Novo escândalo com injecção de milhões no Banif

Salvar bancos à custa do povo

A anunciada operação do Governo para o Banif é mais um negócio escandaloso que ilustra bem a natureza das suas opções e ao serviço de quem está a sua política.

Para a banca nunca falta o dinheiro

Trata-se, em síntese, de uma injecção no banco de 1100 milhões de euros que, embora tornando o Estado o seu maior accionista, continua a manter o controlo nas mãos dos accionistas privados.

Este é, pois, mais um exemplo de como o «Governo, despudoradamente, coloca os dinheiros públicos – o dinheiro de todos nós – ao serviço dos grandes interesses privados», denunciou faz hoje oito dias no Parlamento o deputado comunista Paulo Sá em declaração política, perante um estranho mas sintomático silêncio das bancadas da maioria governamental e também do PS.

Não obstante as duríssimas críticas ao Governo e à sua política, a verdade é que as bancadas do PSD e do CDS-PP fugiram a este debate e confinaram-se a um absoluto mutismo, tendo ouvido sem pestanejar o deputado do PCP afirmar da tribuna que não é verdade que todos os portugueses estejam a ser atingidos pelas políticas do programa da troika, como procura fazer crer o Executivo e como afirmou o Presidente da República na sua mensagem de Ano Novo.

«Há um grupo muito reduzido de portugueses – os senhores do grande capital, banqueiros, especuladores financeiros e grandes accionistas dos grupos económicos – que é beneficiário directo desta política», sublinhou o deputado do PCP, observando que para estes «será um ano em cheio, um ano em que, mais uma vez, com a cumplicidade activa do PR, se apropriarão da riqueza produzida por quem vive do seu trabalho».

Insaciáveis

Mas o que sobretudo sobressai de mais este caso de intervenção protectora à banca é que para «satisfazer os apetites dos banqueiros» nunca falta o dinheiro.

Com efeito, como assinalou Paulo Sá, esta injecção de dinheiro no Banif surge na sequência de outras semelhantes realizadas em 2012 para benefício do BCP e do BPI, em que o Governo usou 5600 milhões de euros dos 12 000 milhões reservados no pacto de agressão para a banca privada.

«A isto poderíamos somar os milhares de milhões de euros enterrados no BPN e no BPP, os 35 000 de garantias estatais à banca, bem como os 8000 milhões de euros de juros agiotas pagos anualmente por uma dívida pública externa que não pára de crescer», acrescentou o deputado do PCP, antes de lembrar que esse «rio de dinheiro que corre abundantemente dos cofres do Estado para o sector financeiro é dinheiro roubado aos portugueses por via da imposição de brutais medidas de austeridade», medidas que conhecem novo agravamento com o OE para 2013 aprovado por PSD e CDS-PP e promulgado pelo PR, com repercussões no novo ano ainda mais terríveis sobre a vida dos trabalhadores e do povo.

O povo é que paga

Daí que Paulo Sá tenha apontado o dedo às bancadas da maioria governamental, ao Governo e ao PR – «sem esquecer o PS que também subscreveu o pacto de agressão» –, responsabilizando-os, a todos, pelo «empobrecimento da esmagadora maioria dos portugueses, pelo afundamento da economia nacional, e pelo crescimento galopante do desemprego e pelas falências de inúmeras empresas».

É que a factura da crise, como o PCP tem dito, «não está a ser paga por quem a provocou e com ela lucrou» mas sim pelos trabalhadores, «com a redução dos salários e das pensões, o roubo dos subsídios, o aumento brutal de impostos, a redução das prestações e apoios sociais e os cortes na saúde e na educação».

Crise do sistema

A mentirosa tese de que «os portugueses viveram acima das suas possibilidades», sendo por isso «responsáveis pelas actuais dificuldades do País», tão do agrado do Governo e seus acólitos, foi de novo refutada energicamente por Paulo Sá, que sublinhou não ter qualquer sustentação na «realidade dos factos», sendo antes uma tentativa tosca de transferir a culpa da crise para os trabalhadores e o povo.

É que a crise financeira que deflagrou nos EUA em 2008 e rapidamente se espalhou pelo mundo, lembrou, é «o culminar de um processo de globalização financeira que desmantelou todas as estruturas e mecanismos de regulação e de controlo da actividade financeira e de movimento de capitais, permitindo uma vaga sem precedentes de concentrações, fusões e aquisições de empresas financeiras e a subalternização das empresas não financeiras ligadas à economia real».

Paulo Sá fez notar ainda que a «aceleração do processo de financeirização do sistema capitalista acabou por desembocar numa crise financeira devastadora, que rapidamente degenerou em crise económica e social».

Tocada a campainha de alarme, visando salvar os lucros do sistema financeiro e suas actividades especulativas, é aí que intervêm os estados, montando «operações de salvamento com o dinheiro dos contribuintes».

A consequência imediata, essa, foi o agravamento dos défices orçamentais e das dívidas públicas, como bem recordou Paulo Sá, assinalando que no nosso País, por exemplo, o défice saltou de 3,2% em 2007 para 10,2% em 2009, enquanto a dívida pública cresceu, no mesmo período, de 68% para 83% do PIB.

O resto da história, também não é segredo. Depois de salvas pelos estados, as instituições financeiras apostaram na especulação «contra as dívidas soberanas, para imporem, logo a seguir, programas draconianos destinados a confiscar os direitos e os rendimentos dos trabalhadores».

 



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