Aveiro: Ontem e Hoje
Estávamos em 1973, na chamada primavera Marcelista que o PCP muito justamente considerou de Salazarismo sem Salazar. Em Aveiro, terra de fortes tradições democráticas, realizou-se o 3.º Congresso da Oposição democrática. O regime de então tudo fez para impedir a sua realização: proibiu os carros de entrar na cidade, identificou os passageiros dos comboios e a ferocidade da polícia de choque fez-se sentir com particular brutalidade sobre os congressistas que tentaram rumar ao cemitério para homenagear o Dr. Mário Sacramento. O balanço foi de mais de 70 feridos entre os quais se encontravam alguns jornalistas estrangeiros. Enfim, apenas mais um retrato da falsa abertura Marcelista e da agonia do regime.
Aqueles congressistas, ainda que com modos diferentes de pensar o futuro, tinham em comum duas importantes questões: – o derrube do regime fascista e o fim da guerra colonial.
Quarenta anos depois, quando julgávamos a democracia, o Estado Social e o Estado de Direito uma realidade imutável da nossa sociedade, democratas dos mais variados quadrantes políticos sentem a premência de se reunir para exigir o fim de uma guerra encetada por este Governo contra a maioria dos cidadãos, o fim não do estatuto de país sobre protectorado como Paulo Portas gosta de dizer, mas de país vassalo em que este Governo nos transformou.
Ao longo de mais de oito séculos da História deste povo, muitos foram os que tombaram para defender a independência e soberania do nosso País e não vai ser agora um Governo de vendidos incompetentes ou das troikas do nosso descontentamento que vão pôr essa soberania em causa e transformar-nos num país colonizado.
Tal como há 40 anos bem pode hoje o actual Governo inventar discursos, propagandear consensos ou agitar papões. Foi longe demais nas aldrabices e mentiras, em vão tentou pôr novos contra velhos, esquecendo uma questão elementar: os velhos são os pais e avós dos mais novos, os novos são os filhos e netos dos mais velhos.
E já agora aqui lhes fica um conselho: basta de eufemismos para iludir incautos, como dizia Almada Negreiros «este não é o século de inventar palavras. As palavras já foram todas inventadas.»
À URAP que comemorou os quarenta anos do Congresso de Aveiro com um debate o nosso bem-haja.