O imperialismo está a atear o fogo

Rui Paz

O cerco à Rússia e a desestabilização da China são os grandes objectivos estratégicos do imperialismo

Ainda é demasiado cedo para poder fazer-se uma avaliação exacta dos acontecimentos militares no Cáucaso. Mas desde já, há algumas interrogações que não podem deixar de se colocar. Terão sido os ataques de Tbilissi contra a Ossétia do Sul um acto de loucura isolado de um presidente megalómano incapaz de avaliar a diferença de poderio militar existente entre a Rússia e a Geórgia? Ou estaremos em face de um teste à reacção da Rússia provocado por um exército que desde há anos tem vindo a ser treinado e formado pela doutrina agressiva dos Estados Unidos e da NATO? Ou será ainda a investida militar da Geórgia apenas o prelúdio de uma nova escalada na extensão dos conflitos militares numa região cuja desestabilização constitui um dos objectivos centrais do imperialismo na sua estratégia de cerco à Rússia?

A confirmação pelo próprio presidente Saakashvili de que «não se trata só da Geórgia mas dos princípios e dos valores da América» parece confirmar esta última hipótese como a mais provável. Qualquer que venha a ser o posterior desenrolar da situação e apesar da actual aparente surpresa de Washington e da NATO, a verdade é que os Estados Unidos estão ansiosos por transformar toda a zona fronteiriça da Rússia num braseiro e em particular a região do Cáucaso e do Mar Cáspio cuja riqueza energética é cobiçada pelos monopólios norte-americanos e ingleses do petróleo e do gás natural com destaque para a ExonMobil e a BP. Como já acontecera com as agressões contra a Jugoslávia, o Iraque e o Afeganistão, para os homens de mão dos grandes monopólios internacionais que se sucedem em Washington e noutras capitais da NATO, o problema não é desencadear guerras e agressões mas fabricar os pretextos e as mentiras que facilitem a venda à opinião pública dos seus crimes e massacres como operações «humanitárias» ou «libertadoras».

Como salienta o «Neues Deutschland», referindo-se ao portal israelita «debka.com», Saakashwili contratou 1000 instrutores militares de Israel que têm participado intensivamente na preparação...para a conquista da Ossétia. «Além disso, no final de Julho, também 1000 marines americanos executaram exercícios militares na base de Wasiani a Leste de Tbilissi juntamente com unidades da Geórgia».
Por sua vez o «Jungewelt» relembra que a Ossétia nunca aceitou desligar-se da URSS nem da Rússia e que a situação apresenta muitas semelhanças com a dos sérvios da Bósnia, os quais foram obrigados pela força das armas a separar-se de Belgrado e a integrar-se contra a sua vontade num estado artificial cuja função foi a de facilitar o desmantelamento da Jugoslávia, o controlo pela NATO do flanco sudeste europeu e a extensão da aliança militar agressiva do capital monopolista para o Leste. As declarações do vice-presidente dos EUA Cheney de que «a intervenção militar da Rússia não pode ficar sem consequências» apontam nesta direcção.

O cerco à Rússia e a desestabilização da China são os grandes objectivos estratégicos do imperialismo na hora presente. É neste contexto que se deve situar a agressão militar no Cáucaso e a ânsia de uma guerra contra o Irão. A doutrina oficial geoestratégica dos Estados Unidos e da própria Alemanha dá prioridade a tudo o que possa impedir a constituição de «estados influentes no Leste».
Desde a agressão do nazismo e de Hitler contra a União Soviética que a Rússia não se sentia tão cercada e ameaçada como acontece hoje com os países bálticos, a Polónia e a República Checa, onde devem ser instalados os mecanismo que permitirão desencadear um ataque atómico contra a Rússia e retirar-lhe qualquer possibilidade de defesa. O imperialismo está a atear o fogo. Nunca como hoje a luta pela paz e contra o militarismo foi tão necessária à sobrevivência da humanidade.


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