Protesto é justo e legítimo
O PCP considera um manifesto exagero dizer que «está em causa a democracia ou a liberdade de expressão», como insinuou o PSD, a propósito do recente protesto de estudantes numa universidade de onde o ministro Miguel Relvas acabou por se retirar sem discursar como previsto.
Esta posição foi assumida pelo presidente do Grupo Parlamentar do PCP, dia 20, na sequência de uma intervenção do responsável pela bancada do PSD, Luís Montenegro, que instou os partidos a condenarem o que classificou de «ataque à democracia», numa referência directa ao episódio ocorrido no ISCTE e que envolveu o ministro dos Assuntos Parlamentares.
Desafio que não foi correspondido por nenhuma das bancadas da oposição, com Bernardino Soares a acusar a bancada do PSD de procurar «confundir a defesa da democracia com a condenação do protesto», não sem antes a convidar a trazer «elementos de serenidade» e «não a acicatar um debate que está já muito extremado».
Carlos Zorrinho (PS), pelo seu lado, imputou à «falta de credibilidade do Governo a principal causa de crispação» que hoje se vive, e o BE, pela voz de Cecília Honório, constatou como a bancada laranja convive mal com a liberdade de expressão, não suportando «ouvir a palavra dos jovens cada vez mais esmagados pelas propinas, pela falta de acção social escolar».
Mas foi da bancada comunista que veio a crítica mais incisiva e mordaz. «A credibilidade do Governo perante a troika é inversamente proporcional à credibilidade que tem perante os portugueses», asseverou Bernardino Soares, para logo corrigir Luís Montenegro, observando-lhe que «não há uma minoria contra a política do Governo», como aquele afirmara, mas, pelo contrário, «uma maioria contra a política do Governo».
Reconhecendo que «há legitimidade democrática nesta maioria» – isso não é posto em causa –, o que não há, do ponto de vista do PCP, é «legitimidade política» para o que o Governo está a fazer.
«A democracia não é um cheque em branco. Não há eleições e depois faz-se o que se quiser, independentemente do que se prometeu antes das eleições. Para isso não há legitimidade», sublinhou o presidente do Grupo Parlamentar do PCP.
Bernardino Soares não deixou ainda de registar que quando um ministro como Miguel Relvas, «que já disse no pleno exercício da sua liberdade de expressão as maiores barbaridades (como a de dizer aos jovens para saírem da sua zona de conforto), um ministro de um governo que expulsa os estudantes do Ensino Superior pelo pagamento de propinas e pela falta de acção social escolar, quando este ministro – logo ele – vai para uma universidade discursar, vai à procura dos acontecimentos».
E terminou lembrando um poema de Brecht: «do rio que tudo arrasta se diz que é violento, mas ninguém diz que são violentas as margens que o comprimem».