Uma greve de grande dimensão no Porto

Coragem e combatividade

Os co­mu­nistas ti­veram um grande en­vol­vi­mento na greve

Image 10033

A greve geral teve, no dis­trito do Porto, um «grande im­pacto e ade­sões muito sig­ni­fi­ca­tivas», ga­rantiu num co­mu­ni­cado emi­tido no dia 23 a Di­recção da Or­ga­ni­zação Re­gi­onal do Porto do PCP. Nessa nota, os co­mu­nistas co­meçam por saudar os tra­ba­lha­dores pela cons­trução e con­cre­ti­zação da greve que as­sumiu uma tão «ele­vada ex­pressão no dis­trito do Porto e uniu di­versos sec­tores e ca­madas no pro­testo, na luta e na exi­gência».

Es­pe­cial re­fe­rência me­receu a União dos Sin­di­catos do Porto pelo «papel que teve na di­vul­gação e re­a­li­zação da greve, pela or­ga­ni­zação da grande e com­ba­tiva con­cen­tração e des­file», que se re­a­lizou na Praça dos Leões (ver caixa). O PCP guardou ainda uma pa­lavra para os mi­li­tantes e or­ga­ni­za­ções do Par­tido, «pelo seu en­vol­vi­mento e papel ac­tivo no êxito desta jor­nada de luta».

No que res­peita à in­dús­tria, o PCP des­tacou as «ex­pres­sões sig­ni­fi­ca­tivas» al­can­çadas em vá­rios sec­tores e em­presas, «como são exem­plos a Sakti, a Groz Be­kert, a Ca­e­ta­noBus, a So­co­metal, a Camo». No sector da cons­trução civil e do mo­bi­liário, a greve fez-se sentir em muitas em­presas de pe­quena ou grande di­mensão, re­gis­tando-se ade­sões su­pe­ri­ores a 60 por cento em mais de meia cen­tena de em­presas destes sec­tores.

Nos trans­portes, para além da adesão re­gis­tada em vá­rias ope­ra­doras pri­vadas, os co­mu­nistas re­alçam a grande par­ti­ci­pação na STCP, com mais de 90 por cento na Ma­dru­gada e uma adesão global de 80 por cento. No Metro do Porto, com adesão su­pe­rior a 90 por cento, ve­ri­ficou-se o «fun­ci­o­na­mento muito con­di­ci­o­nado e apenas em dois troços e a au­sência de li­gação aos con­ce­lhos de Gon­domar, da Maia, da Póvoa de Varzim, de Vila do Conde, ao centro de Ma­to­si­nhos e ao ae­ro­porto», acres­centa-se no co­mu­ni­cado. Já na CP atingiu-se uma «greve total no pe­ríodo da noite e uma adesão global su­pe­rior a 95 por cento».

Na ho­te­laria, res­tau­ração, co­mércio e ser­viços, o PCP chama a atenção para as «de­zenas de lo­cais de tra­balho no dis­trito com ade­sões to­tais ou muito sig­ni­fi­ca­tivas, des­ta­cando-se as can­tinas dos hos­pi­tais de São João e Pedro His­pano, a can­tina da RTP-Porto, as lojas Worten e Cal­ze­donia do Via Ca­ta­rina, a lo­gís­tica do Con­ti­nente e a Santa Casa da Mi­se­ri­córdia da Póvoa de Varzim». Os pes­ca­dores do cerco ade­riram todos à greve nos vá­rios portos do dis­trito.

 

Uma grande jor­nada

 

Na ad­mi­nis­tração local, o PCP des­taca as «de­zenas de ser­viços fe­chados ou for­te­mente afec­tados em vá­rios con­ce­lhos (Porto, Ma­to­si­nhos, Gon­domar, Gaia, Santo Tirso)» e as vá­rias juntas de fre­guesia en­cer­radas. No caso da ad­mi­nis­tração cen­tral, as im­pli­ca­ções de uma «im­por­tante adesão de tra­ba­lha­dores fi­zeram-se sentir com o can­ce­la­mento de cen­tenas de con­sultas e no en­cer­ra­mento dos blocos ope­ra­tó­rios dos prin­ci­pais hos­pi­tais, no en­cer­ra­mento de es­colas, cre­ches e jar­dins de in­fância, bem como na afec­tação do fun­ci­o­na­mento de re­par­ti­ções de Fi­nanças e de­par­ta­mentos da Se­gu­rança So­cial e do Mi­nis­tério da Jus­tiça».

