Que em 2014 se multipliquem as lutas

Octávio Augusto (Membro da Comissão Política do PCP)

Como é ha­bi­tual nestas oca­siões, a co­mu­ni­cação so­cial bom­bar­deia-nos com no­tí­cias de ceias, ca­bazes e ou­tros eventos de so­li­da­ri­e­dade. Não se ques­ti­o­nando a no­breza de quem os pro­move, a ver­dade é que so­bres­saem dois as­pectos: o res­sur­gi­mento da «ca­ri­da­de­zinha» e uma si­tu­ação so­cial ca­tas­tró­fica.

Está nas mãos dos tra­ba­lha­dores e do nosso povo der­rotá-los

Image 14786

Fala-se bem menos das causas que con­du­ziram a uma tão grave si­tu­ação onde há cada vez mais por­tu­gueses que, tra­ba­lhando, estão cada vez mais po­bres.

Ou­vimos Passos Co­elho. Falou de um país que não existe, dos postos de tra­balho cri­ados mas que são ficção, dos si­nais que já se sentem de uma re­cu­pe­ração que só existe na sua ca­beça. Mentiu, ma­ni­pulou e es­pa­lhou ci­nismo.

A ver­dade é que o País está de mal a pior. Mais en­di­vi­dado, mais de­pen­dente.

Por mais que pro­curem atirar areia para os olhos dos por­tu­gueses, a se­guir à troika virá a troika. E com a troika, mais me­didas de aus­te­ri­dade e o saque aos tra­ba­lha­dores, aos re­for­mados e pen­si­o­nistas, aos pe­quenos e mé­dios co­mer­ci­antes e in­dus­triais, aos agri­cul­tores, aos mesmos de sempre.

E os grupos eco­nó­micos, o ca­pital fi­nan­ceiro con­ti­nuam a en­cher os bolsos e a passar à margem dos sa­cri­fí­cios im­postos à imensa mai­oria dos por­tu­gueses.

Ao con­trário do que muitos afirmam, os go­ver­nantes são com­pe­ten­tís­simos. Têm como ob­jec­tivo in­ten­si­ficar de forma du­ra­dora e de­fi­ni­tiva a ex­plo­ração, re­du­zindo sa­lá­rios e di­reitos, cri­ando uma imensa massa de mão-de-obra ba­rata, pre­cária e sem di­reitos.

Têm como ob­jec­tivo o saque dos re­for­mados e pen­si­o­nistas.

Têm como ob­jec­tivo a des­truição dos ser­viços pú­blicos e das fun­ções so­ciais do es­tado. A des­truição do ser­viço na­ci­onal de saúde, da es­cola pú­blica, da se­gu­rança so­cial.

Go­ver­nantes, po­li­tó­logos, co­men­ta­dores, ana­listas e ou­tros istas de ser­viço e ao ser­viço do ca­pital, de bar­riga cheia e ali­nhados pela ba­tuta do dono, des­do­bram-se numa over­dose ide­o­ló­gica de que não há outro ca­minho, de que os tais si­nais, em­bora té­nues, nos in­dicam que es­tamos no rum o certo. Pres­si­onam de forma des­ca­rada o Tri­bunal Cons­ti­tu­ci­onal, culpam a Cons­ti­tuição, de­sa­jus­tada, ul­tra­pas­sada, blo­que­a­dora, cau­sa­dora de todos os males.

Anun­ciam o plano B, que não existe, mas existe. E com esse plano, pros­se­guirão na sua ca­val­gada de roubar e sa­quear os do cos­tume e, ao mesmo tempo afundam ainda mais o País.

Sentem que não basta ig­no­rarem a Cons­ti­tuição, apesar de terem ju­rado cumpri-la com uma mão e com a outra fa­zerem figas, é pre­ciso acabar com ela. Uma outra Cons­ti­tuição mais mo­derna, mais de acordo com os novos tempos de re­gressão ci­vi­li­za­ci­onal.

Trata-se não só de re­duzir a zero a de­mo­cracia so­cial, eco­nó­mica, cul­tural que a Cons­ti­tuição de Abril de Abril con­sagra, mas também de pro­duzir pro­fundas e ne­fastas trans­for­ma­ções que con­duzam à des­truição da pró­pria de­mo­cracia po­lí­tica nela con­sa­grada.

Os se­nhores do di­nheiro dizem agora de forma clara que é pre­ciso um acordo que vá muito para além da ac­tual le­gis­la­tura, que en­volva os par­tidos do cha­mado arco da go­ver­nação, ou seja PSD, PS, CDS, que pro­duza essas mu­danças e que ga­ranta ao ca­pital a per­pe­tu­ação da sua he­ge­monia. Dito de outra forma: que o poder po­lí­tico se su­bor­dine ao poder eco­nó­mico sem so­bres­saltos, por muitos e muitos anos, com um pre­si­dente, um go­verno e uma mai­oria que, al­ter­nando entre si, lhes ga­ranta de forma du­ra­dora o poder que re­con­quis­taram.

Está nas mãos dos tra­ba­lha­dores e do nosso povo der­rotá-los, ao seu go­verno e à sua po­lí­tica de di­reita.

Que em 2014 se am­pli­fi­quem e se mul­ti­pli­quem as lutas, pe­quenas e grandes, ali­cer­çadas na mag­ní­fica e di­nâ­mica luta de massas de­sen­vol­vida no ano que agora ter­minou, que à cres­cente in­dig­nação e re­volta se junte cada vez mais a dis­po­ni­bi­li­dade para a acção e para a luta.

Que em 2014 o Par­tido se re­force ainda mais, que trans­forme a cres­cente sim­patia e iden­ti­fi­cação de mi­lhares e mi­lhares de por­tu­gueses com o PCP, sua aná­lise e pro­postas, em mais força or­ga­ni­zada.

Que 2014 seja o ano em que se ponha fim a este Go­verno e à po­lí­tica de di­reita e se abram as portas para a con­cre­ti­zação de uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda, ali­cer­çada nos va­lores de Abril.

Vamos a isso!



Mais artigos de: Opinião

A minha vida não cabe nos discursos deles

Por estes dias milhões assistem, estupefactos, aos discursos deles. Palavras de conforto e caridade para os pobrezinhos, palavras de fé num futuro que já não é muito longínquo, pois o virar de ano está já aí e traz, com ele, todas as...

Mercado da saudade

«Mercado da saudade» era o nome que se dava há uns anos ao negócio de exportação de produtos emblemáticos nacionais para os portugueses emigrados. Água do Luso, bacalhau, cerveja nacional, mais a Bola e a Maria, eram – e são – aguardados com...

Sorefame

Quem circula na CP ou no Metro de Lisboa encontra umas placas que a alguns já pouco dizem: «Produzido na Sorefame». É triste, mas «normal», que haja quem não saiba ou tenha esquecido que em Portugal, até 2004, até há 10 anos, produzíamos material...

Bizarrias

A reprodução descuidada, digamos assim, de informações divulgadas por agências internacionais muito dadas a ver o mundo sob o prisma dos interesses dos Estados Unidos e do grande capital deu azo, em Novembro último, a uma série de notícias sobre a alegada...

Venezuela, ano 15

A revolução bolivariana está prestes a completar 15 anos. Foi a 2 de Fevereiro de 1999 que Hugo Chávez tomou posse pela primeira vez, assumindo as rédeas do poder na Venezuela. Pequeno trecho histórico em que foi já percorrido um longo caminho nos trilhos do resgate da...