Cultura reduzida ao cifrão
Fomos roubados muitas e muitas vezes, com subidas de impostos, descida de salários, cortes nas pensões, e de muitas outras formas. Fomos insultados por um primeiro-ministro que nos chamou piegas e usa expressões como: «está-nos a sair do lombo», «baratas tontas», «porcaria na ventoinha».
E como se isso não bastasse, fomos internacionalmente envergonhados ao tentar vender ilegalmente as obras de Miró passando pelo vexame de a leiloeira nos dizer «aqui só se vendem obras cumprindo as leis a que as mesmas estão sujeitas», tratando-nos assim como banais contrabandistas.
Que este é um governo anti-cultura já o tínhamos percebido. Percebemo-lo quando da classificação das Fundações foi extinta a Fundação Paula Rego (o que na altura levou a pintora a pedir a devolução de 186 obras que tinha emprestado), mas o Governo manteve a Fundação do PSD Madeira que terá recebido do Estado meio milhão de euros em 2012 e mais de um milhão em 2013.
Quando a cultura é tratada por ineptos onde tudo se submete à lógica do cifrão, o resultado é este. Percebemos isso nas declarações feitas a propósito das bolsas de doutoramento ao dizerem que o estudo das ciências sociais e humanas não interessa porque não são «economicamente rentáveis». Percebemo-lo quando da venda do quadro de Crivelli em que é autorizado a uns o que é proibido a outros.
Mas o argumento do dinheiro só por si, não explica tudo. Não explica por que não foi realizada uma anunciada exposição de Miró, para que pelo menos pudéssemos ter visto as suas obras e simultaneamente para aguçar o interesse de eventuais compradores. Não explica por que não se optou por se ter ficado com alguns quadros considerados de interesse museológico. E não explica por que não se vende a colecção de forma faseada aumentando, segundo os especialistas, o seu valor.
Nem explica o que estará por detrás de toda esta trapalhada: quererá esconder-se alguma coisa? Já agora digam-nos o que se passa com a colecção de arte contemporânea da Fundação Elipse de João Rendeiro do BPP. Por onde anda? À guarda de quem está? Por este andar não tarda que um destes dias vejamos na estátua do Terreiro do Paço o D. José apeado do cavalo por Passos Coelho ter descoberto que o cavalo poderia render uns trocos...