Nos Cor­reios, houve ade­sões «sig­ni­fi­ca­tivas» em vá­rios pontos do dis­trito, no­me­a­da­mente nos con­ce­lhos do Porto, Gaia, Marco de Ca­na­vezes e Va­longo. A pa­ra­li­sação também se fez sentir em vá­rios bal­cões da Caixa Geral de De­pó­sitos, onde se re­gistou uma adesão global de 50 por cento no grande Porto. Vá­rios bal­cões en­cer­raram.

Após avançar com estes ní­veis de adesão, a DORP do PCP ga­rantiu ter-se tra­tado de uma «grande jor­nada de luta, onde tra­ba­lha­dores efec­tivos e pre­cá­rios, do sector pú­blico e pri­vado, lu­taram contra o pa­cote le­gis­la­tivo do Go­verno e pela re­jeição do pacto de agressão». Nesta jor­nada, afirma ainda o PCP, os «jo­vens tra­ba­lha­dores as­su­miram um papel des­ta­cado no es­cla­re­ci­mento, na mo­bi­li­zação e na sua cons­trução, as­su­mindo pos­turas de grande co­ragem e com­ba­ti­vi­dade nos lo­cais de tra­balho e nos pi­quetes de greve, pres­ti­gi­ando-se e pres­ti­gi­ando o mo­vi­mento sin­dical uni­tário».

Image 10034

Luta de classes, po­lícia e man­chetes

 

Porto. Ci­dade, dis­trito, al­bergue da luta – in­victa – dos tra­ba­lha­dores na greve geral. Desde cedo quem an­dava nos pi­quetes de greve per­cebeu que esta jor­nada de luta seria exi­gente. Na STCP, a po­lícia pro­curou im­pedir em Francos e Via Norte o pi­quete de greve de chegar ao con­tacto com os tra­ba­lha­dores – nesta úl­tima fi­zeram mesmo um cordão po­li­cial para o efeito.

No shop­ping Via Ca­ta­rina, a PSP car­regou sobre o pi­quete que lá se for­mava, de forma con­tida, é certo, mas es­cla­re­ce­dora… Na es­tação de São Bento a po­lícia es­coltou ma­qui­nista e re­visor até ao com­boio, im­pe­dindo que o pi­quete lhes fa­lasse. No parque de ma­te­rial cir­cu­lante fer­ro­viário da CP em No­velas, um sar­gento da GNR – já co­nhe­cido pelo seu ódio aos sin­di­catos – deu ordem de prisão a dois mem­bros do pi­quete, sem mo­tivo algum para o fazer, que não o da sua pró­pria raiva re­ac­ci­o­nária.

 

A his­tória segue...

 

Du­rante a tarde, tal como no ano an­te­rior, po­pu­lação e tra­ba­lha­dores jun­taram-se na Praça da Li­ber­dade, na ma­ni­fes­tação con­vo­cada pela União de Sin­di­catos do Porto e daí par­tiram, des­fi­lando, em di­recção à Praça dos Leões, onde se es­pe­rava a vi­sita do pri­meiro-mi­nistro à Rei­toria da Uni­ver­si­dade.

Se­guiram-se in­ter­ven­ções de di­ri­gentes sin­di­cais, aco­lhidas pelos pre­sentes com fortes pa­la­vras de ordem. Se­guiu-se a che­gada – en­ver­go­nhada – de Passos Co­elho, que do lado de lá do cordão de se­gu­rança mon­tado pela po­lícia, nem pa­receu olhar para a mul­tidão que o apu­pava; numa ale­goria do di­vórcio que se­para o mundo da paz so­cial apre­goada pelos ser­vi­dores do ca­pital do mundo real e da luta de classes.

