Um «caso singular» ou nem tanto

Anabela Fino
O desmembramento da antiga Jugoslávia – de que a proclamação unilateral da independência do Kosovo é apenas o último acto – abriu nos Balcãs um precedente de consequências imprevisíveis.
A afirmação de que se trata de «um caso singular», logo não aplicável a outras situações de separatismo, parece bastar aos países da União Europeia, convictos de que o sucesso do separatismo não tem hipóteses sem «padrinhos» de peso e sem a protecção das forças NATO, como é o caso. Mas será assim?
Anatoli Safonov, representante especial do presidente da Rússia para questões da cooperação internacional na luta contra o terrorismo e o crime organizado, ofendeu os pruridos das «democracias ocidentais» ao afirmar este fim-de-semana à agência Interfax que «é pena que se tenha esquecido as lições do passado, nomeadamente a lição de Munique de 1938».
Assinado pela Grã-Bretanha, França, Alemanha e Itália em 1938, o Acordo de Munique deu luz verde à Alemanha nazi para anexar uma parte da Checoslováquia (a região Sudeta) maioritariamente habitada por alemães. Na Câmara dos Comuns, em Londres, a voz que então se levantou contra esta «vitória» da diplomacia europeia foi a de Winston Churchill, que estava longe de ser um perigoso comunista:
«Sofremos uma derrota total e absoluta.... e não penseis que isto é o fim. Não, isto não é mais que o princípio.»
Depois, depois foi a guerra.
Salvaguardadas as devidas diferenças, cabe perguntar a quem interessa a formação de micro-estados sem viabilidade, etnicamente «puros», de cariz mais ou menos teocrático no velho continente europeu, que assenta as suas raízes históricas, a sua diversidade, a sua riqueza cultural justamente na coexistência – nem sempre isenta de problemas, é certo – de diversos povos, culturas e religiões. Não será certamente à Europa, que nos últimos anos viu a sua estabilidade ser posta em causa em guerras fratricidas em que milhares e milhares de pessoas perderam a vida sem que daí resultasse outro benefício que não fosse o da indústria armamentista e o de uma elite que ascendeu ao poder como serventuária de interesses que nada têm de nacionais ou populares.


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