Sem palavra
Seis meses depois de José Sócrates garantir em Aljustrel trabalho para dez anos e salientar que «é disto que o País precisa», foi anunciado novamente o fecho das Pirites Alentejanas. À burla de então e às manobras com que agora o Governo tenta ganhar tempo e adiar os protestos, respondem os mineiros e a população com exigências concretas e novas acções de luta.
Há responsabilidades da multinacional e, sobretudo, do Governo
Dar continuação à luta foi a determinação manifestada ao Avante! pelos dirigentes sindicais e membros da Comissão de Trabalhadores das Pirites, poucas horas depois da reunião que tiveram, segunda-feira, com o ministro da Economia.
Manuel Pinho, que até se preocupou em previamente mandar saber quantos elementos integrariam a delegação, acabou por receber apenas cinco dos dez representantes dos mineiros – uma decisão comunicada já quando todos se tinham identificado perante a segurança do Ministério e que, como nos explicaram, só foi aceite porque «está em causa a vida de muitas famílias e queríamos respostas concretas» do governante. Mas o ministro não deu essas respostas.
Nos primeiros dez ou quinze minutos da audiência, Manuel Pinho tentou «fazer papel de vítima», fez críticas ao comportamento da Lundin Mining... «Saltou-nos a tampa e tivemos que lembrar que o Governo tem muita responsabilidade no que hoje se está a passar e que o ministro também esteve com José Sócrates, a fazer propaganda política, na cerimónia de reabertura, há seis meses», recordou um dos participantes na reunião.
A pretexto de um indefinido negócio de venda da mina (uma operação que até é ilegal, uma vez que apenas poderá ser negociada a concessão da exploração dos recursos naturais, e não a sua propriedade), a um grupo estrangeiro não identificado (sem razões que justifiquem este eventual interesse numa actividade que a multinacional sueco-canadiana considera não rentável), o Governo veio defender que uma solução poderá estar encontrada... a partir de dia 2 de Dezembro.
Para os representantes dos trabalhadores, «a sensação» que ficou, no final da reunião com o ministro, é que se trata de «uma manobra do Governo, para ganhar algum tempo e tentar mostrar à opinião pública que está empenhado» na busca de uma solução. Enquanto o tempo passa, «a Lundin Mining continuaria a desfazer-se dos trabalhadores». Chegados ao final daquele prazo, prevêem os dirigentes do sindicato e da CT, «o Governo viria dizer que fez tudo o que pôde, mas não conseguiu a viabilização», contando que, «como os trabalhadores estariam afastados dos postos de trabalho, seria mais difícil desenvolver a luta».
A experiência, contudo, justifica a decisão de manter a luta. «Se baixarmos os braços, a empresa vai ter um novo fôlego e o Governo vai deixar de se interessar pelos problemas dos mineiros», explicam os dirigentes sindicais e da CT.
Sócrates interpelado
O primeiro-ministro, que a 19 de Maio foi à vila mineira «facturar» os louros da retoma da exploração comercial nas Pirites Alentejanas e apadrinhar entusiasticamente os projectos da Lundin Mining, é agora chamado a assumir as responsabilidades que são do Governo.
Entre as acções que iriam ser propostas, no plenário de anteontem à tarde, destaca-se uma deslocação de trabalhadores e familiares até à residência oficial de José Sócrates, para exigir ao chefe do executivo solução para o grave problema económico e social criado com a suspensão da extracção e produção de zinco, na Somincor e nas Pirites Alentejanas, e a declaração da mina de Aljustrel em situação de «manutenção das instalações» - decisões anunciadas oficialmente no dia 13, pela multinacional que detém a concessão da exploração, alegando os baixos preços do minério nos mercados internacionais (e ignorando os avultados lucros obtidos nas minas de Neves Corvo).
Afirma a empresa que, dos 195 trabalhadores das Pirites, apenas necessitará de meia centena, para a manutenção das instalações, até que os preços sofram uma «recuperação» não quantificada. Da última vez que este argumento foi esgrimido, em Julho de 1993, a retoma da exploração parou durante 15 anos.
