Uma imensidão de Passos atrás

Jorge Cordeiro

Dão conta ao País que Passos Coelho andará por aí a apresentar a sua moção de estratégia ao Congresso do PSD. O que cada um faz e como faz dirá respeito aos próprios, pelo que eventuais considerações sobre a coisa, o seu papel no processo de entronização dos chefes partidários, neste e nalguns outros partidos, o papel de receptáculo que as respectivas «bases» se dispõem a assumir, fica para quem assim se governa. Pelo que de relevante deve ser comentado é o que a dita moção conterá, coisa não despiciente se atenta a particular situação de quem a escreve e propaga ter nas suas mãos as alavancas que estão a triturar a vida de milhões de portugueses e a esmagar o futuro do País.

Afastada para efeitos da presente crónica o sugestivo e expectável apelo ao PS para «um contrato» ou a velada acusação dirigida aos portugueses sobre as suas responsabilidades na insustentabilidade da Segurança Social dada a ausência da devida produtividade em matéria de natalidade e procriação, fixemo-nos na afirmação de que «o pior que nos podia acontecer era voltar ao ponto de partida» com o que ela carrega de ameaça e sentenciação. É verdade que haverá os que, imbuídos daquele espírito optimista capaz de os fazer acreditar que isto está tudo no bom caminho apesar de lançados na miséria, considerarão que aquele «voltar ao ponto de partida» pode ser levado como uma auto-confessada contrição, um género de sendo o pior dos piores a política de ruína do Governo (e a política de direita em geral) o desejo de não voltar ao inicio significaria assim como um antecipado «vou ali e já não volto». Mas a verdade, a que conta e é para ser levada a sério, é que naquela afirmação está sobretudo a declarada ameaça e produzida sentença que, se isso lhe fosse permitido, tudo o que foi roubado, expropriado e negado em direitos e rendimentos aos trabalhadores e ao povo é para assim manter. Pelo que em ano de assinalar e fazer valer valores e conquistas de Abril o que é preciso fazer é precisamente lutar para que, em sentido contrário ao das ambições de Passos e seus mandantes, o regresso a esse ponto de partida pleno de direitos e perspectivas de um futuro digno para milhões de portugueses seja o melhor que o País e os trabalhadores podem aspirar.




Mais artigos de: Opinião

O erro

Como se pode compreender que, no século XXI, uma organização partidária de juventude de um partido dito democrata-cristão assuma publicamente considerar «um erro» o prolongamento até ao 12.º ano do ensino obrigatório e proponha o recuo para o 9.º...

Miró em leilão

A venda em leilão de 85 obras de Miró tem suscitado justificado interesse. Merece a pena ir-se à procura de mais informação. Por exemplo: o facto de nos obscuros negócios e património de bancos como o BPP de João Rendeiro e o BPN de Oliveira e Costa as obras de...

Mentiras obscenas

No final do Verão, o Presidente Obama anunciou a sua decisão de atacar a Síria, acusando o seu governo dum ataque com armas químicas. O discurso de Obama (10.9.13) não admitia dúvidas: «no dia 21 de Agosto [...] o governo de Assad matou com gases mil pessoas, incluindo...

Este é o Partido que cumpre Abril e honra Maio

Se o ano de 2013 acabou com o desenvolvimento de diversas lutas dos trabalhadores nos transportes, na Câmara Municipal de Lisboa, entre outras, bem como das populações contra o encerramento de serviços públicos (finanças, tribunais, etc.), o ano de 2014 teve o seu início com o prosseguimento da luta, onde se inscreve o Dia Nacional de Luta marcado pela CGTP-IN para o próximo dia 1 de Fevereiro.