O bestiário

Henrique Custódio

A pose é a farda do Governo, com todos empertigados nas suas alocuções e supondo que o grosso da fala e a solenidade do rosto exudam credibilidade.

Paulo Portas é obra consistente neste entremez. Diz tudo e mais um par de botas com a solenidade de quem se julga a falar para a História. A desenvoltura com que afirma coisas e o seu contrário consagra-lhe a fluidez das ideias e a repetição consistente do truque confirma-o como mentiroso compulsivo. Enfim, um irremediável vaidoso, sem princípios e com metáforas a suprir a inteligência. Uma das últimas – a de que «o fim do resgate em Junho próximo» será «um novo 1640» – só mostra que o homem aprendeu História de ouvido e «ama a Pátria» como se gosta de pastel de nata.

O PM Passos Coelho mostrou o que valia ao ascender ao poder pelo conluio de um Miguel Relvas e apadrinhado pela fosforescência de Ângelo Correia. Mas ele próprio também foi dando nota de si, seja chamando «piegas» aos portugueses ou aconselhando os jovens «à emigração», a par de mentiras e contradições estilo Portas, com quem partilha «a fluidez», a amoralidade, a visão reaccionária e o revanchismo militante.

A ministra das Finanças, uma minhota chamada Maria Luís, licenciou-se em Economia na Lusíada, onde mais tarde deu aulas a Passos Coelho e saltaria para secretária de Estado do seu Governo, servindo tão fielmente o ministro Gaspar, da Economia, que, mesmo quando este se demitiu confessando o falhanço da sua política, ela aceitou substituí-lo para a prosseguir. Mal tomou posse apressou-se a privatizar a EDP, onde colocou o marido ex-jornalista como «consultor», mas já não teve a mesma presteza e sorrelfa autenticidade a «explicar» os swaps que ela própria assinou na REFER, negando que o fizera, admitindo-o depois e seguindo-se uma palhaçada de desmentidos, até hoje.

Marques Guedes, que substituiu o portavozear de Relvas, diz coisas e o seu contrário em cada vez que fala, Aguiar Branco, na Defesa, colmata a sua conhecida insignificância com o despedimento colectivo, abrupto e selvagem nos Estaleiros de Viana, o MAI Miguel Macedo esforça-se por parecer «bom rapaz» e proíbe ou castiga como reacionário que é, Poiares Maduro mostra que não sabe o que faz, Pires de Lima demonstrou que sair da gestão das cervejas não dá qualidade na gestão da Economia, o Crato da Educação parece vir directo do fascismo, o Mota Soares do Emprego e da Segurança Social especializou-se a desempregar e a desproteger, o Rui Machete do MNE é um desastre em movimento e o resto, que inclui uma multidão de secretários de Estado, nem uma palavra merece.

Como se vê, a pose só serve a quem a veste. Esta gente não é acreditada nem já, sequer, escutada pelos portugueses. Não passam de um bestiário sem fábulas e sob descomunal repúdio. Delendi sunt Passos/Portas...

 



Mais artigos de: Opinião

Ainda que

Ainda que fosse uma empresa que desse milhões de euros de prejuízo ao erário público, coisa que os CTT definitivamente não são. Ainda que a privatização resultasse na sua transferência para as patrióticas mãos de um qualquer grupo...

Aveiro: Ontem e Hoje

Estávamos em 1973, na chamada primavera Marcelista que o PCP muito justamente considerou de Salazarismo sem Salazar. Em Aveiro, terra de fortes tradições democráticas, realizou-se o 3.º Congresso da Oposição democrática. O regime de então tudo fez para impedir...

O santo e a senha

Já se sabia que havia uns quantos portugueses multimilionários e que as respectivas fortunas cresceram nos últimos anos não obstante a crise, segundo uns, justamente à conta dela, segundo outros. Seja como for, vale a pena lembrar, a benefício do inventário, que o rico...

Revés da UE em Vilnius

Terminou em fiasco a Cimeira de Vilnius da Parceria Oriental da UE dos dias 28-29 de Novembro. O não ucraniano à associação com a UE estragou a festa com que Bruxelas se pretendia parcialmente redimir da arrastada crise em que labuta (os acordos preliminares rubricados com a Geórgia e...

A indignação saiu à rua num dia assim

O apelo da CGTP-IN foi muito claro e acertado: fazer de 26 de Novembro, data da aprovação do Orçamento do Estado para 2014, um dia nacional de indignação, protesto e luta. E foi isso que se passou: enquanto a maioria PSD-CDS aprovava na Assembleia da República mais um orçamento de roubo, miséria e destruição do País, cá fora os trabalhadores e o povo português rejeitaram-no de forma contundente.