Há novos deuses no Olimpo

Henrique Custódio

Pairando sobre a Humanidade como deuses do Olimpo, os poderosos sempre se portaram como tal: olhando com desprezo os povos que governam e cujos destinos traçam a seu bel-prazer, desfrutando, nos seus quotidianos de ambrósia e néctar, de quem lhes agrade até se fartarem, e usando as massas nos seus jogos de poder, com isso desencadeando regularmente monstruosos genocídios.

Isto muito em resumo.

Acontece que os novos deuses do Olimpo são notoriamente rascas, e os que dardejam sobre a Europa padecem de uma tal cupidez que estão a colapsar o império que almejaram.

Esse império foi urdido quando o imperialismo da Alemanha e da França, mais os então comparsas Itália e BENELUX, se lançaram na transformação da sua Comunidade do Carvão e do Aço, de 1951, numa «Comunidade Económica Europeia» (CEE) que abrangesse a generalidade da Europa Ocidental. «Convergência» foi a palavra mágica utilizada para cativar os povos e o seu voto favorável, devidamente pastoreados pelos respectivos governos burgueses nacionais (entre nós ficaram famosos os ditirambos de Mário Soares à adesão e o júbilo de Cavaco Silva por sermos «bons alunos» e marcharmos «no pelotão da frente»). «Convergência» na coesão económica e social, ou seja, a promessa da «Europa rica» aos seus próprios povos e aos povos dos países «pobres» da periferia de que, com a integração na CEE, vinha aí o leite e o mel do desenvolvimento e do alto nível de vida europeu.

Nesta conformidade, jorraram fundos para subsídios cirúrgicos que, em Portugal, pagaram a destruição da nossa economia, nomeadamente a indústria naval e pesada, as pescas e a agricultura.

Entretanto, alguns tratados foram atrelando a autonomia política dos «membros» aos ditames da já União Europeia (UE) onde, no seu núcleo duro, ocorrera uma alteração de peso, a unificação da Alemanha, o que a transformou na nova superpotência europeia.

O rebentamento da crise do «subprime» em 2007 abriu um buraco abissal no sistema financeiro mundial, que a generalidade dos governos assumiu – «para salvar o sistema financeiro», sem o confrontar, castigar, modificar ou, sequer questionar –, pondo os respectivos povos a pagar a conta. Os «deuses» da UE aproveitaram a embalagem e impuseram a ditadura do défice, a par da mentirosa propaganda de que «a despesa pública» é que era a culpada da crise, cortando nela forte e feio e levando na enxurrada direitos adquiridos do chamado Estado social.

E 27 anos depois, o «leite e mel» prometidos aos povos europeus com a UE está transformado num pesadelo de desemprego e miséria em Portugal, na Grécia, em Espanha, na Irlanda, e já na Itália, e também em França, onde o desemprego já ultrapassou os seis milhões, e mesmo na Alemanha, onde já há gente a trabalhar por 400 euros/mês.

Os novos deuses do Olimpo são de facto muito rascas – mas, ao tanto abusarem dos povos europeus, arriscam, como retorno, um vulcão social a submergi-los...



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