Reunião Nacional de Quadros sobre organização nas empresas e locais de trabalho

Onde o Partido mais cumpre o seu papel

Mais de 300 militantes do PCP e da JCP participaram, sábado, em Lisboa, numa reunião nacional de quadros onde se debateu as medidas a tomar para reforçar a organização e intervenção do Partido nas empresas e locais de trabalho. Num momento de ofensiva brutal contra os direitos dos trabalhadores, em que se intensifica a exploração, é ainda mais necessária a presença e acção do Partido no coração da luta de classes.

Há hoje potencialidades imensas de reforço do Partido nas empresas

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Para um partido comunista, a presença junto da classe operária e dos trabalhadores é uma questão de importância estratégica, tanto pela sua natureza de classe e como pelo seu objectivo de construção do socialismo. Assim foi ontem, assim é hoje e assim será amanhã.

Mas não nos cabe viver num momento qualquer da História (algum o é?), antes num tempo complexo, marcado pela mais grave crise do sistema capitalista desde os anos 30 do século passado, marcado por uma ofensiva violentíssima contra direitos e garantias duramente conquistados e por uma luta popular intensa, que será ainda mais ampla no futuro. Um tempo cheio de obstáculos, é certo, mas igualmente carregado de potencialidades para a acção e afirmação do Partido, porventura maiores do que em qualquer outra altura da nossa história recente.

A reunião nacional de quadros do PCP sobre organização junto da classe operária e dos trabalhadores, realizada no sábado na Casa do Alentejo, ganhou, assim, uma ainda maior actualidade. Como afirmou, na abertura, Francisco Lopes, do Secretariado e da Comissão Política do Comité Central, a situação actual exige que se «eleve significativamente a organização e a intervenção do Partido nas empresas e locais de trabalho». Os passos dados nos últimos anos permitiram ao Partido resistir e consolidar a sua organização nos locais de trabalho, apesar do brutal aumento do desemprego e do encerramento de centenas de empresas. Contudo, reconheceu o dirigente do PCP, «não demos a volta que era necessária».

Assim, nas semanas e meses que aí vêm, está colocado um desafio às organizações e militantes comunistas: prosseguir e intensificar a implementação das medidas inseridas na acção de reforço do Partido Avante! Por um PCP Mais Forte, decidida pelo XVIII Congresso e concretizada pelo Comité Central. As perspectivas de crescimento do Partido nas empresas e locais de trabalho são boas, garantiu o dirigente comunista, mas para que as potencialidades existentes sejam aproveitadas é fundamental estar lá, junto dos trabalhadores.

Confiantes nas possibilidades que se abrem ao Partido, na reunião de sábado os comunistas não escamotearam nem ignoraram dificuldades que se colocam hoje à organização partidária nas empresas e, em geral, à organização dos trabalhadores, assuma ela a forma que assumir. O desemprego, a precariedade, o aumento da carga horária e o trabalho por turnos são obstáculos por demais evidentes.

Mas a realidade objectiva é esta e não outra e é dela que os militantes e organizações e militantes do Partido têm que partir para organizar e intervir. E uma coisa é certa: em nenhuma situação o Partido deixará de o fazer.

 

Organizar para intervir

 

Uma das ideias centrais patentes nas intervenções dos participantes na reunião é a de que a organização não é um fim em si mesmo, mas um «instrumento de acção e de intervenção». Seja qual for o número de militantes numa determinada empresa ou o nível de estruturação de cada organização partidária, o objectivo da intervenção do Partido deve ser sempre o mesmo: consciencializar, organizar e mobilizar. Para Francisco Lopes, «este é o papel dos militantes e das organizações do Partido», acrescentando ser precisamente «para isto e por isto que queremos a organização e a estrutura do Partido».

Ao falar-se de organização do Partido nas empresas e locais de trabalho, fala-se obrigatoriamente de células de empresa que, segundo Francisco Lopes, são a «mais importante organização de base do Partido» e constituem um «grau superior da organização dos trabalhadores». As alterações que o Governo pretende introduzir na contratação colectiva, procurando retirá-la do âmbito dos sindicatos e passando-a para o plano da empresa, colocarão os locais de trabalho ainda mais no centro da luta de classes. A existência, aí, de organização partidária ganha assim uma crescente e decisiva importância.

A criação de células ou o constante reforço das existentes deverá ser uma preocupação constante dos comunistas, mesmo em empresas ou sectores com elevada precariedade. É preciso «erradicar de uma vez» a ideia de que onde há precariedade não é possível organizar, intervir e resistir. Na reunião nacional surgiram muitos relatos a dar razão a esta ideia.

