Mundo de fantasia
Num ambiente, a meio caminho, entre a fantasia e o autismo, Sócrates deu vazão ao seu mundo de ilusão. A convocação de um novo episódio do que se designa por «Novas fronteiras» constituiu um novo momento de incensão à acção governativa. Naquele espaço, delimitado pelas fronteiras de uma doentia auto-satisfação, há um outro país. Não o que conhecemos, — carregado de amarguras e insatisfações, amputado de direitos e empobrecido em termos de democracia, pranho de problemas e desigualdades, sem um rumo de desenvolvimento e amarrado a interesses estrangeiros — mas aquele que PS e o seu Governo teimam em construir para lá da realidade. Na plateia, a pleia do costume: os que enxameando os corredores do poder medem o país pelos seus proventos e cuja presença no evento ajuda a não perder; gente da finança e da banca que em agradecida peregrinação se aprestam a recordar a que mando se exerce a governação; constitucionalistas reformados rendidos à função de aplaudir o chefe e a sua política; comentadores e analistas cuja independência impõe a presença. Palmas, muitas palmas, música da ocasião e alta tecnologia. Discursos, não para além da dúzia programada, não fosse a abundância destoar do padrão previamente definido. Mas sobretudo, pelo que ali se disse, um profundo desprezo pelo país e os seus problemas. Embalado pelo gongórico elogio de Canotilho às maravilhas da governação Sócrates superou-se. Ali, naquele seu pequeno mundo, os portugueses ficaram a perceber que: contrariamente ao que em cada mês vêm sobrar em dias ao que falta de rendimento, viram seu poder de compra aumentar por acção do governo; que a educação prospera, desmentindo assim os que teimam em fixar-se na degradação do ensino, no empobrecimento curricular ou nas dezenas de quilómetros percorridos por milhares de crianças em busca de escola alternativa à que o governo encerrou; perante a “vaga” de empregos criados sob o auspício do actual governo, o desespero de quase meio milhão de desempregados não passa de uma antipatriótica e doentia atitude de falta de confiança no país. Patético, dir-se-á, sem fugir à realidade. Mas preocupante enquanto confessada obsessão em prosseguir cega e surdamente o rumo da actual política.