A indignação saiu à rua num dia assim
O apelo da CGTP-IN foi muito claro e acertado: fazer de 26 de Novembro, data da aprovação do Orçamento do Estado para 2014, um dia nacional de indignação, protesto e luta. E foi isso que se passou: enquanto a maioria PSD-CDS aprovava na Assembleia da República mais um orçamento de roubo, miséria e destruição do País, cá fora os trabalhadores e o povo português rejeitaram-no de forma contundente.
Cresce o número dos que sabem que o caminho é a luta
A expressão «cá fora» pode ser lida de forma literal, porque nas ruas em redor da Assembleia da República uma massa de gente rejeitou o Orçamento. Mas «cá fora» também é expressão que nesse dia ganhou o tamanho de um País inteiro, que rejeitou esta política de Norte a Sul, nas cidades e nas zonas rurais, nas empresas e nos locais de trabalho. A edição da semana passada do Avante! dava nota da extraordinária dimensão que os protestos alcançaram: desde a enorme manifestação nessa manhã em S.Bento, a centenas de manifestações, concentrações, desfiles, vigílias, buzinões, plenários, cortes de estrada, ocupações de serviços públicos, passando por greves em empresas e locais de trabalho em todo o País.
Centenas de milhares de trabalhadores, reformados, desempregados, pequenos empresários, fizeram deste o dia de expressar a sua indignação contra o crime que está a ser cometido contra as suas vidas e o seu País. Muitos fizeram greve por salários, direitos, postos de trabalho, uma vida digna. Muitos protestaram com gestos só aparentemente simples como participar num buzinão, num minuto de silêncio, a escrever o nome num abaixo-assinado, a levar uma braçadeira preta para o trabalho, ou a colar um cartaz na montra do seu negócio. Outros, muitos, juntaram-se aos seus colegas de trabalho, aos seus familiares, amigos e vizinhos, e vieram a Lisboa, ou a outras cidades, com o seu cartaz ou a faixa que escreveram juntos, marchar, gritar, lutar contra este Orçamento.
É isso que ficará para a história: no dia em que as troikas votaram mais um instrumento do seu plano de exploração e empobrecimento, o povo chumbou-o nas ruas. Só quem quer é que não vê a extraordinária força de que este dia deu provas. A capacidade de organização do protesto multiplicada, a indignação a subir de tom, a determinação de que isto não fica assim cada vez mais alargada, a vontade de lutar até que isto mude cada vez mais consolidada. Um clamor de protesto e indignação que não nasceu de geração espontânea, mas que brota dos sentimentos e das necessidades mais profundas e concretas da vida de cada um, engrossa o caudal das lutas destes últimos dois anos, responde ao apelo da grande central sindical de classe do nosso País, a CGTP-IN.
Mistificações e desvalorizações
Da parte do Governo e dos seus comentadores, já era de esperar a desvalorização da força deste dia. A manobra habitual do foco exclusivo na manifestação em Lisboa não foi possível de manter até ao final do dia noticioso, pelo menos porque a ocupação simultânea de quatro ministérios é difícil de ignorar, mas a dimensão do protesto foi de facto ocultada.
«O País está a ficar mais radical?» ou «estamos a mudar o clima social em Portugal?» foram as perguntas que deram o mote a dois importantes espaços de opinião da comunicação social, o «Prós e Contras», da RTP1, e o «Contraditório», da Antena 1, respectivamente, nos dias que se seguiram. Com isto pretendem associar o protesto, a combatividade, a visibilidade das lutas, ao caos, à ingovernabilidade, à insegurança. Podendo parecer positivo que falem da luta, que até refiram que vivemos um tempo em que a sua dimensão e número são grandes, na verdade não pretendem mais do que contribuir para a tese que as troikas têm tentado passar: os sacrifícios são pesados, mas são para todos, estão a resultar e estamos na recta final. De forma diferente, como manda o papel que lhe calhou desempenhar na troika nacional, o PS dá para esse peditório quando ignora a exigência de eleições antecipadas e sustenta este Governo até 2015.
Nada mais errado: se há coisa que estas acções de dia 26 derrotam é a tese das inevitabilidades, da resignação, do conformismo. E mostram que cresce o número dos que sabem que o caminho da derrota deste Governo e desta política é a luta, persistente, tenaz, corajosa, convergente, como a ela se referiu o Secretário-geral do PCP a este propósito.
Uma luta que continua dia a dia e encontrará novo momento alto na concentração-vigília que já está marcada para dia 19 de Dezembro, a partir das 18h30, junto à Presidência da República, em Belém.