A previsão
O Governo de José Sócrates cometeu novo prodígio: é o único, da zona euro, a prever uma taxa de crescimento do PIB em 2008 superior à de 2007. Até quantifica a coisa: aponta para um crescimento do PIB português de 2,2% em 2008, quando o de 2007 nem 1,8% atingiu, sendo (mais uma vez, aliás como acontece e se agrava todos os anos) um dos mais baixos da União.
Assinale-se que os governos dos outros 26 países da União entregaram à Comissão Europeia, em finais do ano passado, programas de estabilidade e crescimento (à excepção da Bélgica, que ainda não fez tal entrega porque continua embrulhada na instabilidade política resultante de disputas nacionalistas), onde a nota dominante é a perspectiva de um abrandamento na actividade económica resultante da difícil conjuntura internacional, pelo que nenhum deles se arriscou a prever uma taxa de crescimento do PIB em 2008 superior à de 2007.
Os factos que ensombram a conjuntura internacional não podiam ser mais óbvios: a especulação do preço do petróleo, que entrou em roda livre e não pára de bater novos recordes de aumento, a crise da economia norte-americana, que deslizou para um vórtice exponencialmente agravado pela voragem da crise bolsista dos créditos de alto risco nos EUA, a concomitante desvalorização do dólar versus valorização do euro que estrangula as exportações europeias, o alastramento da crise nos mercados de crédito com o decorrente condicionamento do consumo e do investimento são evidências que os responsáveis políticos europeus não quiseram ignorar.
Ignorou José Sócrates. Valendo-se, eventualmente, da sua já lendária competência intelectual – não é qualquer um que despacha, em meses, quatro cadeiras finais e uma licenciatura enquanto desempenha funções governativas -, o primeiro-ministro descortinou que este País vai aumentar a taxa de crescimento do PIB em 2008, apesar de isso contrariar não apenas a supracitada conjuntura internacional, que retraiu todos os governos da União Europeia, mas sobretudo o atávico atraso de Portugal em relação aos seus parceiros na UE, que em cada ano que passa acentua a distância que nos separa dos nossos parceiros em matérias tão diversas como salários, rendimentos, produtividade, crescimento económico ou desenvolvimento.
Todavia, segundo Sócrates, parece que este ano e graças a um milagre qualquer lá do seu conhecimento, Portugal vai contrariar (para além do seu tradicional atraso) todas as previsões, expectativas e desastres económicos já concretos - como o «mini-crash» das bolsas de todo o mundo ocorrido também nestes dias - e ser o único país, entre os 27 da União Europeia, que irá aumentar a taxa de crescimento do PIB, apesar de isso nunca ter acontecido no passado, sobretudo o recente, e muito menos estar ensejado a concretizar-se após o tal «mini-crash» de há dias, que fez a Bolsa de Lisboa perder 5 mil milhões de euros de uma assentada e o BCP desvalorizar mil milhões de euros num repente...
Tendo-se especializado a esboçar um País virtual, onde a desarticulação sistemática e meticulosa do que resta do Estado social trazido pela Revolução de Abril é por si próprio apresentado (e pela poderosa máquina de propaganda que serve o seu Governo) como uma espécie de redenção nacional, José Sócrates já não hesita perante a burla política mais descabelada, como esta de prometer agora um crescimento maior em 2008 que o de todos os parceiros da União Europeia.
Está visto que as promessas são a chave da sua luta, esquecendo-as mal alcance o poder.
Mas o País lembra-se.
Assinale-se que os governos dos outros 26 países da União entregaram à Comissão Europeia, em finais do ano passado, programas de estabilidade e crescimento (à excepção da Bélgica, que ainda não fez tal entrega porque continua embrulhada na instabilidade política resultante de disputas nacionalistas), onde a nota dominante é a perspectiva de um abrandamento na actividade económica resultante da difícil conjuntura internacional, pelo que nenhum deles se arriscou a prever uma taxa de crescimento do PIB em 2008 superior à de 2007.
Os factos que ensombram a conjuntura internacional não podiam ser mais óbvios: a especulação do preço do petróleo, que entrou em roda livre e não pára de bater novos recordes de aumento, a crise da economia norte-americana, que deslizou para um vórtice exponencialmente agravado pela voragem da crise bolsista dos créditos de alto risco nos EUA, a concomitante desvalorização do dólar versus valorização do euro que estrangula as exportações europeias, o alastramento da crise nos mercados de crédito com o decorrente condicionamento do consumo e do investimento são evidências que os responsáveis políticos europeus não quiseram ignorar.
Ignorou José Sócrates. Valendo-se, eventualmente, da sua já lendária competência intelectual – não é qualquer um que despacha, em meses, quatro cadeiras finais e uma licenciatura enquanto desempenha funções governativas -, o primeiro-ministro descortinou que este País vai aumentar a taxa de crescimento do PIB em 2008, apesar de isso contrariar não apenas a supracitada conjuntura internacional, que retraiu todos os governos da União Europeia, mas sobretudo o atávico atraso de Portugal em relação aos seus parceiros na UE, que em cada ano que passa acentua a distância que nos separa dos nossos parceiros em matérias tão diversas como salários, rendimentos, produtividade, crescimento económico ou desenvolvimento.
Todavia, segundo Sócrates, parece que este ano e graças a um milagre qualquer lá do seu conhecimento, Portugal vai contrariar (para além do seu tradicional atraso) todas as previsões, expectativas e desastres económicos já concretos - como o «mini-crash» das bolsas de todo o mundo ocorrido também nestes dias - e ser o único país, entre os 27 da União Europeia, que irá aumentar a taxa de crescimento do PIB, apesar de isso nunca ter acontecido no passado, sobretudo o recente, e muito menos estar ensejado a concretizar-se após o tal «mini-crash» de há dias, que fez a Bolsa de Lisboa perder 5 mil milhões de euros de uma assentada e o BCP desvalorizar mil milhões de euros num repente...
Tendo-se especializado a esboçar um País virtual, onde a desarticulação sistemática e meticulosa do que resta do Estado social trazido pela Revolução de Abril é por si próprio apresentado (e pela poderosa máquina de propaganda que serve o seu Governo) como uma espécie de redenção nacional, José Sócrates já não hesita perante a burla política mais descabelada, como esta de prometer agora um crescimento maior em 2008 que o de todos os parceiros da União Europeia.
Está visto que as promessas são a chave da sua luta, esquecendo-as mal alcance o poder.
Mas o País lembra-se.