Jerónimo de Sousa denuncia manipulações

Esta política é a desgraça do País

O que os portugueses sentem na pele é a política do empobrecimento e do aumento da exploração. Esse sim é o resultado da acção do Governo, não são os «sinais de recuperação» de que fala a propaganda e só o Governo diz ver.

Este Governo destruiu mais de 300 mil postos de trabalho líquidos

Esta foi uma ideia-chave deixada pelo Secretário-geral do PCP no debate quinzenal com o primeiro-ministro de sexta-feira passada, no decorrer do qual acusou o Governo de «torcer esta ou aquela estatística» de modo a ajeitá-la à «linha de propaganda oficial».

Isto a propósito dos «sinais de retoma» ou até do «milagre económico» que emerge do discurso do Governo e seus apoiantes, como aliás esteve patente no próprio debate pelas intervenções dos líderes parlamentares dos partidos da maioria, com Luís Montenegro (PSD), por exemplo, a afirmar, taxativo, que as pessoas começavam a sentir os resultados desta política.

«Onde é que eles estão, senhor primeiro-ministro?», perguntou Jerónimo de Sousa, que não deixou passar o facto de nunca ter havido qualquer referência dos governantes ou dos partidos da maioria à circunstância de

em Portugal, segundo as estatísticas, «num quadro em que aumentaram os pobres, ter aumentado o número de multimilionários e as fortunas dos 25 mais ricos de Portugal».

Daí ter concluído que a omissão deste indicador estatístico é reveladora do pouco rigor que há no discurso do Governo. Porque – e «essa é a verdade», explicou – «alguns portugueses estão de facto melhor; mas a maioria dos portugueses está pior!».

E por isso indagou, sem obter resposta, se o Governo «vai continuar os cortes, atacar os rendimentos dos trabalhadores, reformados e pensionistas, dos elementos das forças de segurança, dos militares, de todos os sectores que vivem dos seus rendimentos, ou se vai travar essa política?»

Confissão

Passos Coelho, depois de perorar sobre a necessidade de «aumentar a capacidade do País para crescer e acumular riqueza», acabou por reconhecer de forma implícita que as desigualdades cresceram no seu consulado.

«Digo, não com orgulho, antes de ser primeiro-ministro, Portugal já era dos países com distribuição mais desigual do rendimento e esse facto não melhorou com a crise económica», afirmou, antes de deixar um voto de fé de que «vai melhorar à medida que vencermos a crise».

Antes, porém, já Jerónimo de Sousa confrontara de forma directa o chefe do Executivo com a «realidade, a vida, a situação dramática de milhões de portugueses».

Sobre a «diminuição do desemprego», dada por aquele como coisa certa, respondeu o líder comunista denunciando o facto de a afirmação esconder que no mandato deste Governo foram destruídos mais de 300 mil postos de trabalho líquidos.

E a propósito convidou-o a corrigir o «engano» quanto aos 120 mil postos de trabalho que teriam sido criados em 2013, mas que afinal foram só 21 mil, desafio este, mais um, que ficou sem resposta.

O líder comunista fez ainda notar a Passos Coelho que na suas declarações não contabilizara os 600 trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo sob a ameaça do desemprego, nem os milhares de profissionais de saúde que correm o risco de perder o seu posto de trabalho, designadamente com a transferência de hospitais para as Misericórdias.

Bolseiros

Ao primeiro-ministro lembrou ainda que dos 5533 candidatos às bolsas de investigação apenas 508 as receberam, ou seja mais de cinco mil investigadores viram goradas as suas legítimas expectativas.

E contestou a resposta antes dada por Passos Coelho de que houve corte de bolsas mas que estas «foram substituídas por programas doutorais». Ora a questão reside exactamente aqui, precisou, porque a «solução não é cortar bolsas e substitui-las por programas doutorais mas sim colocar e integrar os investigadores no sistema». Não o fazer significa «aumentar o desemprego, aumentar a emigração de gente qualificada», advertiu Jerónimo de Sousa.

 

Inenarráveis dramas na saúde

Introduzida no centro do debate foi também a temática da Saúde, com Jerónimo de Sousa a lembrar os casos dramáticos que vieram a público das colonoscopias que «demoram tanto que as pessoas passam a correr risco de vida». Falou igualmente do exemplo trágico dos «meios de emergência que não socorrem as pessoas por falta de verbas para contratar médicos e enfermeiros que garantam escalas nas 24 horas». Ou dos doentes oncológicos com tratamentos suspensos por avaria de equipamentos e falta de verbas para os reparar. E ainda do adiamento de cirurgias por falta de material clínico, como no Hospital de S. José ou no Centro Hospitalar do Algarve (ver pág. 14).

Passos Coelho foi ainda convidado pelo líder do PCP a comentar a afirmação de um responsável de um hospital que assumiu preferir «antes ir a tribunal para ser julgado por actos de gestão do que cometer homicídio por negligência, ou seja não tratar as pessoas por falta de meios».

«Que resposta dá a este responsável hospitalar, insuspeito na sua opinião, que sente a necessidade de vir a público dizer que se corre o risco hoje em Portugal de se morrer mais cedo por falta de tratamento, por falta de apoio na saúde?», questionou o Secretário-geral do PCP.

Na resposta, Passos Coelho afirmou-se preocupado com as «situações mais severas e que atingem as pessoas de forma mais dura, nomeadamente nas situações oncológicas», adiantando que o Governo não «deixará de olhar para essas situações com muito cuidado». E asseverou que os «casos que vieram a público não deixarão de ser investigados pelo Ministério da Saúde de modo a evitar que se possam repetir».

Na réplica, Jerónimo de Sousa, vendo uma clara contradição nas palavras do primeiro-ministro, instou-o a resolvê-la, observando que este «está sempre preocupado com os dramas sociais, com as consequências da sua política mas depois persegue, insiste e aumenta essa política que está a desgraçar a vida dos portugueses».

E frisou que quando se trata da saúde está-se a «falar de um bem precioso, do direito à vida, do direito à saúde, não de um direito qualquer». Por isso considerou que a visão de Passos Coelho nesta matéria, «tendo em conta o corte de 300 milhões de euros no orçamento da saúde, vai ter consequências dramáticas no futuro próximo».

E por estas e por outras, concluiu, o Governo o que faz é «continuar a moratória que lhe foi dada pelo PS». Daí que a questão política de fundo, para o Secretário-geral do PCP, continue a ser a mesma: «só com a demissão deste Governo, dando a palavra ao povo, é que encontramos as soluções para o País».

 



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