A deriva do estupor
J. A. Lima é Director Adjunto do Sol – um semanário cuja apologética dos interesses da direita mais retrógrada vai pagando a conta – e há muitos anos que escreve por encomenda ou preconceito. É um direito que ninguém lhe nega, mas não desculpa que o faça em estado de estupor.
No artigo de sexta-feira passada, Lima parte de declarações do Secretário-geral do PCP que explicam que o PS «no poder ou próximo de o ser usa muito a rosa» e «na oposição e distante do poder usa o punho», e denunciam a assinatura do pacto das troikas como «um erro grave», para concluir da expressão «nunca é tarde» que o PCP «espera sentado» pelo PS e «centra a sua linha política na esperança da reconversão do PS». Depois, misturando BE e PS na mistificação, afirma que «a oposição de esquerda continua politicamente à deriva sem saber para que lado se virar ou que tipo de oposição fazer» e a propósito da «leveza» de Seguro sobre o «descalabro» para onde «Sócrates arrastou Portugal», conclui (pasme-se) «ao nível da desresponsabilização, Seguro e Jerónimo estão bem irmanados»(!).
Ao contrário do que afirma, Lima sabe que o PCP sempre denunciou e combateu as políticas de direita do PS, os PEC e este programa de agressão e submissão, por razões de fundo, opostas às que levaram PSD, CDS e Sol a apoiá-las, ou todos eles mais o BE a desviar-se dos problemas centrais – a exploração e a alienação da soberania –, em busca do favor (mediático), ou ganho eleitoral de circunstância.
Lima sabe que o PCP nunca esteve ou estará à espera do PS. O PCP faz política de princípios, traça o caminho da luta pela rejeição deste pacto de roubo e afundamento do País, que PSD/CDS/PS impõem ao nosso povo, denuncia e combate esta política e a hipocrisia do PS e convoca a urgência da rotura e mudança e de uma política patriótica e de esquerda, quando e como a luta o vier a colocar – veremos –, mas seguramente pelo caminho das grandes manifestações de 1 de Outubro e com muitos que votaram PS.
Lima sabe que o PCP tem toda a legitimidade para responsabilizar PS, PSD e CDS, (e Sol) «irmanados» (eles sim) na política de «austeridade» até que o País se desgrace – o mesmo caminho da Grécia.
E até Lima sabe que a sua estuporada deriva não passa de mais um vómito do seu anticomunismo ultramontano.