Coragem e combatividade
Os comunistas tiveram um grande envolvimento na greve
A greve geral teve, no distrito do Porto, um «grande impacto e adesões muito significativas», garantiu num comunicado emitido no dia 23 a Direcção da Organização Regional do Porto do PCP. Nessa nota, os comunistas começam por saudar os trabalhadores pela construção e concretização da greve que assumiu uma tão «elevada expressão no distrito do Porto e uniu diversos sectores e camadas no protesto, na luta e na exigência».
Especial referência mereceu a União dos Sindicatos do Porto pelo «papel que teve na divulgação e realização da greve, pela organização da grande e combativa concentração e desfile», que se realizou na Praça dos Leões (ver caixa). O PCP guardou ainda uma palavra para os militantes e organizações do Partido, «pelo seu envolvimento e papel activo no êxito desta jornada de luta».
No que respeita à indústria, o PCP destacou as «expressões significativas» alcançadas em vários sectores e empresas, «como são exemplos a Sakti, a Groz Bekert, a CaetanoBus, a Socometal, a Camo». No sector da construção civil e do mobiliário, a greve fez-se sentir em muitas empresas de pequena ou grande dimensão, registando-se adesões superiores a 60 por cento em mais de meia centena de empresas destes sectores.
Nos transportes, para além da adesão registada em várias operadoras privadas, os comunistas realçam a grande participação na STCP, com mais de 90 por cento na Madrugada e uma adesão global de 80 por cento. No Metro do Porto, com adesão superior a 90 por cento, verificou-se o «funcionamento muito condicionado e apenas em dois troços e a ausência de ligação aos concelhos de Gondomar, da Maia, da Póvoa de Varzim, de Vila do Conde, ao centro de Matosinhos e ao aeroporto», acrescenta-se no comunicado. Já na CP atingiu-se uma «greve total no período da noite e uma adesão global superior a 95 por cento».
Na hotelaria, restauração, comércio e serviços, o PCP chama a atenção para as «dezenas de locais de trabalho no distrito com adesões totais ou muito significativas, destacando-se as cantinas dos hospitais de São João e Pedro Hispano, a cantina da RTP-Porto, as lojas Worten e Calzedonia do Via Catarina, a logística do Continente e a Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Varzim». Os pescadores do cerco aderiram todos à greve nos vários portos do distrito.
Uma grande jornada
Na administração local, o PCP destaca as «dezenas de serviços fechados ou fortemente afectados em vários concelhos (Porto, Matosinhos, Gondomar, Gaia, Santo Tirso)» e as várias juntas de freguesia encerradas. No caso da administração central, as implicações de uma «importante adesão de trabalhadores fizeram-se sentir com o cancelamento de centenas de consultas e no encerramento dos blocos operatórios dos principais hospitais, no encerramento de escolas, creches e jardins de infância, bem como na afectação do funcionamento de repartições de Finanças e departamentos da Segurança Social e do Ministério da Justiça».
Nos Correios, houve adesões «significativas» em vários pontos do distrito, nomeadamente nos concelhos do Porto, Gaia, Marco de Canavezes e Valongo. A paralisação também se fez sentir em vários balcões da Caixa Geral de Depósitos, onde se registou uma adesão global de 50 por cento no grande Porto. Vários balcões encerraram.
Após avançar com estes níveis de adesão, a DORP do PCP garantiu ter-se tratado de uma «grande jornada de luta, onde trabalhadores efectivos e precários, do sector público e privado, lutaram contra o pacote legislativo do Governo e pela rejeição do pacto de agressão». Nesta jornada, afirma ainda o PCP, os «jovens trabalhadores assumiram um papel destacado no esclarecimento, na mobilização e na sua construção, assumindo posturas de grande coragem e combatividade nos locais de trabalho e nos piquetes de greve, prestigiando-se e prestigiando o movimento sindical unitário».
Luta de classes, polícia e manchetes
Porto. Cidade, distrito, albergue da luta – invicta – dos trabalhadores na greve geral. Desde cedo quem andava nos piquetes de greve percebeu que esta jornada de luta seria exigente. Na STCP, a polícia procurou impedir em Francos e Via Norte o piquete de greve de chegar ao contacto com os trabalhadores – nesta última fizeram mesmo um cordão policial para o efeito.
No shopping Via Catarina, a PSP carregou sobre o piquete que lá se formava, de forma contida, é certo, mas esclarecedora… Na estação de São Bento a polícia escoltou maquinista e revisor até ao comboio, impedindo que o piquete lhes falasse. No parque de material circulante ferroviário da CP em Novelas, um sargento da GNR – já conhecido pelo seu ódio aos sindicatos – deu ordem de prisão a dois membros do piquete, sem motivo algum para o fazer, que não o da sua própria raiva reaccionária.
A história segue...
Durante a tarde, tal como no ano anterior, população e trabalhadores juntaram-se na Praça da Liberdade, na manifestação convocada pela União de Sindicatos do Porto e daí partiram, desfilando, em direcção à Praça dos Leões, onde se esperava a visita do primeiro-ministro à Reitoria da Universidade.
Seguiram-se intervenções de dirigentes sindicais, acolhidas pelos presentes com fortes palavras de ordem. Seguiu-se a chegada – envergonhada – de Passos Coelho, que do lado de lá do cordão de segurança montado pela polícia, nem pareceu olhar para a multidão que o apupava; numa alegoria do divórcio que separa o mundo da paz social apregoada pelos servidores do capital do mundo real e da luta de classes.
Seguiram-se incidentes – isolados e pontuais – entre polícia e manifestantes. Seguiram-se manchetes de jornais, que prontamente os empolaram em prejuízo da descaracterização da grande greve geral de 22 de Março. Seguirá a história, com a luta dos trabalhadores como seu motor.