As eleições farsa – Cap. II

Ângelo Alves

A hipocrisia não tem de facto limites!

No dia 20 de Agosto deste ano os órgãos de comunicação social propagandearam, a partir das centrais de (des)informação internacionais, a realização das «eleições» no Afeganistão como «um importante marco na estabilização do país». Nesses dias as declarações multiplicaram-se, sempre com a mesma tónica. A Administração Obama saudou de imediato o acontecimento apelidando-o de «sucesso, apesar dos esforços dos talibãs para as perturbar». O secretário-geral da NATO repetiu o discurso do «sucesso»; a Comissão Europeia afirmou que «os homens e mulheres do Afeganistão expressaram o seu desejo de ver um desenvolvimento pacífico e democrático no seu país» e a presidência de turno sueca considerou as ditas «eleições» como «um marco importante para a democracia no Afeganistão». No momento em que se conhecem novos desenvolvimentos em torno das ditas «eleições» tais declarações merecem ser recordadas para que não se esqueça a hipocrisia e o ridículo destas. E também das outras que agora enchem as páginas dos jornais.

A chamada «Comissão de queixas eleitorais» concluiu ter encontrado «provas claras e convincentes de fraude». Os EUA mostraram-se «duros» para com o «presidente» Karzai e condicionaram inclusive o envio, já mais do que decidido, de mais tropas, argumentando que só o fariam quando existisse um «governo credível» no país. Karzai resistiu, afirmando «que os países ocidentais conspiraram para lhe roubar a vitória», acabando por ceder e aceitar uma segunda volta no próximo dia 7 de Novembro.
A hipocrisia não tem de facto limites! Os EUA, primeiros responsáveis por tudo o que se passou nestas «eleições», «chutaram» para Karzai o ónus das fraudes e do absoluto fracasso quer das «eleições» quer da sua própria estratégia. Num acto que fez vir à tona contradições existentes entre os membros da NATO envolvidos na ocupação do Afeganistão - como o demonstram as declarações do MNE francês mostrando-se «inquieto com o impasse a que se chegou» – a Administração Obama usou agora as ditas «revelações» - que há muito conhecia e nas quais esteve envolvida como tivemos oportunidade de denunciar na edição de 20 de Agosto do Avante!(1) – para tirar parcialmente o tapete a um dos seus mais importantes homens de mão.

Porquê? Simples, já antes das «eleições» os EUA deram o sinal que Karzai poderia não ser – pelo menos sozinho - o melhor instrumento para prosseguir a nova estratégia da Administração Obama de intensificar a guerra, elevar para um nível recorde a presença das forças ocupantes e estender a guerra ao Paquistão. As soluções que agora estão em cima da mesa para ultrapassar o tal «impasse» revelam bem a estratégia dos EUA e da NATO. Com a segunda volta marcada, as hipóteses que os representantes das potências ocupantes - instalados em Kabul para «tomar conta» do processo - apontam, são no mínimo uma anedota. A primeira passa por pôr a zeros o contador. Ou seja, os dois principais candidatos, ambos oriundos do anterior governo fantoche, integrariam de novo um governo de «unidade nacional» presidido por Karzai. A segunda revela bem o nível de «respeito» pelas «eleições». Ou seja, Abdullah não concorreria na segunda volta o que daria a vitória imediata a Karzai.

Assim fica contada a história do segundo capítulo das eleições farsa no Afeganistão. O terceiro será daqui a duas semanas e meia. Não conhecemos o desfecho, mas o guião está escrito. Com bons discursos e prémios Nobel o imperialismo continua empenhado na sua estratégia de guerra e dominação. Espezinhando a democracia, a verdade e os direitos de um povo.
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(1) Actual – «as eleições farsa» – edição do Avante! de 20 de Agosto de 2009


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