O homem certo
No meio de um Congresso encenado ao milímetro para que tudo parecesse espontâneo e tudo contribuísse para as ideias da retoma e do consenso, o desafio que o PSD lançou ao PS para que apresentasse o seu candidato às eleições europeias soou a um misto de ultimato e desafio para um duelo.
À primeira pode ter parecido estranha a celeridade com que o PS correspondeu ao desafio. Mas a estranheza passa depressa quando se olha mais de perto para o candidato socialista. Em entrevista há menos de um mês à Rádio Renascença, o agora candidato Francisco Assis assumia que, se o PS vencer as próximas eleições legislativas sem maioria absoluta, «será mais fácil fazer uma aliança com uma direita que, entretanto, se terá livrado da tentação neoliberal»; valorizava o facto de Portas ter defendido «um diálogo profundo e permanente com o PS» e que este «deve participar nesse esforço»; criticava quem apupa o primeiro-ministro e defendia uma linguagem «menos extremista» na Assembleia da República. Tudo na linha de outras declarações, artigos e tiradas da personagem, que – é bom não esquecer – foi presidente dos grupos parlamentares do PS nos tempos de Guterres e Sócrates como primeiros-ministros.
Ou seja: parecendo que se picam, zangam e contrariam, PS e PSD voltam sempre a Dupont e Dupond. Por muita vozearia que alguns dirigentes e deputados do PS no Parlamento Europeu façam na esperança de que o barulho das luzes disfarce o óbvio, a verdade é que no fundo no fundo estão a defender exactamente as mesmas coisas que assinaram no pacto de agressão com a troika estrangeira. Por muito que o PS agite o perigo da direita coligada e que o PSD proclame que as europeias são um teste ao PS, do que um e outro têm verdadeiramente medo é do descontentamento popular, da intensificação da luta e do crescimento da CDU nestas eleições.
Assis é portanto o homem certo para o momento certo dos interesses da política de direita. Por isso a resposta do PS ao ultimato sobre os consensos foi tão fácil de dar. Têm o candidato perfeito, consensual para a política de direita, para as troikas e para a agenda dos grandes interesses da política da União Europeia. Na CDU está a candidatura de todos os que querem a demissão do Governo, eleições antecipadas, ruptura com a política de direita.