O que é um ovo?
Já todos ouvimos a adivinha «O que veio primeiro, o ovo ou a galinha?», capaz de deixar qualquer criança com o cérebro às voltas, presa no mecanismo do ovo que veio da galinha que veio do ovo que veio da galinha...
E os que não ficam paralisados, e se atrevem a responder, são de imediato reconduzidos à paralisia... «o ovo?» «E quem o pôs?» «A galinha?» «E de onde veio a galinha?».
A maioria cresce e deixa de se preocupar, mas continua sem saber a resposta, e de cada vez que lhe aparece uma criança pela frente frita-lhe os miolos com a velha adivinha.
E nem se apercebe que a ideologia dominante usa as mesmas armadilhas metafísicas para lhe fritar a ele o cérebro: para haver trabalho têm que existir patrões; sempre houve ricos e pobres; pedimos emprestado, agora temos de pagar a dívida, etc..
E como se sai da armadilha metafísica? Compreendendo o que está para lá da abstração, e que tudo tem uma história e tudo está em movimento e quais são as leis desse movimento. No caso da velha adivinha, investigando «o que é um ovo?», «o que é uma galinha?», «Qual a sua história?». É um caminho longo, que nos obrigará a estudar, e ao longo do qual iremos descobrindo partes cada vez maiores da verdade «As aves nem foram os primeiros ovíparos», «As galinhas tiveram antepassados»... Um caminho que mais que a resposta a uma pergunta nos leva para fora da armadilha, para o conhecimento.
Em vez de deixar de pensar nas armadilhas metafísicas devemos encará-las de frente, rebentar com elas, expor o seu mecanismo e não permitir que nos paralisem. Tentando exemplificar: «Pedimos emprestado, agora temos de pagar a dívida» – «pedimos?» Quem? E para quê? «Temos de pagar» – Quem? «Quem é este nós? Uma realidade homogénea, ou classes em luta entre si? Qual delas se endividou, qual delas acumulou, qual delas é chamada a pagar?» «E qual a história da dívida? Como se formou? Que papel tiveram e têm os credores? Quanto mais pagamos mais devemos, porquê?».
Também aqui as perguntas são imensas, a investigação a realizar gigantesca, e só nos aproximamos da compreensão deste mecanismo de dominação e exploração imperialista. Mas verdadeiramente importante é que já saímos da armadilha, é que saímos da submissão ideológica.