O bestiário
A pose é a farda do Governo, com todos empertigados nas suas alocuções e supondo que o grosso da fala e a solenidade do rosto exudam credibilidade.
Paulo Portas é obra consistente neste entremez. Diz tudo e mais um par de botas com a solenidade de quem se julga a falar para a História. A desenvoltura com que afirma coisas e o seu contrário consagra-lhe a fluidez das ideias e a repetição consistente do truque confirma-o como mentiroso compulsivo. Enfim, um irremediável vaidoso, sem princípios e com metáforas a suprir a inteligência. Uma das últimas – a de que «o fim do resgate em Junho próximo» será «um novo 1640» – só mostra que o homem aprendeu História de ouvido e «ama a Pátria» como se gosta de pastel de nata.
O PM Passos Coelho mostrou o que valia ao ascender ao poder pelo conluio de um Miguel Relvas e apadrinhado pela fosforescência de Ângelo Correia. Mas ele próprio também foi dando nota de si, seja chamando «piegas» aos portugueses ou aconselhando os jovens «à emigração», a par de mentiras e contradições estilo Portas, com quem partilha «a fluidez», a amoralidade, a visão reaccionária e o revanchismo militante.
A ministra das Finanças, uma minhota chamada Maria Luís, licenciou-se em Economia na Lusíada, onde mais tarde deu aulas a Passos Coelho e saltaria para secretária de Estado do seu Governo, servindo tão fielmente o ministro Gaspar, da Economia, que, mesmo quando este se demitiu confessando o falhanço da sua política, ela aceitou substituí-lo para a prosseguir. Mal tomou posse apressou-se a privatizar a EDP, onde colocou o marido ex-jornalista como «consultor», mas já não teve a mesma presteza e sorrelfa autenticidade a «explicar» os swaps que ela própria assinou na REFER, negando que o fizera, admitindo-o depois e seguindo-se uma palhaçada de desmentidos, até hoje.
Marques Guedes, que substituiu o portavozear de Relvas, diz coisas e o seu contrário em cada vez que fala, Aguiar Branco, na Defesa, colmata a sua conhecida insignificância com o despedimento colectivo, abrupto e selvagem nos Estaleiros de Viana, o MAI Miguel Macedo esforça-se por parecer «bom rapaz» e proíbe ou castiga como reacionário que é, Poiares Maduro mostra que não sabe o que faz, Pires de Lima demonstrou que sair da gestão das cervejas não dá qualidade na gestão da Economia, o Crato da Educação parece vir directo do fascismo, o Mota Soares do Emprego e da Segurança Social especializou-se a desempregar e a desproteger, o Rui Machete do MNE é um desastre em movimento e o resto, que inclui uma multidão de secretários de Estado, nem uma palavra merece.
Como se vê, a pose só serve a quem a veste. Esta gente não é acreditada nem já, sequer, escutada pelos portugueses. Não passam de um bestiário sem fábulas e sob descomunal repúdio. Delendi sunt Passos/Portas...