Frente Comum exigiu actualizações salariais dignas

Lutar com toda a razão

Mais de 50 mil trabalhadores da Função Pública exigiram, dia 21, em Lisboa, actualizações salariais de 5 por cento e avisaram o Governo que não tolerarão outro ano com perdas no poder de compra.

«É mesmo ne­ces­sário o au­mento do sa­lário»

Quando a cabeça da manifestação que começou na Rotunda do Marquês chegou às escadarias da Assembleia da República, já a Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública anunciava a participação de mais de 50 mil trabalhadores na manifestação nacional que fez deslocar a Lisboa o protesto por salários dignos.
Depois dos dirigentes da FCSAP, que seguravam uma faixa onde se exigia aumentos reais dos salários, a defesa do emprego público e os direitos dos trabalhadores, à frente da manifestação seguiam três «cabeçudos» representando o primeiro-ministro, o Presidente da República e o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que foram motivo de sátiras ao longo do percurso.
Fortemente determinados seguiram, no protesto, os trabalhadores da higiene urbana da CML, em luta contra a ameaça de privatização do sector, em defesa dos vínculos públicos e dos postos de trabalho, que não se cansaram de gritar, «António Costa é aldrabão, Privatização não!» (ver página 10).
Dezenas de milhares de trabalhadores de autarquias de todo o País engrossaram o caudal humano, seguidos por outros tantos funcionários públicos e muitos professores, enfermeiros, trabalhadores do Arsenal do Alfeite e dos estabelecimentos fabris das Forças Armadas, todos unidos contra os baixos salários, as privatizações e a destruição de serviços públicos decorrente da política de direita do Governo PS, como se refere na Resolução aprovada no fim da acção.

Na al­tura certa

«Estamos a lutar na altura certa, com todo o direito e garantimos que continuaremos a lutar porque os trabalhadores, os seus filhos e os reformados precisam ser respeitados», afirmou, na sua intervenção, a coordenadora da Frente Comum, Ana Avoila, em resposta ao Governo, que tinha divulgado a ideia de que o protesto seria prematuro, pois as negociações respeitantes a salários ainda estão a decorrer.
«Estamos a utilizar os instrumentos consagrados na Constituição da República, que nos permitem lutar e reivindicar salários, no mínimo, de 5 por cento e não de 2,9 por cento, como pretende o Executivo», afirmou.
A coordenadora da Frente Comum recordou «a política desastrosa de privatizações de serviços e o recurso a empresas privadas, em regime de out­sour­cing, para desempenharem as mesmas funções que sempre desempenharam os funcionários públicos».
Referiu o congelamento de carreiras e avisou sobre as graves consequências para os trabalhadores que terá, a partir de Janeiro, o novo regime de contrato de trabalho em funções públicas.
«O Governo ganha milhões roubando os trabalhadores da Administração Pública», acusou, referindo o modelo de avaliação de desempenho que «está a servir para despedir trabalhadores e dar alguns dinheiros aos amigos do Governo», acusou.
A retirada de direitos, «para tentar impedir que os trabalhadores se organizem e lutem», e a intenção do Executivo PS de suprimir o vínculo de nomeação pública, em Janeiro, mereceram também sérias reprovações por parte da dirigente sindical.

Co­ragem e de­ter­mi­nação

«Não podemos aceitar que os trabalhadores da Administração Pública percam poder de compra há oito anos consecutivos», afirmou, na sua intervenção, em nome da CGTP-IN, o membro da Comissão Executiva da central, Arménio Carlos.
O dirigente transmitiu a satisfação pelo elevado número de trabalhadores que participaram na acção demonstrando, «a uma só voz, estarem disponíveis para prosseguir a luta, com dignidade, até verem satisfeitas as suas reivindicações».
Arménio Carlos salientou «o exemplo de coragem dado pelos trabalhadores nos locais de trabalho e vindo a esta acção para dizerem que não aceitam ser mal tratados», e lembrou como a realidade tem comprovado a afirmação de que «os sacrifícios são sempre para os mesmos e nunca para os que se enchem e encheram à custa do nosso bolso», considerou, recordando o aval de milhares de milhões de euros dado pelo Governo à banca.
«Afinal, há dinheiro, e se há tanto dinheiro, então, basta distribuir uma parte significativa pelos trabalhadores, é isso que temos de continuar a exigir», afirmou Arménio Carlos, salientando como ao contrário dos salários dos trabalhadores, os dos gestores portugueses estão ao nível e até chegam a ultrapassar os rendimentos dos gestores dos países mais desenvolvidos da União Europeia.
«Só aumentando o poder de compra dos trabalhadores será possível dinamizar a economia, ultrapassar a crise e melhorar as condições de vida e de trabalho dos portugueses», afirmou o membro da Executiva da CGTP-IN, que também condenou as privatizações e recordou que a Revolução de Abril «fez-se para servir e defender os trabalhadores». Terminou a intervenção confiando no sucesso da luta e na conquista de mais e melhores direitos para as futuras gerações.
Anteontem, a delegação da Frente Comum que participou na reunião para discutir salários com os representantes do Governo anunciou que o Executivo PS manteve a mesma proposta de aumentos salariais de 2,9 por cento. «A vontade do Governo para negociar é nenhuma», afirmou Ana Avoila, informando que a organização sindical vai convocar plenários onde os trabalhadores decidirão a continuação do protesto com mais acções, já no primeiro trimestre do próximo ano.


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