Ucrânia

Pedro Guerreiro

um golpe de estado consumado por sectores de cariz fascista e neo-nazi

Não será possível compreender os recentes e preocupantes desenvolvimentos da situação na Ucrânia sem ter presente os acontecimentos que marcaram a evolução da situação na Europa após o fim da URSS e do campo socialista, com a autêntica cavalgada do capitalismo para Leste e suas dramáticas consequências políticas, sociais e económicas.

Nos últimos 20 anos, através do alargamento da NATO a 12 países do Leste da Europa, assim como do alargamento da União Europeia que praticamente o acompanhou, os EUA e os seus aliados, apesar de contradições, têm vindo a concretizar a sua estratégia de cerco à Federação Russa – agora sob o capitalismo –, assim como a qualquer outro país que não aceite submeter-se aos ditames e domínio do imperialismo norte-americano.

Neste sentido, os EUA e os seus aliados ambicionam, desde o primeiro momento, inserir e utilizar a Ucrânia na sua estratégia de tensão e confronto, procurando impor o seu domínio político, económico e militar sobre este país, seja através do estabelecimento de «parcerias» ou, mesmo, da sua adesão à NATO, seja através do estabelecimento de acordos com a UE.

É neste quadro que os EUA e a UE, manipulando o justo descontentamento da população ucraniana com a situação social e económica do seu país – durante as últimas duas décadas dominado por oligarcas e alvo da pilhagem levada a cabo com as privatizações, o desmantelamento do seu sector público, a exploração e empobrecimento da generalidade da população –, promoveram uma brutal ingerência e desrespeito pela soberania e a independência da Ucrânia, arquitetando e promovendo um golpe de estado que foi consumado por sectores de extrema-direita de cariz fascista e neo-nazi.

Um golpe de estado que representa um significativo passo na escalada de provocação, de intimidação e de agressão, de desrespeito de liberdades e direitos linguísticos e políticos – nomeadamente contra o Partido Comunista da Ucrânia e outras forças políticas – levada a cabo por grupos paramilitares ultra-nacionalistas, que pelos seus objectivos proclamados e acção violenta exacerbam e aprofundam divisões entre a população ucraniana, colocando em causa a integridade e unidade da Ucrânia.

EUA e UE correm agora a sustentar e «legitimar» o seu «governo interino» e a amarrar a Ucrânia a novos e gravosos acordos com o FMI – com o seu inaceitável rol de imposições, de cortes salariais, das reformas e das prestações sociais e de desmantelamento de serviços públicos – e ao acordo de livre comércio com a UE, autênticos mecanismos de dependência económica e política.

Aliás, torna-se necessário sublinhar que a consequente e natural rejeição e resistência face ao poder imposto com o golpe de estado por significativa parte da população ucraniana – apoiada pela Federação Russa, com quem partilha uma história comum, assim como fortes laços culturais e económicos – é agora usada para procurar justificar a continuação da escalada de provocação e de confronto e branquear o assalto às instituições do Estado em curso, através de uma sistemática campanha que visa desresponsabilizar os golpistas e os seus mentores, assim como os seus violentos propósitos e acção.

A evolução da situação actual na Ucrânia é incerta e evolui com rapidez. O perigoso processo posto em marcha com o golpe de estado, assim como a ingerência e a estratégia ofensiva dos EUA e da UE que estão na sua origem, são os primeiros e principais responsáveis pela grave agudização e imediatos desenvolvimentos da situação neste país, que poderão ter profundas consequências para o seu futuro próximo.




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