Travar o desmantelamento
LUSA
Reagindo ao resultado da avaliação feita pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) às instituições científicas, avaliação necessária para que estas captem fundos para os próximos cinco anos, a deputada comunista Rita Rato qualificou-o de «inaceitável», questionando a credibilidade de um processo que significa à partida a «redução de 50% das unidades que são financiadas».
«Que raio de avaliação é esta que assume logo de início que é preciso destruir metade das unidades existentes?», inquiriu a deputada do PCP, para quem está em curso uma «política de desmantelamento do sistema científico e tecnológico nacional».
Esta posição foi expressa no Parlamento, sexta-feira, 25, no breve debate que antecedeu um voto de protesto do PS «contra os novos cortes no financiamento público da ciência», texto que a maioria governamental chumbou.
Maria José Castelo Branco (PSD) e Michael Seufert (CDS-PP) recusaram que haja desinvestimento na ciência, adiantando que, até 2020, no âmbito do Quadro Comunitário de Apoio, haverá mil milhões de euros de investimento da União Europeia.
«Depois de ouvirmos as intervenções do PSD e do CDS, só podemos concluir que qualquer semelhança com a realidade é pura ficção», ripostou a parlamentar do PCP.
A propósito do discurso inverosímil dos partidos que sustentam o Governo lembrou ainda que nesse mesmo dia, ouvido em comissão parlamentar, um responsável do Laboratório Nacional de Energia e Geologia alertava para o perigo do desmantelamento deste importante instrumento de política pública.
E não é verdade que não tenha havido redução do investimento público à investigação, como diz a maioria governamental. Rita Rato provou-o, recordando que entre 2011 e 2014 foram cortados 82 milhões de euros nos orçamentos do Estado. Só no orçamento de bolsas da FCT esse corte foi de 26 milhões de euros e no orçamento dos Laboratórios foram 30 milhões de euros, lembrou.
«Como é que impedir o funcionamento dessas instituições significa a sua valorização?», foi a pergunta deixada por Rita Rato, que deu exemplos das consequências nefastas desta opção do Governo como seja, por exemplo, a emigração forçada de muitos investigadores com um trabalho importante no País.
No mesmo dia em que houve este debate na AR o Conselho de Laboratórios Associados alertava os responsáveis políticos para «a confiança difícil de recuperar» da comunidade científica, perante a «tentativa de imposição» de um processo de avaliação «rejeitado por parte significativa» dos investigadores.