Uma imensidão de Passos atrás
Dão conta ao País que Passos Coelho andará por aí a apresentar a sua moção de estratégia ao Congresso do PSD. O que cada um faz e como faz dirá respeito aos próprios, pelo que eventuais considerações sobre a coisa, o seu papel no processo de entronização dos chefes partidários, neste e nalguns outros partidos, o papel de receptáculo que as respectivas «bases» se dispõem a assumir, fica para quem assim se governa. Pelo que de relevante deve ser comentado é o que a dita moção conterá, coisa não despiciente se atenta a particular situação de quem a escreve e propaga ter nas suas mãos as alavancas que estão a triturar a vida de milhões de portugueses e a esmagar o futuro do País.
Afastada para efeitos da presente crónica o sugestivo e expectável apelo ao PS para «um contrato» ou a velada acusação dirigida aos portugueses sobre as suas responsabilidades na insustentabilidade da Segurança Social dada a ausência da devida produtividade em matéria de natalidade e procriação, fixemo-nos na afirmação de que «o pior que nos podia acontecer era voltar ao ponto de partida» com o que ela carrega de ameaça e sentenciação. É verdade que haverá os que, imbuídos daquele espírito optimista capaz de os fazer acreditar que isto está tudo no bom caminho apesar de lançados na miséria, considerarão que aquele «voltar ao ponto de partida» pode ser levado como uma auto-confessada contrição, um género de sendo o pior dos piores a política de ruína do Governo (e a política de direita em geral) o desejo de não voltar ao inicio significaria assim como um antecipado «vou ali e já não volto». Mas a verdade, a que conta e é para ser levada a sério, é que naquela afirmação está sobretudo a declarada ameaça e produzida sentença que, se isso lhe fosse permitido, tudo o que foi roubado, expropriado e negado em direitos e rendimentos aos trabalhadores e ao povo é para assim manter. Pelo que em ano de assinalar e fazer valer valores e conquistas de Abril o que é preciso fazer é precisamente lutar para que, em sentido contrário ao das ambições de Passos e seus mandantes, o regresso a esse ponto de partida pleno de direitos e perspectivas de um futuro digno para milhões de portugueses seja o melhor que o País e os trabalhadores podem aspirar.