Velho «novo rumo»

Ângelo Alves

Reconheça-se: O XIX Congresso do Partido Socialista foi um notável espectáculo mediático. Mas nem isso conseguiu esconder a sua verdadeira essência. Desde a abertura até ao seu encerramento o Congresso do PS foi acima de tudo um acto de equilibrismo político – externo e interno –, de contradição política e, não raras vezes, de demagogia e verbo fácil. O PS queria sair de Santa Maria da Feira com a «marca» «novo rumo», era esse o guião que passou pelo «pedido» de uma maioria absoluta e pela apresentação de propostas concretas.

E aqui começa a profunda contradição política do conclave socialista. É que se se fala de maioria absoluta, pressupõe-se que se defende eleições, que se é oposição e que se quer governar o País. Pois, mas para o PS não é bem assim! O PS quer uma maioria absoluta, certo, mas não é pra já! As expressões «eleições antecipadas» ou «demissão do Governo» foram palavras proibidas nos discursos do Europarque. Ficamos portanto com um «pedido» de uma maioria absoluta que não o é assim tanto, numas eleições que claramente o PS não deseja para já.

Mas a mais grave contradição deste congresso reside no real conteúdo do tal «novo rumo». As «propostas concretas» mais não foram do que uma forma de ocultar o real rumo estratégico. E esse, rumo, o velho rumo do PS, está bem patente na reafirmação dos «compromissos internacionais e com a União Europeia» – leia-se pacto de agressão das troikas; na defesa do «salto federal» na União Europeia – leia-se apoio ao actual rumo da União Europeia e a todas as suas políticas; na profissão de fé face ao euro e na defesa da «austeridade que não a dos cortes cegos» – leia-se o regresso à linha política dos PEC do governo Sócrates e o apoio as medidas tomadas até agora pelo Governo PSD/CDS.

O PS quis sair da Feira com um «novo rumo», afirmando-se como «alternativa». Mas sai do seu Congresso com um problema: É que aquilo que apresentou mais não é do que uma alternância encampotada e travestida de uma alternativa à medida das próprias contradições internas do PS. E o problema do PS é que os trabalhadores e o povo irão perceber isso.



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