O dirigente do PCP apelou ainda à concentração de esforços no recrutamento de trabalhadores para o Partido e a sua integração imediata nas células e sectores. «Uma das primeiras respostas que os trabalhadores podem dar a esta situação é precisamente aderir ao PCP.» Para tal, os militantes não devem estar à espera que os trabalhadores dêem esse passo por si só e devem abordá-los para que o façam, sobretudo aqueles que mais se destacam na defesa dos seus companheiros de trabalho. Terá sido com satisfação que os militantes presentes ouviram um dos oradores informar que dos oito novos membros do Partido num grande hipermercado da Margem Sul do Tejo cinco são delegados sindicais.

A intervenção dos comunistas nas organizações representativas dos trabalhadores e o papel que devem assumir para as dinamizar, e a importância de levar a cabo um trabalho sistemático de agitação e propaganda nas empresas foram outros dos temas em destaque. Ao longo do dia, as intervenções proferidas provaram que o Partido não só tem condições para crescer e afirmar-se junto da classe operária como já o está a fazer.


Do ir «lá» ao estar «lá»

 

Em muitas dezenas de intervenções, militantes do Partido e da JCP de todo o País partilharam experiências de acção nas empresas. Nuns casos, os relatos referiam-se a grandes células, com trabalho consolidado e um imenso prestígio entre os trabalhadores; noutros, a pequenos passos – por vezes «apenas» um recrutamento, uma simples «ponta» ou a eleição de um delegado sindical. Todas espelhando um trabalho intenso, alicerçado em múltiplos contactos e conversas e numa corajosa e criativa acção política.

Comecemos pelos segundos. Vindo do Algarve, um militante da JCP, sublinhando que a «insistência dá frutos», contou que poderá estar por dias a criação de uma célula numa grande superfície comercial da região. Quando os membros da JCP começaram a contactar com os jovens trabalhadores dos centros comerciais (e praticamente não há semana que não o façam) não tinham lá qualquer militante. Com o tempo, os jovens foram «conhecendo o nosso projecto e discutindo as nossas ideias».

De Vila Franca de Xira e de Coimbra veio a convicção de que conversar com os trabalhadores pode ser um passo fundamental para os esclarecer, mobilizar e, quem sabe, recrutar: se tiver que ser durante a pausa para fumar ou na paragem do autocarro mais próxima, seja. Se a conversa tiver que começar com o futebol ou com a música, que comece… No caso de Coimbra, a intervenção do Partido junto dos motoristas de pesados de mercadorias, hoje regular e frutuosa, nasceu precisamente do contacto persistente dos comunistas com esses trabalhadores nos seus locais de descanso e refeição.

A edição de boletins e comunicados com os problemas específicos de cada empresa ou sector é igualmente essencial. Como afirmou Paulo Raimundo, da Comissão Política, é preciso «armar os trabalhadores da opinião do Partido». Em Lisboa, a JCP edita regularmente três boletins para outros tantos sectores, considerados prioritários: o Chamada Vermelha, para os centros de contacto; o Vanguarda, para as grandes superfícies; o Terminal 25, para o aeroporto.

A precariedade, o alargamento dos horários e o trabalho por turnos, que marcam hoje o dia-a-dia dos locais de trabalho, têm reflexos nas organizações do Partido. Como afirmou Paulo Raimundo, há que manter e generalizar as «rotinas boas» e romper com as más. No Porto, havendo mais de 20 militantes em empresas de hotelaria, «é complicado reunir com mais do que três ou quatro ao mesmo tempo», relatou um militante da organização. Assim, numa semana reúne-se com esses «três ou quatro» e na semana seguinte com outros tantos.

Mesmo as grandes células têm que se adaptar a estas novas realidades. Na Saint-Gobain Sekurit (ex-Covina), por exemplo, há um responsável por, em cada turno, recolher as opiniões dos camaradas e transmitir-lhes as decisões assumidas. Como resultado destas e de outras alterações, a célula está hoje mais forte e mais coesa. Também na Autoeuropa a célula «reúne regularmente e assume o seu papel de direcção», afirmou na reunião um membro da célula. «O seu funcionamento requer um trabalho exigente, uma grande persistência e uma acção constante dos militantes do Partido, tendo em conta as condições da fábrica: trabalho em linhas de montagem com pausas muito curtas e turnos rotativos.»


Impulsionar a luta

 

Quando João Frazão, da Comissão Política, afirmou na reunião que «nas empresas e locais de trabalho onde não há células também aí devem os comunistas oferecer-se para desempenhar tarefas no movimento sindical e promover a sindicalização», já muitos exemplos disto tinham sido referidos pelos participantes.

