Inquérito parlamentar aos ENVC

Branquear e omitir

O PCP de­marcou-se em «as­pectos es­sen­ciais» das con­clu­sões pro­postas pela mai­oria PSD/​CDS-PP na co­missão par­la­mentar de inqué­rito aos Es­ta­leiros Na­vais de Viana do Cas­telo, por en­tender que não re­flectem as «pe­sadas res­pon­sa­bi­li­dades» a re­partir por go­vernos en­vol­vendo o PS, o PSD e o CDS-PP.

«O re­la­tório apre­sen­tado e as con­clu­sões dele cons­tantes não re­flectem os factos apu­rados ao longo dos tra­ba­lhos da co­missão, ocul­tando as­pectos fun­da­men­tais», con­si­derou a de­pu­tada co­mu­nista Carla Cruz, esta se­gunda-feira, 7, em con­fe­rência de im­prensa onde deu a co­nhecer as cerca de 70 pro­postas da sua ban­cada de al­te­ração e adi­ta­mento ao do­cu­mento.

Com estas pro­postas que foram en­tre­gues nesse mesmo dia aos de­mais mem­bros da co­missão, «ba­se­adas em factos ob­jec­tivos e em in­for­ma­ções re­co­lhidas ao longo do inqué­rito», a ban­cada co­mu­nista quis «deixar re­gis­tada a pe­sada res­pon­sa­bi­li­dade dos go­vernos e das su­ces­sivas ad­mi­nis­tra­ções dos ENVC por eles no­me­adas no pro­cesso que con­duziu ao des­man­te­la­mento da em­presa», ex­plicou a de­pu­tada do PCP.

Pre­vista para ontem es­tava en­tre­tanto a apre­ci­ação e vo­tação dessas pro­postas na co­missão par­la­mentar de inqué­rito, na sequência da reu­nião re­a­li­zada na vés­pera onde a re­la­tora ad­mitiu aceitar apenas al­gumas delas sus­cep­tí­veis de cla­ri­ficar o texto, re­jei­tando todas as que in­tro­du­ziam ques­tões subs­tan­tivas.

Entre essas pro­postas que o PCP pre­tendia in­cluir nas con­clu­sões, por en­tender que elas de­correm «cla­ra­mente dos tra­ba­lhos», está o «peso que a de­cisão de can­ce­la­mento das en­co­mendas para a Ma­rinha, o ar­ras­ta­mento sem exe­cução dos na­vios as­fal­teiros para a Ve­ne­zuela e o ina­cre­di­tável pro­cesso dos na­vios Atlân­dida e An­ti­ci­clone ti­veram como mo­tivos jus­ti­fi­ca­dores da de­cisão final de en­cer­ra­mento».

Ava­li­ando as con­clu­sões po­lí­ticas que constam do re­la­tório ela­bo­rado pela de­pu­tada do PSD Ângela Guerra, Carla Cruz, que es­tava acom­pa­nhada por An­tónio Fi­lipe, foi pe­remp­tória ao afirmar que o seu con­teúdo en­ferma de no­tória par­ci­a­li­dade. «Re­flectem a visão go­ver­na­men­ta­li­zada dos acon­te­ci­mentos que ro­de­aram a de­cisão de li­quidar os ENVC, bran­queiam a ac­tu­ação do Go­verno PSD/​CDS-PP e as­sumem o claro pro­pó­sito de pro­teger o de­sem­penho do mi­nistro da De­fesa Na­ci­onal neste pro­cesso», acusou a par­la­mentar do PCP.

Por si con­tes­tada com ve­e­mência é no­me­a­da­mente a afir­mação de que a li­qui­dação da em­presa era ine­vi­tável a partir de um facto que não existe – a de­cisão da Di­recção Geral da Con­cor­rência da Co­missão Eu­ro­peia re­la­tiva às ajudas do Es­tado. «É po­li­ti­ca­mente de­so­nesto e só en­ten­dível como uma forma de bran­quear e ilibar o Go­verno das suas res­pon­sa­bi­li­dades», sus­tentou Carla Cruz, muito crí­tica ainda quanto à ocul­tação nas con­clu­sões de que o Go­verno «não usou todos os meios, no­me­a­da­mente a cons­trução dos na­vios para a Ma­rinha, para jus­ti­ficar os 181 mi­lhões de euros tidos como ajudas do Es­tado».

Dos tra­ba­lhos da co­missão ficou igual­mente claro, se­gundo Carla Cruz, que foram os su­ces­sivos go­vernos e ad­mi­nis­tra­ções os res­pon­sá­veis pelo «pro­cesso de es­va­ziar, des­cre­di­bi­lizar e des­truir os ENVC», me­di­ante, entre ou­tros fac­tores, o «de­sin­ves­ti­mento con­ti­nuado» e a «ce­le­bração de con­tratos des­van­ta­josos». Tal como ficou claro dos tra­ba­lhos que a de­cisão do ac­tual Go­verno de can­celar as en­co­mendas para a Ma­rinha Por­tu­guesa, «foi de­li­be­rada e de­ter­mi­nante para a de­cisão do en­cer­ra­mento dos ENVC».

O apu­ra­mento dos factos em co­missão per­mite ainda con­cluir que «não existia qual­quer obri­gação nem era uma ine­vi­ta­bi­li­dade en­cerrar os ENVC nem des­pedir a to­ta­li­dade dos tra­ba­lha­dores», as­si­nalou Carla Cruz, que vê por isso na de­cisão go­ver­na­mental que levou a tal des­fecho «um dos exem­plos mais es­can­da­losos de ab­di­cação dos in­te­resses na­ci­o­nais».




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