À falta de argumentos

PS descamba para o anticomunismo

A marcar a interpelação esteve também a forma como o Governo e o PS resvalaram para o ataque torpe e insidioso, numa expressão do mais primário anticomunismo, trazendo ao de cima, afinal, a própria fragilidade dos seus argumentos e a incapacidade de se defender de forma consistente das acusações de que foram alvo.
Eis dois exemplos desse comportamento pouco edificante. Um foi protagonizado pelo ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva, quando este numa alusão indirecta à presença de uma jornalista do Avante! na direcção do Sindicato dos Jornalistas concluiu pela existência de um alegado «conflito de interesses», referindo ter «dúvidas sobre a concepção da liberdade sindical e de imprensa do PCP».
Bernardino Soares, invocando a defesa da honra da bancada a que preside, ripostou de imediato para afirmar que a intervenção do ministro é um exemplo ilustrador da postura do Governo em relação à liberdade de imprensa e à liberdade de associação e de exercício dos direitos sindicais. «Porventura o Governo gostaria que existisse um index onde os nomes que dele constassem não pudessem ser eleitos para determinados cargos. Mas para desgraça do ministro e do PS, mesmo sendo a jornalista em causa membro da redacção do Avante!, mereceu a confiança da classe que a elegeu para a direcção do Sindicato dos Jornalistas», enfatizou o líder parlamentar comunista, prosseguindo: «O Ministro e o PS não convivem bem com este exercício da liberdade democrática que os jornalistas tiveram que foi elegerem uma direcção que, para além de outras coisas, também tem um membro que por acaso é militante comunista».
E concluiu: «Isso incomoda muito o Governo do PS, mas pelos vistos e bem não incomodou nada os jornalistas que elegeram a direcção deste sindicato».

Alarvidades e insultos

Outro ataque soez ao PCP foi veiculado pelo deputado socialista Ricardo Rodrigues em intervenção onde pôs em causa a legitimidade dos comunistas para denunciarem a violação dos direitos democráticos. «Quantos militantes e deputados do PCP é que já foram expulsos?» afirmou, a despropósito, aludindo à vida interna do colectivo comunista e suas legítimas decisões.
A profissão de fé anticomunista foi tal que chegou a questionar a bancada do PCP sobre uma eventual próxima expulsão do ex-secretário-geral comunista Carlos Carvalhas.
A indignação do Grupo comunista não se fez esperar, com Bernardino Soares, na sua intervenção de encerramento, a acusar o PS de «anticomunismo primário» e de ingerência na vida interna do PCP.
O líder parlamentar comunista classificou ainda as afirmações do deputado socialista de «alarvidades e insultos» e considerou que a intervenção do PS poderia ter sido feita «pela extrema-direita».
Após a reacção de repúdio do presidente da bancada do PCP, Ricardo Rodrigues pediu de novo a palavra para dizer que cometera «um lapsus linguae» e se enganara. «Nunca quis dizer Carlos Carvalhas mas sim Carvalho da Silva», afirmou, sem aparente incómodo pela boçalidade do seu infeliz desempenho.


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