Pobres dos ricos

Margarida Botelho

A revista «Forbes» publicou recentemente a sua lista dos mais ricos do mundo. Lá estão incluídos os portugueses Américo Amorim, Alexandre Soares dos Santos e Belmiro de Azevedo, por sinal trepando para lugares superiores da lista relativamente ao ano passado.

O PCP tem denunciado que em tempos que se dizem de austeridade, em que a generalidade dos trabalhadores e do povo português tem empobrecido, as 25 maiores fortunas das famílias portuguesas mais ricas não têm parado de aumentar. Os lucros dos grandes grupos económicos vão-se contando aos milhões. E até a «Forbes» reconhece que estes três modestos «empreendedores» vão subindo na escala da riqueza mundial.

Ora, isto não encaixa lá muito bem na «narrativa» dos sacrifícios de todos para pagar uma dívida que todos contraímos e da qual os bondosos credores generosamente nos resgataram. E portanto foi necessário tratar de alguns artistas para voltarem a pôr a realidade nos eixos.

Daniel Bessa, ex-ministro do PS e com uma longa lista de colaboração com tudo o que é grande grupo económico português, publicou no Expresso um artiguinho que é desse ponto de vista notável. Diz o senhor: «tenho mais dificuldade em aceitar que se ligue o enriquecimento em 2013 dos três mais ricos de Portugal (…) à política de austeridade em curso no país, tirando daí a conclusão, para não dizer a evidência, de que o Governo está a tirar aos pobres para dar aos ricos, agravando as desigualdades. (…) Acontece apenas que, em 2013, os mercados de ações recuperaram e, com essa recuperação, as maiores fortunas tenderam a subir.»

De uma penada, Daniel Bessa explica como esta coisa de haver alguns que ganham dinheiro na bolsa é naturalíssimo e óptimo não só para os próprios e para essa entidade abstracta a que chamam «economia», como para os milhões de portugueses roubados nos seus rendimentos. E ainda tenta branquear uma das questões centrais da vida nacional, que é o facto de a distribuição da riqueza estar cada vez mais desigual. E esse não é um acidente de percurso nem uma incompetência do Governo – é um objectivo central das opções que fazem.




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