Travar o roubo que continua
Os dados da execução orçamental recentemente divulgados provam, para o PCP, que o empobrecimento que está a ser imposto ao País serve apenas para transferir milhões para o grande capital.
O Governo pretende continuar a roubar os mesmos
Numa reacção aos dados divulgados na segunda-feira, Vasco Cardoso, da Comissão Política, realçou que eles revelam uma «pronunciada quebra na receita fiscal, a par de uma subida da despesa sobretudo devido ao agravamento dos juros pagos à banca». Na linha, aliás, daquilo que sem surpresa tem vindo a acontecer ao longo dos últimos meses, acrescentou.
Para o dirigente comunista, os valores registados são inseparáveis da «política de exploração e empobrecimento que está a aprofundar a recessão económica e a transformar a vida de grande parte do povo português num inferno» e confirmam ainda que os sacrifícios imensos que estão a ser impostos aos trabalhadores e ao povo «não são nem para combater o problema da dívida e muito menos para combater o problema do défice». São, isso sim, «uma forma inaceitável de continuar a transferir milhões de euros de recursos públicos para o grande capital nacional e estrangeiro».
Vasco Cardoso rejeitou ainda que estes dados autorizem o prosseguimento de novos roubos, conforme anunciou nesse mesmo dia o primeiro-ministro. No fundo, destacou o dirigente do PCP, o que o Governo veio fazer, a propósito da realização da reunião da concertação social, foi «apresentar a intenção de roubar o mesmo e aos mesmos». Ou seja, precisamente «aquilo que diz não querer roubar com a mão esquerda prepara-se para tirar com toda a força com a mão direita, na medida em que mantém a intenção de, a propósito do cumprimento das metas do défice, roubar o valor equivalente a dois salários aos trabalhadores da administração pública e aos reformados e de um salário aos trabalhadores do sector privado, deixando mais uma vez, e de forma escandalosa, intocáveis os rendimentos do capital».
Para o membro da Comissão Política do Comité Central, o Governo procura encobrir este objectivo com a ideia de que vai «devolver» um subsídio aos trabalhadores da administração pública, num exemplo de «cinismo» e «hipocrisia» que o povo português «não pode e não vai aceitar». Por muito que tentem, garantiu Vasco Cardoso, o «povo português não aceitará passar por parvo» como pretendeu fazer o primeiro-ministro com as suas declarações de segunda-feira.
Rejeitar o pacto de agressão
No sábado, antes de serem conhecidas as conclusões da reunião do Comité Central, que estava a decorrer, o PCP promoveu uma conferência de imprensa sobre a reunião do Conselho de Estado realizada na véspera. Na ocasião, Jaime Toga, da Comissão Política, sublinhou que o País não precisa de «apelos ao prosseguimento de um programa de ingerência externa que está a conduzir a vida dos portugueses e do País para o desastre», mas sim da rejeição do pacto de agressão.
Já então o PCP alertava para as manobras que o Governo tinha em curso (como se confirmou com o anúncio de segunda-feira do primeiro-ministro) relativamente aos retoques e «modulações» na TSU – manobras que procurariam esconder, como se confirmou, a manutenção do objectivo de «assalto aos salários e rendimentos dos trabalhadores e dos reformados, e o escandaloso e consequente rumo de declínio e retrocesso». Jaime Toga salientou ainda que o que verdadeiramente inquieta os portugueses não é a «agitada crise política» mas sim a «crise social em que as suas vidas mergulharam».
Nas duas conferências de imprensa, o PCP reafirmou a necessidade de elevar a luta de massas pela rejeição do pacto de agressão que PS, PSD e CDS assumiram com a troika estrangeira e pela exigência de uma nova política. A manifestação do próximo sábado, em Lisboa, é um ponto alto dessa luta.