Falsificações
Uma «caracterização grotesca». Foi nestes termos que o deputado comunista António Filipe definiu a avaliação de Passos Coelho às propostas do PCP, acusando-o de «falsificação intencional». Estabelecendo o guião que serviria de mote às intervenções dos partidos da maioria, o primeiro-ministro tratou de inventar «cenários fantasmagóricos» sobre as alegadas consequências do caminho alternativo avançado pelo PCP, nomeadamente quanto às matérias europeias e ao euro. «Esbulho das poupanças», «inflação», «regresso ao isolacionismo», foram imagens – das mais suaves – da catástrofe que profetizou.
«Bem faria em aceitar uma discussão séria no País, envolvendo o povo, sobre as reais consequências das orientações que foram tomadas nos últimos anos», sugeriu António Filipe, que recordou ter sido negada aos portugueses a possibilidade de tomarem uma decisão soberana sobre se queriam ou não entrar na moeda única.
«O primeiro-ministro faz também por ignorar», criticou ainda a este propósito o deputado do PCP e vice-presidente da AR, que há dez estados-membros que não estão na zona euro – Reino Unido, Suécia, Dinamarca e mais sete países –, tal como faz por ignorar que o único processo de integração regional que se traduziu na abdicação de moeda por parte dos estados-membros foi a zona euro, não havendo nenhum outro país do mundo inserido em processos de integração regional onde tal tenha ocorrido.
Trazida à colação por António Filipe foi, noutro plano, a posição assumida pelo PCP em 1992, aquando da ratificação do Tratado da União Europeia. Para lembrar, nomeadamente, que todas as suas prevenções relativamente às consequências negativas que decorreriam desse processo de integração vieram a confirmar-se. E é por isso, aliás, anotou, que PSD e CDS-PP, mas também o PS, fogem a esse debate.
Ora o que o PCP propõe é, tão simplesmente, que se reconheça ao povo o direito de decidir soberanamente sobre o seu destino. «Discutir isso e o caminho por onde o Governo tem conduzido o País», explicitou.