Estancar a perda de poder de compra

Aumentar os salários e as pensões

Só o aumento dos salários e das pensões poderá garantir a elevação das condições de vida dos trabalhadores e do povo, defendeu Jerónimo de Sousa.

O au­mento ge­ne­ra­li­zado dos sa­lá­rios é uma ne­ces­si­dade do País

Na conferência de imprensa do dia 3, o secretário-geral do PCP realçou que a não existir um aumento dos salários, reformas e pensões, o ano que agora começa «traduzir-se-á em novas perdas de poder de compra, em novas dificuldades, em novas amarguras para quem trabalha».
«Que o digam os trabalhadores da Administração Pública», realçou Jerónimo de Sousa. Depois de 7 anos a perder poder de compra, estão hoje confrontados com um aumento igual ao da inflação prevista, isto é, de 21 por cento» (a inflação prevista fica sempre, como se sabe, muito aquém da realmente verificada).
Mas que o digam também centenas de milhares de trabalhadores do sector privado, «cujo patronato se sente animado pelo exemplo que o Governo dá no sector público, e tudo faz para bloquear a contratação colectiva e impor aumentos salariais de miséria», acrescentou o dirigente comunista.
Também os reformados e pensionistas comprovam estas dificuldades e amarguras. Em 2008, começam a sentir na pele os efeitos da chamada «reforma» da Segurança Social. Que se traduziu num aumento diário de 21 cêntimos para os que têm carreiras contributivas inferiores a 15 anos; 23 cêntimos para carreiras entre os 15 e os 20 anos; 26 cêntimos entre os 21 e os 30 anos e 32 cêntimos para quem tenha carreiras de 31 anos e mais.
Para Jerónimo de Sousa, estes valores «chocam pela insensibilidade social praticada pelo Governo». E são ainda mais gritantes, prosseguiu, no caso da pensão social – cujo aumento é de 16 cêntimos por dia – e dos agrícolas, que aumenta 19 cêntimos diários. Estes valores «ficam aquém da necessária reposição do poder de compra» e, seguramente, agravarão os problemas de pobreza entre os idosos.
Segundo Jerónimo de Sousa, o aumento do Salário Mínimo Nacional, «alcançado pela persistente luta dos trabalhadores, sendo insuficiente, deve constituir uma importante referência para a elevação geral do valor dos salários e um estímulo para as lutas que se seguirão no futuro».
Este aumento generalizado dos salários corresponde também a uma «necessidade de desenvolvimento do País, de elevação das condições de vida de quem trabalha, de animação do consumo interno e de crescimento da nossa economia».
Jerónimo de Sousa abordou ainda o discurso de ano novo do Presidente da República, considerando «justo» o reparo presidencial aos «ordenados chocantes com que os administradores das grandes empresas se presenteiam a si mesmos». Mas o Presidente fala «meia verdade» ao não referir outra realidade «igualmente obscena»: a política de «efectivo favorecimento dos lucros e da acumulação capitalista que este Governo impõe, em detrimento de uma justa valorização dos salários e pensões».

CGTP-IN e MUSP re­jeitam su­bida de preços
A vida está pior

Não é só o PCP a condenar os aumentos dos preços de bens e serviços essenciais praticados e anunciados para o ano que agora começa. Em comunicado de dia 2, a CGTP-IN considera que a inflação prevista – 2,1 por cento – é uma «avaliação subavaliada que, como noutros anos, só tem como objectivo conter os aumentos dos salários». O Governo permite que o preço de bens e serviços essenciais aumentem muito mais do que a inflação prevista.
A central sindical, após destacar os produtos e serviços que aumentam, denunciou a perda de poder de compra dos trabalhadores. No sector privado, realçou, muitos não tiveram aumentos salariais devido ao bloqueio patronal da contratação colectiva e no sector público, após anos a perder, os aumentos salariais não cobrem a subida dos preços.
«Mesmo os trabalhadores abrangidos pelo Salário Mínimo Nacional, tendo tido um aumento mais significativo, vão também ver o seu poder de compra absorvido com estes aumentos de preços». Os trabalhadores que auferem salários mais baixos utilizam os seus rendimentos totalmente na aquisição de bens e serviços de primeira necessidade – precisamente aqueles cujo preço mais aumenta em 2008. O mesmo se passa com os trabalhadores que auferem baixos salários.
A CGTP-IN rejeita ainda os aumentos de pensões e reforma para 2008, afirmando que irão «degradar ainda mais o débil poder de compra de grande número de reformados». Também a política governamental na área da saúde merece a crítica severa da central sindical. Os encerramentos das urgências em regiões já deprimidas «leva a que milhares de utentes, muitos deles idosos e isolados, tenham que percorrer dezenas de quilómetros, quantas vezes em estradas sinuosas e de difícil acesso, para poderem aceder a um cuidado de saúde». Tudo isto, afirma, em nome de poupar dinheiro, «quando o Governo pouco ou nada faz para distribuir melhor a riqueza, quando não ataca a corrupção nem a economia paralela nem combate os desperdícios e os clientelismos».
Para a CGTP-IN, só o aumento de salários e de pensões poderá impedir a redução do nível de vida dos trabalhadores e a degradação dos rendimentos dos reformados.

Utentes também pro­testam

O Movimento dos Utentes dos Serviços Públicos, MUSP, também denunciou, no dia 3, os aumentos de preços de bens e serviços de primeira necessidade. Aumentos que superam «em muito os valores dos aumentos salariais e da inflação previstos para o mesmo ano».
Entre os bens e serviços que aumentam, os utentes destacam a generalidade dos transportes públicos, a electricidade, o gás, os combustíveis, os telefones e a água, as taxas moderadoras e as de tratamento e internamento de ambulatório, para além das portagens, dos juros bancários e das rendas de casa.
«Para além dos aumentos que referimos, outros vão acontecer, nomeadamente os medicamentos, actos médicos e outros produtos alimentares», refere o MUSP. Para os utentes, com estes aumentos é «evidente que a grande maioria dos portugueses e respectivas famílias vão ver durante o ano de 2008 agravar-se consideravelmente o seu já fraco poder de compra», contribuindo para o aumento da pobreza, que atinge já mais de dois milhões de portugueses.
O MUSP realça que estas «duras realidades que a grande maioria dos portugueses vivem no seu dia-a-dia, agravadas ainda pelo aumento do desemprego e do trabalho precário», contrariam a mensagem de Natal «idílica e cor-de-rosa proferida pelo primeiro-ministro».
O movimento dos utentes apela a todos aqueles que têm «sentido enquanto trabalhadores e utentes dos serviços públicos os malefícios causados por esta política a manifestarem-se a título individual ou integrados em movimentos ou outras estruturas o seu protesto, a sua indignação e oposição a este Governo e a esta política».


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