Lisboa/Dakar… Paris
A história do cancelamento do Lisboa/Dakar poderá nunca vir a ser conhecida na sua totalidade e o cancelamento da prova não constitui nenhuma catástrofe para humanidade e muito menos para as multinacionais envolvidas na prova. Quem mais perde é de facto o turismo da Mauritânia e o senegalês, coincidência ou não, o país que bateu o pé aos acordos de parceria económica que a União Europeia tentou impor na Cimeira UE/África. Mas sobre este episódio importa registar alguns factos. O primeiro é que por mais que o negue, a decisão do cancelamento do Rali foi exclusivamente do governo francês. Decisão coordenada com a multinacional petrolífera Total, um dos principais patrocinadores que imediatamente se retirou da prova. Total, uma das petrolíferas envolvidas nos processos imperialistas franceses relativamente ao Magrebe e à bacia do mediterrâneo e que, conjuntamente com as multinacionais norte-americanas, estão na origem de processos de desestabilização no continente africano, de medidas como o estabelecimento do AFRICOM, o comando militar norte-americano para África ou das missões militares europeias no continente. O segundo é que é por demais evidente que a dita ameaça terrorista foi um pretexto para o cancelamento da prova. Facto bem evidente se tivermos em conta a história do próprio Rally (já noutras edições o mesmo aconteceu e o resultado foram alterações de traçado) e sobretudo as declarações do Ministro do Turismo Senegalês que tentava, em Lisboa e sem sucesso, fazer ouvir as opiniões do seu governo de que as condições mínimas de segurança estavam garantidas. O terceiro facto, porventura o mais importante, é o caldo de histeria securitária que este episódio evidencia e que permite que um simples telefonema, cuja origem poderemos nunca vir a conhecer, sirva para cancelar um evento da dimensão do Rally Lisboa-Dakar. Pode ser que o ano que agora se inicia nos elucide mais sobre as reais razões deste episódio mas é caso já para dizer: as multinacionais que suportam o Rally e o governo de Sarkozy estão «muito aborrecidos» por não poderem passear os seus TT’s por África por causa da desestabilização e insegurança que eles próprios criam no continente…