Sacudir a água do capote
A julgar por alguns artigos que têm sido publicados na imprensa portuguesa, a aproximação das eleições para o Parlamento Europeu (PE) deve estar a criar alguma angústia nas hostes socialistas no PE. Conscientes de todas as malvadezas que, enquanto governo e enquanto maior grupo parlamentar português no PE, foram praticando ou ajudando a praticar em Portugal e na UE, não é, pois, de estranhar que se desdobrem em desculpas ou elaborações mais ou menos teóricas para desviar a atenção do fundamental. É o que se chama sacudir a água do capote. Passo a explicar, com um exemplo.
Num artigo recente de uma das suas mais destacadas representantes, Elisa Ferreira (EF), uma independente eleita nas suas listas, dava o mote no Jornal de Notícias (15/02). EF intitula o seu artigo «Esquerda e direita na Europa», para abordar o processo que levou à aprovação do seu relatório sobre o «Plano de Relançamento Económico para a Europa». EF está satisfeita com as negociações e com toda a «rede de solidariedade com deputados (alguns dos quais portugueses) de partidos da ala direita do hemiciclo, que ajudaram a controlar a ortodoxia liberal de muitos dos seus colegas». Compreende-se as razões da sua satisfação. O que EF não refere, nem dela esperávamos outra coisa, é que essa «rede de solidariedade», como ela lhe chama, tem sido responsável pela aprovação, ao nível do PE, da larga maioria de relatórios e resoluções que têm ajudado a definir as principais orientações da UE. Este tem sido «o prato do dia» ao longo de mais de 20 anos da participação de Portugal no processo de integração capitalista na Europa. É também compreensível o esforço de EF em procurar distanciar-se da «direita», com a qual diz «estar apenas de acordo com os discursos que apontam os objectivos mas com os quais tem diferenças de monta no que se refere aos pormenores». Com as eleições aqui tão perto, pode valer muitos votos tentar forjar diferenças inexistentes ou insignificantes face aos aspectos estruturais das suas políticas. É esta também a conclusão em relação ao Plano Económico que EF defende e que nada tem de solidário (o Plano será financiado sobretudo com fundos nacionais), face a uma situação de desenvolvimento da crise, acentuando as diferenças existentes entre economias, não para tomar medidas que salvem o emprego e a produção, mas antes para salvar o capital.
Todo este esforço justifica-o EF com o facto de a «margem de manobra nacional estar retida a nível europeu». Com um governo a tudo fazer para nos convencer de que a crise que se vive em Portugal é produto da conjuntura internacional, EF dá uma mãozinha, empurrando para a UE toda a expectativa da solução, ao mesmo tempo que procura justificar o seu compromisso com a «direita na Europa».
O resultado final dessa «rede de solidariedade» é ainda desconhecido, o conteúdo do relatório terá de ser discutido em Plenário do PE, mas a julgar por todo o historial destes compromissos entre os maiores grupos políticos do PE, não se auguram coisas muito positivas, até porque, como a própria EF refere, os maiores grupos do PE estão unidos nos «objectivos últimos».
Porém, há um aspecto no seu artigo com que estamos inteiramente de acordo: EF considera que «nem sempre é fácil explicar a utilidade de votar à esquerda ou à direita em eleições europeias». Quando fala de «esquerda» está seguramente a referir-se ao partido pelo qual foi eleita, o PS (o tal que se diz da «esquerda moderna»!), à política de direita que, em alternância com o PSD (com ou sem a muleta do CDS/PP), tem seguido em Portugal e ao consenso sobre as principais orientações políticas da UE que tem marcado a acção destes partidos.
Não temos nenhum segredo que facilite a vida a EF. Mas temos uma convicção profunda: a alternativa de esquerda existe – com o PCP e a CDU. Uma alternativa que não se esconde atrás de possibilismos, que tem princípios e que luta por um projecto de transformação social para um País mais justo e solidário numa Europa de progresso social. Uma alternativa que tem trabalho feito, que fala verdade, que faz o que promete, que presta contas do seu trabalho sem ambiguidades ou mistificações. Uma alternativa que tem na sua origem muitos homens e mulheres que não se resignam e que lutam diariamente pela ruptura necessária com as políticas ao serviço do capital que, em Portugal e na UE, PS, PSD e CDS/PP têm sido activos promotores. Comecemos já pelas próximas eleições para o PE.
