Sem espinhas
Os resultados do Inquérito às Despesas das Famílias 2005-2006, esta semana divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), revelam que o rendimento líquido total anual médio dos agregados familiares em Portugal era de 22 136 euros, o que representa um rendimento líquido mensal de 1845 euros. Face aos resultados do inquérito anterior, 1999-2000, tais valores representam um aumento de 2,1 por cento. À primeira vista, é caso para dizer que se trata de boas notícias. E seria, sem dúvida, se ao olharem para a carteira os portugueses nela encontrassem provas inequívocas de que por ali tinham passado – em sentido literal ou figurado que fosse – os tais 1845 euros apurados pelo INE. O que infelizmente não é o caso.
Não se trata, obviamente, de pôr em causa o rigor da estatística. Damos de barato que o inquérito foi levado a cabo seriedade, que as respostas são verdadeiras, e que o resultado final seja mesmo o anunciado. O problema não está aí. O busílis da questão é outro, e por mais voltas que se lhe dê não há meio de desembrulhar o imbróglio colocado por esta coisa das estatísticas e das médias, sobretudo quando apresentadas como estas costumam ser, a «seco», sem mais leituras do que as dos próprios números.
Vejamos: se um carro topo de gama for somado a um passe social, qual é a média? Se a uma habitação social se juntar uma vivenda de luxo, qual o resultado? Se ao filet mignon acrescer o toucinho entremeado, com que ficamos? Este é, salvo melhor opinião e descontado o desconchavo dos exemplos, o calcanhar de Aquiles das médias ou, se se preferir, numa expressão mais vernácula, onde a porca (das médias) torce o rabo.
Como toda a gente sabe, se o cidadão A tiver um rendimento líquido de 3250 euros e o cidadão B auferir a módica quantia de 500 euros, em termos estatísticos cada um arrecada 1875 euros. O mesmo se passa com as lagostas, os frangos, os vinhos, os iates ou as viagens ao estrangeiro, só para citar alguns casos. Em média, cada um de nós mastigou, bebeu, passeou... um tanto disto e outro tanto daquilo, mas na prática, na real, o facto é que alguém anda a papar as «nossas» lagostas, a beber os «nossos» vinhos, a laurear as «nossas» viagens. Ou então, mais prosaicamente falando, a abarbatar-se com os «nossos» euros, que assim se transformam nos «aéreos» que a maioria bem conhece de tanto lhe sentir o ar nas algibeiras.
Temos pois, feitas as contas, que, se a média é de 1845 euros para cada família, e uma larga maioria nem aos quatro dígitos chega, que há por aí uns quantos agregados a viver com muito mais do que isso – o que é perfeitamente legítimo e até muito satisfatório.
O que já não é legítimo, nem satisfatório, nem sequer eticamente aceitável, é que se lancem médias para o ar sem o devido contexto. A menos que o objectivo seja, e nisso o INE não é visto nem achado, justamente atirar poeira para os olhos dos incautos. O que é outra forma de nos pôr a todos a comer lagosta sem lhes vislumbrarmos sequer os longos bigodes, enquanto os governos da alternância arrotam sem espinhas os «sucessos» da sua governação.
Não se trata, obviamente, de pôr em causa o rigor da estatística. Damos de barato que o inquérito foi levado a cabo seriedade, que as respostas são verdadeiras, e que o resultado final seja mesmo o anunciado. O problema não está aí. O busílis da questão é outro, e por mais voltas que se lhe dê não há meio de desembrulhar o imbróglio colocado por esta coisa das estatísticas e das médias, sobretudo quando apresentadas como estas costumam ser, a «seco», sem mais leituras do que as dos próprios números.
Vejamos: se um carro topo de gama for somado a um passe social, qual é a média? Se a uma habitação social se juntar uma vivenda de luxo, qual o resultado? Se ao filet mignon acrescer o toucinho entremeado, com que ficamos? Este é, salvo melhor opinião e descontado o desconchavo dos exemplos, o calcanhar de Aquiles das médias ou, se se preferir, numa expressão mais vernácula, onde a porca (das médias) torce o rabo.
Como toda a gente sabe, se o cidadão A tiver um rendimento líquido de 3250 euros e o cidadão B auferir a módica quantia de 500 euros, em termos estatísticos cada um arrecada 1875 euros. O mesmo se passa com as lagostas, os frangos, os vinhos, os iates ou as viagens ao estrangeiro, só para citar alguns casos. Em média, cada um de nós mastigou, bebeu, passeou... um tanto disto e outro tanto daquilo, mas na prática, na real, o facto é que alguém anda a papar as «nossas» lagostas, a beber os «nossos» vinhos, a laurear as «nossas» viagens. Ou então, mais prosaicamente falando, a abarbatar-se com os «nossos» euros, que assim se transformam nos «aéreos» que a maioria bem conhece de tanto lhe sentir o ar nas algibeiras.
Temos pois, feitas as contas, que, se a média é de 1845 euros para cada família, e uma larga maioria nem aos quatro dígitos chega, que há por aí uns quantos agregados a viver com muito mais do que isso – o que é perfeitamente legítimo e até muito satisfatório.
O que já não é legítimo, nem satisfatório, nem sequer eticamente aceitável, é que se lancem médias para o ar sem o devido contexto. A menos que o objectivo seja, e nisso o INE não é visto nem achado, justamente atirar poeira para os olhos dos incautos. O que é outra forma de nos pôr a todos a comer lagosta sem lhes vislumbrarmos sequer os longos bigodes, enquanto os governos da alternância arrotam sem espinhas os «sucessos» da sua governação.