de Agosto), dia em que as acções foram suspensas depois das 15 horas.
Miguel Tiago suscitou o tema lembrando que a «débâcle» ocorre na sequência da decisão do Governo de dividir o banco tomada um ou dois dias antes. O Conselho de Ministros faz um decreto-lei nessa quinta-feira e dá ao Banco de Portugal a capacidade de vender o BES a retalho.
Conhecedores da solução eram assim apenas o Banco de Portugal e o Governo. A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), essa, como aliás a própria afirma em nota divulgada dia 8, já na sequência da audição a Carlos Costa, nada sabia quanto à decisão tomada.
Ora acontece que entre a decisão governamental e a suspensão tardia decretada pela CMVM, em poucas horas, há uma queda a pique das acções, o que levanta a legítima questão de saber se não foi usada informação privilegiada na transacção dos títulos do BES.
Certo e sabido é que a circunstância de a CMVM não ter sido informada da situação e, em conformidade, retirado a tempo o BES do mercado – e este é um dos enigmas que continua por deslindar –, teve como consequência a perda de milhões de euros para muita gente, incluindo muitos idosos que foram convidados a aplicar as suas poupanças dessa forma.