Viva Angola

Jorge Cadima

Importa, neste momento de clarificação, lembrar alguns factos

As eleições em Angola representaram um momento histórico na vida desse grande país. Os mais de 81% dos votos obtidos pelo MPLA, o grande obreiro da independência angolana, confirmam «o M» como grande partido nacional do povo angolano. O MPLA ganhou por maioria absoluta em todas as províncias de Angola, com mais de 80% dos votos em muitas delas. As eleições acabaram por não ser contestadas. Mas alguns, nomeadamente na missão de «observadores» da União Europeia, ainda tentaram criar o ambiente de dúvida e contestação habitual nos actos eleitorais que não agradam ao imperialismo. Valeu, neste caso, o resultado esmagador e inquestionável do MPLA, que ceifou à nascença quaisquer manobras de desestabilização.

Os resultados destas eleições são indissociáveis do meio século de história e luta do MPLA, de séculos de resistência dos angolanos à colonização do seu país. São também indissociáveis do facto de que, finda a guerra protagonizada pela UNITA e alimentada a partir do exterior, Angola entrou num período de acelerado crescimento económico, com algumas das maiores taxas de crescimento anual em todo o mundo, demostrando a importância da soberania e da paz para o desenvolvimento do país de acordo com os interesses do povo angolano.

A campanha contra Angola, o MPLA e o direito dos angolanos à sua independência, que durante mais de 30 anos tem dominado boa parte da comunicação social e dos meios políticos portugueses, mesmo em sectores que gostam de se proclamar de esquerda, irá agora (por força dos acontecimentos) conhecer uma curta pausa. Importa, neste momento de clarificação, lembrar alguns factos. Se Angola não viveu em paz durante a maior parte da sua independência, não foi por culpa do MPLA, mas das tentativas do imperialismo (com o apoio dos colaboracionistas locais, do regime do apartheid da África do Sul e dos saudosistas do colonialismo português) para se apoderar pela força das enormes riquezas de Angola. Se não houve eleições nos últimos 16 anos, isso deveu-se à recusa da UNITA de Jonas Savimbi em reconhecer a sua derrota eleitoral de 1992 e ao assalto armado que lançou contra algumas das maiores cidades angolanas. Se Angola alcançou finalmente a paz em 2002, tal não se deveu a «processos negociais» da «comunidade internacional» - que durante dez anos em nada contribuíram para assegurar a paz e o respeito pelos resultados eleitorais, mas apenas para prolongar a guerra. A paz deveu-se à derrota militar que as Forças Armadas angolanas acabaram por impor a Savimbi. E importa lembrar que a UNITA militar e terrorista, desrespeitadora da vontade expressa do povo angolano, gozou sempre em Portugal da «legitimidade» que não tinha na realidade. Alguns que hoje se afirmam contrários à «globalização» tudo fizeram durante décadas para a impor – pela força das armas do facínora Savimbi – aos angolanos. É mais do que tempo que o «lobby saudosista» em Portugal perceba, finalmente, que Angola é um país independente e que apenas aos angolanos cabe decidir do seu futuro.

Angola enfrenta hoje, apesar dos progressos dos últimos anos, tarefas gigantescas. É necessário re-erguer um país destruído por décadas de guerra e de ingerência imperialista. É urgente enfrentar problemas sociais terríveis que o colonialismo e a guerra deixaram como herança. É preciso combater fenómenos muito negativos que proliferaram nas dramáticas condições em que esse grande país tem vivido. Haverá seguramente muitos que sempre combateram a soberania angolana e que agora se afirmarão «amigos» do povo angolano para procurar alcançar, por outros meios, os seus objectivos de sempre. Mas as eleições criaram condições excepcionais para que os angolanos que sempre acreditaram no seu povo e na independência possam concretizar o sonho de Agostinho Neto. Viva Angola livre e independente!


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