Entre o pessoal das Pirites, a maior parte tem vínculos precários, estimando o sindicato e a CT que mais de uma centena trabalhe a recibos verdes, alguns há mais de um ano, sem que a inspecção do trabalho (ACT) reagisse às insistentes queixas que lhe foram enviadas, apontando a ilegalidade destas situações, uma vez que se tratava de funções permanentes e os trabalhadores deveriam ter vínculo efectivo. Só depois de muita insistência, nos últimos dias, é que a ACT reconheceu que há pressões para que trabalhadores aceitem agora a rescisão apressada dos contratos.
A decisão da Lundin Mining ameaça atirar igualmente para o desemprego mais seis ou sete centenas de trabalhadores, a laborar na mina de Aljustrel, contratados por empresas sub-empreiteiras.
O drama das famílias é agravado pela falta de alternativas de emprego, na região, e pelo facto de, com as novas regras do subsídio de desemprego, uma grande parte dos trabalhadores não ter acesso a esta prestação social, caso se concretize o despedimento.
Disto?
«Investimento, emprego, exportações, é disto que o País necessita e são estes exemplos que temos que puxar para cima.»
PCP acusa
É crime!
«O encerramento da Mina de Aljustrel, anunciado pela Lundin Mining Corporation, proprietária da Pirites Alentejanas, constitui um crime contra a economia e a sociedade do concelho de Aljustrel e do Alentejo. Trata-se de uma decisão gravíssima que provocará centenas de despedimentos imediatos e terá forte impacto negativo no desenvolvimento local e regional.» (...)
«Há responsabilidades da Lundin Mining, pela forma gananciosa como tem gerido a Pirites Alentejanas, preocupando-se apenas com a obtenção de lucros máximos em tempo mínimo e “esquecendo-se” da situação dos trabalhadores e da terra onde exploram a riqueza.
Há responsabilidades também, e sobretudo, do Governo, que faz negociatas com grupos económicos estrangeiros sem revelar os seus contornos (como no caso da privatização da Pirites Alentejanas); cujo primeiro-ministro propagandeia a “retoma” da actividade mineira (ainda há seis meses José Sócrates, com o ministro da Economia, veio a Aljustrel garantir centenas de empregos e elogiar o investimento “exemplar” na mina!), mas é incapaz de exigir que a empresa, apoiada com milhões de euros pelo Estado, mantenha a actividade produtiva quando os lucros diminuem.» (...)
«Este Governo tem milhões e milhões para evitar a falência dos bancos – até já nacionalizou um, vitimado por gestão fraudulenta – mas assobia para o lado quando se trata de salvar centenas de postos de trabalho em Aljustrel.»
Manuel Pinho, que até se preocupou em previamente mandar saber quantos elementos integrariam a delegação, acabou por receber apenas cinco dos dez representantes dos mineiros – uma decisão comunicada já quando todos se tinham identificado perante a segurança do Ministério e que, como nos explicaram, só foi aceite porque «está em causa a vida de muitas famílias e queríamos respostas concretas» do governante. Mas o ministro não deu essas respostas.
Nos primeiros dez ou quinze minutos da audiência, Manuel Pinho tentou «fazer papel de vítima», fez críticas ao comportamento da Lundin Mining... «Saltou-nos a tampa e tivemos que lembrar que o Governo tem muita responsabilidade no que hoje se está a passar e que o ministro também esteve com José Sócrates, a fazer propaganda política, na cerimónia de reabertura, há seis meses», recordou um dos participantes na reunião.
A pretexto de um indefinido negócio de venda da mina (uma operação que até é ilegal, uma vez que apenas poderá ser negociada a concessão da exploração dos recursos naturais, e não a sua propriedade), a um grupo estrangeiro não identificado (sem razões que justifiquem este eventual interesse numa actividade que a multinacional sueco-canadiana considera não rentável), o Governo veio defender que uma solução poderá estar encontrada... a partir de dia 2 de Dezembro.
Para os representantes dos trabalhadores, «a sensação» que ficou, no final da reunião com o ministro, é que se trata de «uma manobra do Governo, para ganhar algum tempo e tentar mostrar à opinião pública que está empenhado» na busca de uma solução. Enquanto o tempo passa, «a Lundin Mining continuaria a desfazer-se dos trabalhadores». Chegados ao final daquele prazo, prevêem os dirigentes do sindicato e da CT, «o Governo viria dizer que fez tudo o que pôde, mas não conseguiu a viabilização», contando que, «como os trabalhadores estariam afastados dos postos de trabalho, seria mais difícil desenvolver a luta».
