Contenções

Anabela Fino
Francisco Van Zeller, presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), disse esta semana que deve haver «muita contenção» no respeitante aos aumentos salariais em 2010, porque há «muitos milhares de empresas que dependem de salários baixos».
Falando à margem do 8.º Seminário «Reflexão Estratégica – Grandes Marcas: Desafios e Oportunidades», Van Zeller – dando prova de uma insólita sinceridade – reconheceu que «cerca de um quarto das exportações dependem de salários baixos», o que na sua óptica é motivo mais do que suficiente para todas as cautelas quanto a aumentos. Mais a mais, acrescenta, quando se está a «meio de uma crise».
Mais comedido no tocante à sinceridade – é um suponhamos –, o dirigente da CIP garante concordar com a mudança do modelo salarial, mas – ele há sempre um mas quando se trata de redistribuição da riqueza – considera não ser este «o momento certo» para proceder à mudança, pois «este ano foi muito complicado, atípico, houve uma baixa da inflação muito grande ou mesmo a eliminação da inflação» e «não é a meio de uma crise que se devem fazer» alterações.
Van Zeller não deixou ainda de sublinhar, não fosse haver dúvidas quanto às intenções do patronato, que um aumento salarial «desproporcionado» em 2010 fragilizaria as empresas exportadoras e poderia levar ao encerramento de muitas, o que resultaria, naturalmente, num aumento do desemprego.
Estava feito o diagnóstico e dado o recado. A famigerada «competitividade» alimenta-se da exploração do trabalho, de resto como o lucro das empresas, o que podendo não ser justo (são por ventura dúvidas existenciais do capital) é certamente necessário, pois caso contrário encerram a loja.
A tal crise, que para além de servir para alimentar a banca com dinheiros públicos e dar pretexto às empresas para uma cada vez maior precariedade nas relações de trabalho, serve agora de papão para justificar salários de miséria que nem chegam para viver. Se a isto se chama «contenção», cabe perguntar o que será para os van zelleres deste mundo a exploração…


Mais artigos de: Opinião

Abotoou-se...

De vez em quando, surgem notícias - ou apenas «bocas», rumores, boatos - a exigirem toda a atenção dos baixos sentimentos de inveja que moram no fundo de cada um de nós. Falam dos rendimentos de jogadores de futebol, de gestores, de entertainers e outras figuras do jet-set, misturando nomes e exibindo os milhares e...

O caminho foi, é e será o da luta

Tal como está inscrito no projecto de Resolução Política do XVIII Congresso do PCP, «nas condições concretas de acção e luta do PCP consideradas no Programa de uma Democracia Avançada no Limiar do Século XXI, as eleições – quer do ponto de vista da intervenção quer dos resultados – assumem uma importância que, devendo ser realçada, exige, simultaneamente, a compreensão de que não constituem, por si só, factor exclusivo de avaliação e influência do Partido, nem ajuízam da sua orientação e projecto».

As eleições farsa – Cap. II

No dia 20 de Agosto deste ano os órgãos de comunicação social propagandearam, a partir das centrais de (des)informação internacionais, a realização das «eleições» no Afeganistão como «um importante marco na estabilização do país». Nesses dias as declarações multiplicaram-se, sempre com a mesma tónica. A Administração...

Dignidade

Indiferente ao ciclo eleitoral, o processo de liquidação da produção nacional vai prosseguindo. Na indústria, nas pescas, na agricultura o País vai perdendo capacidade produtiva, o mesmo será dizer, vai perdendo empregos, riqueza, soberania. A voz do PCP é a única que, ao lado dos trabalhadores, dos pequenos empresários,...

PSD – «vira o disco e toca a mesma»

Era uma vez, no Portugal de Abril, quando PS e PSD diferiam em elementos significativos das suas orientações e política de alianças. Foi um tempo breve que mediou entre 1973 - no dealbar da revolução - e a contra-ofensiva reaccionária de 1975, do grande capital, do imperialismo e da direcção «soarista» do PS. Foi o tempo...