Um militante do Porto contou que a presença regular do Partido num centro de contacto foi fundamental para que os trabalhadores se mobilizassem e lutassem contra o roubo nos prémios a que tinham direito. Como resultado desta luta, 80 dos 140 trabalhadores sindicalizaram-se num sindicato da CGTP-IN, realizaram plenários e elegeram dois delegados sindicais. A luta deu resultado e os trabalhadores conseguiram reaver os prémios não pagos.

Semelhante coragem tiveram dezenas de trabalhadores com vínculos precários da Bosch de Braga que, unidos em torno do seu sindicato, conseguiram passar a efectivos. Como afirmou uma militante da JCP, isto prova a «eficácia da acção organizada».

Mesmo em empresas ou sectores onde há células, os comunistas assumem destacados papéis em sindicatos e Comissões de Trabalhadores. No Porto, se muitos dos elementos que constituem as organizações representativas dos trabalhadores do sector ferroviário são jovens e comunistas é porque os seus colegas de trabalho «lhes reconhecem capacidade», afirmou um membro da célula da EMEF.

O envolvimento crescente dos comunistas na Comissão de Trabalhadores da Renault/Cacia levou a que muitas das medidas negativas aceites pela anterior CT fossem matizadas e que 60 trabalhadores com vínculo precário passassem para o quadro da empresa.

Se os comunistas devem contribuir para o reforço do movimento sindical unitário não é menos verdade que os sindicalistas comunistas devem contribuir para o reforço do Partido. Como afirmaram dois militantes do PCP que são também dirigentes sindicais, de sectores tão distintos como o metalúrgico e o comércio, «onde não há células os sindicalistas têm que fazer esse papel».

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Jerónimo de Sousa

Temos que estar preparados

 

A encerrar a reunião nacional do passado sábado, Jerónimo de Sousa realçou que neste «momento particular da vida do nosso País» o Partido «é chamado a cumprir o seu papel, está a cumpri-lo e vai cumpri-lo». Reconhecendo que as exigências são grandes, o Secretário-geral comunista afirmou que «estamos preparados mas temos que nos preparar mais», pois «podemos ter que agir em circunstâncias que há muitas décadas não temos e vamos fazê-lo para resistir e para vencer».

Ao povo português, salientou Jerónimo de Sousa, «está colocada a questão: ou se conforma com a demolição pedra a pedra dos seus direitos, das suas condições de vida, do seu presente e futuro, ou se levanta e luta». No imediato, a «semana de luta convocada pela CGTP-IN e que decorrerá entre 20 e 27 de Outubro constituirá uma importante etapa, num processo que não se consome e esgota num acto ou momento mais alto».

Garantindo que a luta «terá de prosseguir, intensificar-se e alargar-se», Jerónimo de Sousa afirmou que «não há obra mais sólida e segura do que a que se alicerça numa construção que conte com a pequena e mais modesta luta» até ao seu patamar mais alto e que, «mesmo sendo um êxito, exige sempre que se comece de novo».

Aos mais de trezentos militantes que enchiam por completo o belo salão da Casa do Alentejo, o Secretário-geral comunista declarou: «temos que ter o Partido preparado para todas as circunstâncias. O Governo e o capital declararam e fazem a guerra aberta aos trabalhadores. Não bastará uma batalha para os vencer.»

 

Centralidade do trabalho

 

Para que o Partido esteja preparado para os duros combates que aí vêm, salientou Jerónimo de Sousa, assume grande centralidade a sua organização e intervenção nas empresas e locais de trabalho. E, para tal, há que conhecer a realidade na qual se pretende intervir: há cerca de dois milhões 980 mil trabalhadores com contrato permanente, um milhão e 200 mil com vínculos precários e perto de um milhão de desempregados; o número de mulheres a trabalhar é ligeiramente menor do que o de homens, sendo porém a maioria dos que se sindicalizam; quase 60 por cento da população empregada tem menos de 45 anos e 31 por cento menos de 35.

Lembrando ainda que a grande maioria dos trabalhadores laboram em pequenas e médias empresas, Jerónimo de Sousa afirmou que tal «exige na organização dos membros do Partido a constituição de sectores profissionais ou de empresa». As grandes concentrações existentes num mesmo local de trabalho ou zona, onde estão trabalhadores de diferentes empresas, requerem também «soluções de organização adequadas».

O Secretário-geral do PCP enunciou ainda as medidas organizativas, contidas aliás na resolução Avante! Por um PCP Mais Forte, que devem merecer uma grande atenção das organizações partidárias: ampliar o número de quadros do Partido que assumam a prioridade pelo trabalho nas empresas; dar especial atenção a empresas com mais de mil trabalhadores ou de importância estratégica; aumentar o número de militantes organizados nos locais de trabalho, através do recrutamento ou da transferência; intensificar a presença do Partido nas empresas através da edição e distribuição de boletins e comunicados.



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