A experiência, contudo, justifica a decisão de manter a luta. «Se baixarmos os braços, a empresa vai ter um novo fôlego e o Governo vai deixar de se interessar pelos problemas dos mineiros», explicam os dirigentes sindicais e da CT.
Sócrates interpelado
O primeiro-ministro, que a 19 de Maio foi à vila mineira «facturar» os louros da retoma da exploração comercial nas Pirites Alentejanas e apadrinhar entusiasticamente os projectos da Lundin Mining, é agora chamado a assumir as responsabilidades que são do Governo.
Entre as acções que iriam ser propostas, no plenário de anteontem à tarde, destaca-se uma deslocação de trabalhadores e familiares até à residência oficial de José Sócrates, para exigir ao chefe do executivo solução para o grave problema económico e social criado com a suspensão da extracção e produção de zinco, na Somincor e nas Pirites Alentejanas, e a declaração da mina de Aljustrel em situação de «manutenção das instalações» - decisões anunciadas oficialmente no dia 13, pela multinacional que detém a concessão da exploração, alegando os baixos preços do minério nos mercados internacionais (e ignorando os avultados lucros obtidos nas minas de Neves Corvo).
Afirma a empresa que, dos 195 trabalhadores das Pirites, apenas necessitará de meia centena, para a manutenção das instalações, até que os preços sofram uma «recuperação» não quantificada. Da última vez que este argumento foi esgrimido, em Julho de 1993, a retoma da exploração parou durante 15 anos.
Entre o pessoal das Pirites, a maior parte tem vínculos precários, estimando o sindicato e a CT que mais de uma centena trabalhe a recibos verdes, alguns há mais de um ano, sem que a inspecção do trabalho (ACT) reagisse às insistentes queixas que lhe foram enviadas, apontando a ilegalidade destas situações, uma vez que se tratava de funções permanentes e os trabalhadores deveriam ter vínculo efectivo. Só depois de muita insistência, nos últimos dias, é que a ACT reconheceu que há pressões para que trabalhadores aceitem agora a rescisão apressada dos contratos.
A decisão da Lundin Mining ameaça atirar igualmente para o desemprego mais seis ou sete centenas de trabalhadores, a laborar na mina de Aljustrel, contratados por empresas sub-empreiteiras.
O drama das famílias é agravado pela falta de alternativas de emprego, na região, e pelo facto de, com as novas regras do subsídio de desemprego, uma grande parte dos trabalhadores não ter acesso a esta prestação social, caso se concretize o despedimento.
Disto?
«Investimento, emprego, exportações, é disto que o País necessita e são estes exemplos que temos que puxar para cima.»
José Sócrates, 19 de Maio de 2008,
na reabertura da mina de Aljustrel
PCP acusa
É crime!
«O encerramento da Mina de Aljustrel, anunciado pela Lundin Mining Corporation, proprietária da Pirites Alentejanas, constitui um crime contra a economia e a sociedade do concelho de Aljustrel e do Alentejo. Trata-se de uma decisão gravíssima que provocará centenas de despedimentos imediatos e terá forte impacto negativo no desenvolvimento local e regional.» (...)
«Há responsabilidades da Lundin Mining, pela forma gananciosa como tem gerido a Pirites Alentejanas, preocupando-se apenas com a obtenção de lucros máximos em tempo mínimo e “esquecendo-se” da situação dos trabalhadores e da terra onde exploram a riqueza.
Há responsabilidades também, e sobretudo, do Governo, que faz negociatas com grupos económicos estrangeiros sem revelar os seus contornos (como no caso da privatização da Pirites Alentejanas); cujo primeiro-ministro propagandeia a “retoma” da actividade mineira (ainda há seis meses José Sócrates, com o ministro da Economia, veio a Aljustrel garantir centenas de empregos e elogiar o investimento “exemplar” na mina!), mas é incapaz de exigir que a empresa, apoiada com milhões de euros pelo Estado, mantenha a actividade produtiva quando os lucros diminuem.» (...)
«Este Governo tem milhões e milhões para evitar a falência dos bancos – até já nacionalizou um, vitimado por gestão fraudulenta – mas assobia para o lado quando se trata de salvar centenas de postos de trabalho em Aljustrel.»
Comissão Concelhia de Aljustrel do PCP,
comunicado de 13 de Novembro