Amigalhaços

Jorge Cordeiro

Defrau­dados es­tarão os que ima­gi­naram, por in­ge­nui­dade ou cre­du­li­dade, que da re­cau­chu­tagem ope­rada no Go­verno em pe­ríodo es­tival emer­gisse qual­quer coisa de di­fe­rente. Sempre se po­deria dizer que bas­tava darem ou­vidos à sa­be­doria po­pular, feita de ex­pe­ri­ência vi­vida, para sa­berem o que está farto de se provar quanto a re­mendos novos em trapo velho. Do re­mendo Pires de Lima se dirá, sem des­primor de todos os ou­tros que se jun­taram a Passos e Portas para es­for­ça­da­mente darem cabo da vida do País e dos por­tu­gueses, que a cri­a­tura sabe ao que veio. O tempo das ti­radas al­tis­so­nantes sobre a in­com­pa­ti­bi­li­dade entre cres­ci­mento da eco­nomia e a di­ta­dura das fi­nanças, sobre a im­pos­si­bi­li­dade de as­se­gurar a so­bre­vi­vência do te­cido em­pre­sa­rial com as me­didas de aus­te­ri­dade ou sobre a ina­diável re­dução do IVA na res­tau­ração, foi chão que deu uvas. Fa­zendo jus à marca de água deste Go­verno e à sua po­lí­tica, au­sência da noção do vo­cá­bulo ver­dade e des­co­nhe­ci­mento do que possa sig­ni­ficar a pa­lavra dita, o recém em­pos­sado mi­nistro aí está fa­zendo e co­brindo tudo o que é exacto con­trário do que antes dizia. E para quem já mal­di­ci­o­sa­mente se pre­para para de­sem­bai­nhar es­padas contra a boa von­tade do se­nhor se in­voque em sua de­fesa o que o pró­prio se en­car­regou pu­bli­ca­mente de es­cla­recer, ou seja: que «faz o que pode» e que apesar de ser um «homem de fé, não faz mi­la­gres». Nada que lhe tire, con­tudo o sono e o prazer de se sentir «con­for­tável no Go­verno». Quanto ao resto são por­me­nores. Os pe­quenos e mé­dios em­pre­sá­rios não têm re­dução do IVA e daí?! O grande ca­pital e os grupos eco­nó­micos viram as­se­gu­rado o bónus do IRC com mais umas borlas nos im­postos. Nada de in­gra­ti­dões. Não só não se pode ter tudo, como é pre­ciso levar em con­si­de­ração que pri­meiro estão os ami­ga­lhaços. Até porque como se sabe sendo o ne­gócio de uns, aos olhos deste Go­verno essa coisa menor de venda de umas quantas re­fei­ções ou de umas tantas «bicas», o que é pre­ciso é tratar de ajudar os que à frente de grupos eco­nó­micos se con­cen­tram em amassar lu­cros. Mesmo que isso seja feito à conta da ruína de de­zenas de mi­lhares de pe­quenas em­presas e à custa do em­po­bre­ci­mento de mi­lhões de por­tu­gueses. Coisas feias para ho­mens de fé mas que uma qual­quer bula aju­dará a sanar.



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