Se­guiram-se in­ci­dentes – iso­lados e pon­tuais – entre po­lícia e ma­ni­fes­tantes. Se­guiram-se man­chetes de jor­nais, que pron­ta­mente os em­po­laram em pre­juízo da des­ca­rac­te­ri­zação da grande greve geral de 22 de Março. Se­guirá a his­tória, com a luta dos tra­ba­lha­dores como seu motor.



Mais artigos de: Em Foco

Poderosa afirmação de protesto<br>e de exigência de mudança

Numa de­cla­ração pro­fe­rida ao final da tarde do dia 22 e en­viada aos ór­gãos de co­mu­ni­cação so­cial, que trans­cre­vemos na ín­tegra, Je­ró­nimo de Sousa ava­liou a greve geral re­a­li­zada nesse dia e apelou à con­ti­nu­ação da luta contra o pacto de agressão e por um Por­tugal com fu­turo.

Êxito move a luta de todos

No sector dos transportes e comunicações, a greve geral foi «mais uma forte e vigorosa jornada de luta», destaca a Fectrans. Numa saudação que distribuiu dia 23, a estrutura sectorial da CGTP-IN assinala «uma ampla unidade na acção...

Mais força para continuar a luta

No distrito de Leiria, o dia 22 de Março foi vivido como uma grande jornada de luta onde os trabalhadores manifestaram o seu repúdio pelas políticas do Governo PSD/CDS/PP e demonstraram combatividade para continuar a luta. Uma combatividade que ficou patente quer na...

Forte adesão no público e no privado

O Governo e os seus cães de fila bem se esforçaram por tentar fazer crer que a greve geral foi «só» do sector público – como se isso, a ser verdade, fosse coisa pouca – mas a realidade encarregou-se de os desmentir. No distrito de...

Solidariedade internacional

O Secretariado da Federação Sindical Mundial enviou à CGTP-IN uma «forte mensagem de solidariedade aos trabalhadores portugueses e à sua luta». A UIST (União Internacional dos Sindicatos de Trabalhadores de Transportes, estrutura sectorial da FSM)...

Grande greve geral

Para a CGTP-IN, os trabalhadores portugueses realizaram «uma grande greve geral, com expressão semelhante às greves gerais mais recentes». Concretizada «no momento oportuno», ela «já deu muitos resultados». Para publicamente avaliar a jornada de 22 de...

Jovens exigem este país

«Este país também é para jovens!» – clama a Interjovem/CGTP-IN, apelando à participação na manifestação nacional da juventude trabalhadora, que vai ter lugar no próximo sábado, em Lisboa. A exigência...

JCP com quem luta

A greve geral mostrou que «a juventude está na rua a lutar», porque «foram muitos os jovens que participaram nesta greve, muitos deles pela primeira vez e em situações muito difíceis, com contratos precários e com o risco de perderem o seu...

Grande jornada de denúncia e de combate

Os trabalhadores da Península de Setúbal voltaram a demonstrar uma grande combatividade e determinação, aderindo de forma massiva à greve geral convocada pela CGTP-IN para a passada quinta-feira, dia 22. Nesse dia, como aliás há muito é...

Poderosa afirmação da luta que prossegue

Os trabalhadores do distrito de Lisboa deram uma poderosa resposta às alterações para pior na legislação laboral – imposição de mais dias de trabalho não pago, desregulamentação de horários e corte nas horas...

Resposta firme à brutal ofensiva

Resistindo às pressões, à chantagem de patrões e do Governo, milhares de trabalhadores dos sectores público e privado deram uma prova de dignidade, de coragem e de confiança num futuro melhor, construído a partir da acção e...

Resistência corajosa

Milhares de trabalhadores, nos diversos sectores de actividade, aderiram à greve geral em todo o distrito de Viana do Castelo. Como sublinha, em comunicado, a Direcção Regional do PCP, este protesto massivo constituiu «um sinal claro ao Governo de que é o...

