Fugir ao debate essencial
Grande parte da intervenção do deputado do PS Pedro Marques foi uma repetição do que o deputado do CDS-PP Telmo Correia dissera antes acerca da proposta comunista.
Insistindo na deformação e na mentira sobre as posições do PCP, na tentativa vã de desviar a atenção da questão central, também o parlamentar «rosa» enveredou pela mistificação. Que o PCP adopta uma posição «isolacionista» e quer a «saída do euro», afirmou em tom inflamado. E não contente, resolveu dramatizar alertando para o que disse serem as «consequências» de tal «saída»: «queda dos salários, das pensões, das poupanças, o aumento da dívida das famílias».
«Os senhores não disseram uma palavra acerca daquilo que o PCP propõe hoje e está em discussão», contrapôs o deputado comunista António Filipe, desmascarando a batota. A verdade é que da boca daqueles deputados apenas saíram acusações ao PCP sobre uma questão que não estava pura e simplesmente em debate.
«Se os senhores quiserem discutir o euro, nós discutimos o euro convosco. Mas os senhores não querem, nunca quiseram discutir o euro. Os senhores obrigaram o País a vincular-se ao euro, recusando um referendo sobre o euro», criticou António Filipe, observando que do mesmo modo que já se haviam recusado a discutir a entrada no euro, PS, PSD e CDS-PP recusam-se agora a discutir as consequências do euro.
Não é alias só o PCP que o afirma, prosseguiu o deputado comunista, que citou um artigo do deputado do PS Pedro Nuno Santos, publicado nesse mesmo dia no matutino i, onde este diz que a «esquerda [pressupondo-se que para si nela incluiu o PS] desistiu de explicar as consequências assimétricas do processo de construção europeia desde a adesão do euro».
António Filipe acusou assim o PS e os restantes partidos à direita do hemiciclo de não quererem discutir esta matéria e de a encararem como «um dogma».
A inexistência de qualquer proposta concreta da parte do PS não passou igualmente sem reparo, com o deputado comunista a registar o enorme «vazio» que há neste capítulo.
«Conhecemos a política do Governo e as suas consequências, são conhecidas as propostas do PCP; os senhores não estão de acordo nem com uma nem com outra. O que é que propõem: nada!», invectivou o deputado do PCP.
E não aceitou a alegação de que esta é uma questão para ser discutida no plano europeu. «No plano do senhor Hollande?, no plano do SPD que está no governo com a senhora Merkel?», inquiriu, ciente de que não se pode ficar à espera de que a União Europeia mude de orientações. «O que temos é de assumir corajosamente soluções para o nosso País, que nos libertem do garrote da dívida», defendeu.