As Minas dos Borges

Manuel Gouveia

Truque velho de vigarista, popularizado pelos filmes de cowboys, é o de «salgar» uma mina. Resumia-se a marosca a disparar um tiros de caçadeira contra a parede da mina, usando ouro em vez de chumbo. O «esperto» do comprador descobria o ouro e enganava o «tonto» do vendedor comprando-lhe a mina por um décimo do seu valor... para descobrir tarde de mais que a mina valia dez vez menos do que pagara por ela.

Qualquer bom truque de vigarista requer duas condições para ter sucesso: gente estúpida convencida de que é esperta; e gente disposta a tudo para ganhar dinheiro.

As «swaps» são a última vigarice (exposta) do grande capital financeiro. Um bando de governantes e administradores de empresas públicas – por estupidez, cupidez ou premeditação – realizou apostas especulativas sobre o valor futuro da taxa de juro, e, na onda, aproveitou para especular sobre muitas outras coisas. E com quem foi especular? Com os maiores especuladores que a história conheceu. Nos primeiros anos, a banca internacional deixou pingar uns tostões – depois reclamou os milhões.

É evidente que a estas vigarices não lhes chamam «rouba-tudo» ou «esfola-tugas». Chamam-nas por um anglicismo tecno-respeitável como «swaps» ou dão-lhe nomes fofinhos e reconfortantes como «seguro de crédito». Mas são puras vigarices, só possíveis porque estamos mergulhados numa economia de casino onde a máfia que gere o casino gere o Estado.

Nós até podemos acreditar que muitos dos arrogantes executantes da política de direita, com os miolos derretidos pelo lixo ideológico da burguesia e cegos pelas migalhonas com que os alimentam, caem nestas vigarices por pura e simples estupidez. Mas é a riqueza produzida pelo nosso trabalho que estão a enviar para os bolsos dos especuladores. E é o futuro de todo um povo que estão a hipotecar para alimentar um bando de parasitas.

Depois de reconhecido pelo Governo o montante do roubo com as «swaps» – perto de três mil milhões de euros – como os trabalhadores e o PCP vinham denunciando há mais de um ano, ouvir uma secretária de Estado afirmar que «a maioria das swaps são operações legítimas» é de colocar qualquer um aos gritos: RUA! RUA! RUA!



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