728 «erros administrativos»

Carlos Gonçalves
Vai chegando ao fim a década de Bush & cia na gestão operativa dos assuntos correntes do imperialismo USA, e neste quadro conjuntural, por reacerto de imagem institucional ou de um qualquer funcionário em trânsito eleitoral, vão deslizando das câmaras de horrores da Casa Branca, do Pentágono, da CIA, ou da NSA, indícios dos crimes cometidos num qualquer país recolonizado, ou lugarejo perdido do «quintal das traseiras» do «império».
Ainda em «estado de graça» pós Blair, calhou agora a Brown ser desmentido pelo Departamento de Estado USA - afinal tinham passado em 2002, pela Base Americana da Ilha Britânica de Diego Garcia no Índico, dois voos CIA com sequestrados das «rendições extraordinárias», um dos quais ainda se encontra no antro de iniquidade e tortura de Guantánamo.
Para os States as mentiras anteriores neste caso são «lamentáveis» e resultam de «erro administrativo» da CIA, mas de «boa fé», obviamente. Quanto às mentiras actuais (ainda não admitidas) sabe-se já que se devem a um erro ainda não identificado, mas cuja «boa fé» está garantida.
Relativamente a Portugal, foi conhecido no fim de Janeiro o relatório da «Reprieve» que, a partir de dados USA, juntou novas provas do trânsito por território nacional, a caminho de Guantánamo, de 728 sequestrados - muitos com escala e presumível detenção na passagem pelas Lages.
E passaram apenas duas semanas desde que a «santa aliança» PS/PSD/CDS considerou que não existiam novos dados e recusou, mais uma vez, a proposta do PCP dum inquérito parlamentar sobre a matéria.
Mas, dia 22, o reconhecimento oficial dos casos de Diego Garcia pôs Sócrates em pânico. Se no caso português viesse a provar-se algo semelhante seria «extremamente lamentável», disse em evidente recuo o P.Ministro, encenando a vitimização.
Lamentável é este Governo, que mente sem escrúpulos, inviabiliza qualquer tentativa de esclarecimento e nega até ao absurdo a evidência da sua cumplicidade e da «santa aliança» PS/PSD/CDS na ocultação continuada dos crimes do imperialismo.
E um destes dias, será ainda mais deplorável - do ponto de vista do regime democrático - ver Sócrates desculpar-se dos 728 «erros administrativos» da CIA que passaram por Portugal a caminho das torturas de Guantánamo.


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