Num artigo recente de uma das suas mais destacadas representantes, Elisa Ferreira (EF), uma independente eleita nas suas listas, dava o mote no Jornal de Notícias (15/02). EF intitula o seu artigo «Esquerda e direita na Europa», para abordar o processo que levou à aprovação do seu relatório sobre o «Plano de Relançamento Económico para a Europa». EF está satisfeita com as negociações e com toda a «rede de solidariedade com deputados (alguns dos quais portugueses) de partidos da ala direita do hemiciclo, que ajudaram a controlar a ortodoxia liberal de muitos dos seus colegas». Compreende-se as razões da sua satisfação. O que EF não refere, nem dela esperávamos outra coisa, é que essa «rede de solidariedade», como ela lhe chama, tem sido responsável pela aprovação, ao nível do PE, da larga maioria de relatórios e resoluções que têm ajudado a definir as principais orientações da UE. Este tem sido «o prato do dia» ao longo de mais de 20 anos da participação de Portugal no processo de integração capitalista na Europa. É também compreensível o esforço de EF em procurar distanciar-se da «direita», com a qual diz «estar apenas de acordo com os discursos que apontam os objectivos mas com os quais tem diferenças de monta no que se refere aos pormenores». Com as eleições aqui tão perto, pode valer muitos votos tentar forjar diferenças inexistentes ou insignificantes face aos aspectos estruturais das suas políticas. É esta também a conclusão em relação ao Plano Económico que EF defende e que nada tem de solidário (o Plano será financiado sobretudo com fundos nacionais), face a uma situação de desenvolvimento da crise, acentuando as diferenças existentes entre economias, não para tomar medidas que salvem o emprego e a produção, mas antes para salvar o capital.
Todo este esforço justifica-o EF com o facto de a «margem de manobra nacional estar retida a nível europeu». Com um governo a tudo fazer para nos convencer de que a crise que se vive em Portugal é produto da conjuntura internacional, EF dá uma mãozinha, empurrando para a UE toda a expectativa da solução, ao mesmo tempo que procura justificar o seu compromisso com a «direita na Europa».
O resultado final dessa «rede de solidariedade» é ainda desconhecido, o conteúdo do relatório terá de ser discutido em Plenário do PE, mas a julgar por todo o historial destes compromissos entre os maiores grupos políticos do PE, não se auguram coisas muito positivas, até porque, como a própria EF refere, os maiores grupos do PE estão unidos nos «objectivos últimos».
Porém, há um aspecto no seu artigo com que estamos inteiramente de acordo: EF considera que «nem sempre é fácil explicar a utilidade de votar à esquerda ou à direita em eleições europeias». Quando fala de «esquerda» está seguramente a referir-se ao partido pelo qual foi eleita, o PS (o tal que se diz da «esquerda moderna»!), à política de direita que, em alternância com o PSD (com ou sem a muleta do CDS/PP), tem seguido em Portugal e ao consenso sobre as principais orientações políticas da UE que tem marcado a acção destes partidos.
Não temos nenhum segredo que facilite a vida a EF. Mas temos uma convicção profunda: a alternativa de esquerda existe – com o PCP e a CDU. Uma alternativa que não se esconde atrás de possibilismos, que tem princípios e que luta por um projecto de transformação social para um País mais justo e solidário numa Europa de progresso social. Uma alternativa que tem trabalho feito, que fala verdade, que faz o que promete, que presta contas do seu trabalho sem ambiguidades ou mistificações. Uma alternativa que tem na sua origem muitos homens e mulheres que não se resignam e que lutam diariamente pela ruptura necessária com as políticas ao serviço do capital que, em Portugal e na UE, PS, PSD e CDS/PP têm sido activos promotores. Comecemos já pelas próximas eleições para o PE.