Uma luta necessária

Apesar de todas as pressões a que os trabalhadores estão sujeitos dentro das suas empresas e locais de trabalho, e do contínuo agravamento das condições de vida dos jovens, das camadas laboriosas e da maioria do povo, a greve geral constituiu uma grande...

Jornada contra a resignação

Os efeitos da política anti-social do Governo, subordinado aos ditames da troika estrangeira, são bem directos e bem visíveis no interior do País, como é o caso de Vila Real: mais de 12 500 trabalhadores no desemprego, muitos dos quais sem direito a qualquer meio de subsistência;...

Ocultação e manipulação derrotadas

No distrito de Aveiro a greve geral teve uma dimensão significativa. Muitas escolas, agrupamentos, jardins de infância, repartições de finanças, serviços de segurança social, estações dos CTT, serviços municipais e de...

Impacto em todos os sectores

Não obstante o clima de condicionamento dos trabalhadores, agravado com o aumento do desemprego – no distrito atingiu mais 1000 trabalhadores por mês desde o final do ano passado –, a greve geral em Coimbra teve impactos em todos os sectores de actividade....

Sementes de futuro

Assolado pelo desemprego, pelos baixos salários, por velhos e novos fluxos migratórios, pelo crescente afastamento das funções sociais do Estado, pela eliminação de serviços, pela ruína da agricultura, pela seca, pelas pragas e...

Defender direitos

Uma avaliação positiva da greve geral é também o que faz a Direcção da Organização Regional da Guarda do PCP, que emitiu um comunicado onde felicita todos os trabalhadores que a ela aderiram. Adesão corajosa e consciente cujo...

Um <i>não</i> à exploração

Boas notícias sobre a greve geral chegam também do distrito de Castelo Branco. O primeiro destaque vai para o sector industrial onde se registaram adesões positivas em empresas como a Penteadora e a Paulo Oliveira, esta última com paralisação no primeiro turno de 60 por cento dos...

Revolta incontida

Nas câmaras municipais e juntas de freguesia, nas escolas, nos hospitais, nos tribunais, nas repartições e outros serviços, a adesão à greve geral mostrou o elevado nível de descontentamento dos trabalhadores da Administração...

Qualquer registo é ilegal

«Qualquer exigência de justificação ou registo de adesão à greve, oral ou escrita, é ilegal e deve ser prontamente comunicada, para ser denunciada e combatida» – reafirmou a CGTP-IN, numa nota publicada anteontem no seu sítio na...

Madeira e Açores

A adesão à greve por parte dos trabalhadores da Madeira foi «superior» à da última paralisação. A afirmação é de Álvaro Silva, coordenador da União dos Sindicatos da Madeira (USAM), em declarações à imprensa...

Forte resposta no Alentejo

Com um nível de adesão semelhante ao registados nas greves gerais de 24 de Novembro de 2010 e 2011, os trabalhadores dos distritos de Portalegre, Évora e Beja deram um forte resposta à ofensiva contra os seus direitos laborais, económicos e sociais, imposta...

Mensagem clara aos patrões

A «clara rejeição das medidas de austeridade e do pacote de alterações gravosas à legislação laboral, que o Governo e o grande patronato pretendem implementar», foi afirmada por «muitos milhares de trabalhadores dos sectores da indústria...

CGTP-IN destaca resultados

«A greve geral já deu resultados», realçou anteontem o Conselho Nacional da CGTP-IN. Na resolução aprovada assinala-se que, na fase de preparação, durante e logo após a realização da greve, várias empresas «responderam a...

Uma fortíssima adesão

No Algarve – onde a degradação das condições de vida e o aumento do desemprego se têm acentuado de forma dramática – a greve geral mobilizou largas dezenas de milhares de trabalhadores de todos os sectores de actividade. Na administração local,...

Das empresas para as ruas

Colocando em prática a palavra de ordem «A luta continua, nas empresas e na rua», tantas vezes gritada, particularmente desde 24 de Novembro, dezenas de milhares de trabalhadores levaram para as ruas, no dia 22, as justas razões por que muitos e muitos mais milhares...