West Coast
«Como pode uma marca que é a 23.ª do mercado, que tem fraca e até má reputação, pobres argumentos, baixo preço e uma desmotivada força de vendas, dar a volta por cima e criar um grande impacto no mercado?»
A pergunta não é de retórica. Consta da apresentação da campanha concebida pela respeitável empresa a quem o Governo entregou a tarefa de congeminar a melhor forma de «vender» Portugal no exterior. Os criativos deitaram mãos à obra, analisaram o «produto» e constataram o óbvio: Portugal tem má fama, nada o distingue dos seus mais próximos congéneres europeus e, desgraça das desgraças, tem o azar de ser visto «como um país do Sul», logo associado a «subdesenvolvimento», «iliteracia», «corrupção», «miséria».
Numa palavra, somos os marroquinos de cima.
Chegados a tão preocupante diagnóstico, os criativos pensaram – e bem – que para resolver o imbróglio seria necessária muita imaginação. Não sendo governantes, que é como quem diz não dispondo dos meios para melhorar efectivamente o «produto» na sua essência, havia pelo menos que dourar a pílula, porque se nem tudo o que luz é ouro há que convir que um dourado, mesmo de latão, ajuda muito a encandear os papalvos, salvo seja, os turistas.
Vai daí que os criativos pensaram, pensaram, deram a volta ao «produto», viram-no do avesso, de pernas para o ar – isto é evidentemente um suponhamos – até que encontraram o «ovo de Colombo», a saber: Portugal não é apenas um país do Sul. É também um país ocidental!
E mais ainda: ao que consta e até prova em contrário, é justamente aqui, em Portugal, que Camões descreveu (in Lusíadas) como sendo «Donde a terra se acaba e o mar começa», que se situa o ponto mais ocidental do continente europeu, o Cabo da Roca.
Estava resolvido o problema. Os criativos tinham acabado de inventar a Europe’s West Coast, substituindo de uma penado o Sul e as conotações terceiro-mundistas por um imaginário ocidental, rico e desenvolvido.
O Governo, estamos em crer, adorou, adorou, adorou o «Portugal/ Europe’s West Coast» e só um inexplicável e incompreensível pudor de última hora terá impedido que abraçasse a campanha em toda a sua plenitude, cuja incluía um «evento» que haveria de chamar a atenção dos média internacionais: a mudança da bandeira, com o vermelho e o verde terceiro-mundistas a dar lugar ao azul europeu. A ideia não pegou, apesar dos criativos terem demonstrado factualmente que a bandeira nacional mudou uma data de vezes ao longo na nossa História, as mais das vezes sem justificações de monta.
O Governo não foi tão longe, receoso talvez das ingratas manifestações de incompreensão, que nos últimos tempos deram em crescer como cogumelos nesta moderna Europe’s West Coast que «os bons portugueses» andam a vender no estrangeiro. Já basta que ninguém perceba a política de emprego, a política de saúde, a política de habitação, a política de desenvolvimento, a política de... que sendo tão boas só geram descontentamento.
Mas não desesperemos. À custa de tanto mudar de moscas, perdão, de imagem, o País também há-de mudar. Casos destes, pensará Sócrates, há que tabaqueá-los. Apesar da ASAE.
A pergunta não é de retórica. Consta da apresentação da campanha concebida pela respeitável empresa a quem o Governo entregou a tarefa de congeminar a melhor forma de «vender» Portugal no exterior. Os criativos deitaram mãos à obra, analisaram o «produto» e constataram o óbvio: Portugal tem má fama, nada o distingue dos seus mais próximos congéneres europeus e, desgraça das desgraças, tem o azar de ser visto «como um país do Sul», logo associado a «subdesenvolvimento», «iliteracia», «corrupção», «miséria».
Numa palavra, somos os marroquinos de cima.
Chegados a tão preocupante diagnóstico, os criativos pensaram – e bem – que para resolver o imbróglio seria necessária muita imaginação. Não sendo governantes, que é como quem diz não dispondo dos meios para melhorar efectivamente o «produto» na sua essência, havia pelo menos que dourar a pílula, porque se nem tudo o que luz é ouro há que convir que um dourado, mesmo de latão, ajuda muito a encandear os papalvos, salvo seja, os turistas.
Vai daí que os criativos pensaram, pensaram, deram a volta ao «produto», viram-no do avesso, de pernas para o ar – isto é evidentemente um suponhamos – até que encontraram o «ovo de Colombo», a saber: Portugal não é apenas um país do Sul. É também um país ocidental!
E mais ainda: ao que consta e até prova em contrário, é justamente aqui, em Portugal, que Camões descreveu (in Lusíadas) como sendo «Donde a terra se acaba e o mar começa», que se situa o ponto mais ocidental do continente europeu, o Cabo da Roca.
Estava resolvido o problema. Os criativos tinham acabado de inventar a Europe’s West Coast, substituindo de uma penado o Sul e as conotações terceiro-mundistas por um imaginário ocidental, rico e desenvolvido.
O Governo, estamos em crer, adorou, adorou, adorou o «Portugal/ Europe’s West Coast» e só um inexplicável e incompreensível pudor de última hora terá impedido que abraçasse a campanha em toda a sua plenitude, cuja incluía um «evento» que haveria de chamar a atenção dos média internacionais: a mudança da bandeira, com o vermelho e o verde terceiro-mundistas a dar lugar ao azul europeu. A ideia não pegou, apesar dos criativos terem demonstrado factualmente que a bandeira nacional mudou uma data de vezes ao longo na nossa História, as mais das vezes sem justificações de monta.
O Governo não foi tão longe, receoso talvez das ingratas manifestações de incompreensão, que nos últimos tempos deram em crescer como cogumelos nesta moderna Europe’s West Coast que «os bons portugueses» andam a vender no estrangeiro. Já basta que ninguém perceba a política de emprego, a política de saúde, a política de habitação, a política de desenvolvimento, a política de... que sendo tão boas só geram descontentamento.
Mas não desesperemos. À custa de tanto mudar de moscas, perdão, de imagem, o País também há-de mudar. Casos destes, pensará Sócrates, há que tabaqueá-los. Apesar da ASAE.